As férias têm uma coisa boa que eu considero fundamental, o descanso.
E claro que nada melhor durante o descanso das férias para andar à roda dos aviões, e porque não, rever escritos de outros tempos, sobretudo de tempos em que a pena nos rolava bem melhor por entre os dedos, e se movimentava com alguma graça por entre as folhas de papel (modéstia aparte, claro está!).
Encontrei este texto, que já podemos quase considerar um clássico, agora que já volvidos quase 10 anos desde a retirada do A-7P da FAP… algo que recordamos com a mágoa própria das despedidas e da saudade ...
Aqui vai então este escrito antigo, para gaudio, ou não, da mole humana que dá vida a este conjunto organizado de electrões, protagonizado sobretudo por movimentos de lacunas e outros estranhos electrónicos seres da electrónica. …
Pôr do Sol em Monte Real.
Não fui piloto ou mecânico, mas tive a oportunidade e o privilégio de viver muito de perto o dia a dia de uma esquadra de voo da Força Aérea Portuguesa, as suas alegrias e desencantos, pelo que sinto um aperto no peito na hora da despedida.
O pouco que convivi com a família de homens e mulheres que trabalham com o LTV A-7P Corsair II, deixa-me o mesmo sabor amargo na boca que qualquer um deles sente agora que chegou o fim.
Esta aeronave que tanto representou para a FAP, em termos de desenvolvimento tecnológico, no salto que significou em termos profissionais e operacionais, mudanças de mentalidades e métodos, e que trouxe também algumas tristezas, tudo isto devemos ter presente se queremos que o passo seguinte seja mais firme.
Agora que se queimam os últimos litros de “jota”, parece que o velho Corsário não quer ser apartado, e os últimos aparelhos ainda vão “voando um ar de sua graça”. Naturalmente com um número cada vez mais reduzido de homens e de máquinas, voltaram por pouco tempo a reerguer-se em operacionalidade aquando do recente envolvimento da FAP nas forças aliadas nas operações aéreas na ex-Jugoslávia, lá foram os A-7P patrulhando de novo os lusitanos céus, rendendo um pouco a sua própria rendição, o F-16.
Vou deixar de ver a inconfundível coluna de fumo que arrasta à sua passagem, o seu cheiro e som inigualáveis, as suas linhas simples mas práticas, de um tipo de aspecto estranho, talvez atarracado, mas nunca feio. O fim é certo, e tem hora marcada.
Pelo que foi à hora marcada, que o A-7 deu o último bater de asas, no passado dia 10 de Julho de 1999, em Monte Real. A base e a única esquadra ainda operacional, engalanaram-se para receber os convidados. No alvorecer desse dia juntou-se uma entusiástica camarilha de gente cujo objectivo era o pôr do sol, o pôr do sol sobre a vida operacional do A-7P. Pilotos e técnicos das diversas áreas, que ao longo de quase 20 anos, formaram uma equipe ímpar, e voaram, ou fizeram voar, o SLUF no cumprimento das suas missões, e até muito mais além disso como é apanágio das lusitanas gentes e do pessoal da FAP em especial.
Longe de outros tempos que uniam os homens pelas agruras da guerra, mas de igual modo unidos, conviveram, lembraram histórias, choraram amigos, recordaram uma vida, as suas vidas, e as máquinas. A festa seguiu junto à torre, perto das máquinas, sentiu-se pela última vez o gritar dos motores, o ribombar da descolagem, o deslizar pelos céus. A festa foi também à volta da mesa, não fossemos nós Portugueses, e prolongou-se a festa, com música, jogos e mais alegria, pela tarde adiante, até ao pôr do sol.
À saída vi olhos rubros das lágrimas escondidas de muitos meninos que na tropa se fizeram homens, pelas lembranças que à memória vieram neste voltar a casa. Vi espelhado nos seus rostos o orgulho de quem se honra de ser ou ter sido militar na Força Aérea Portuguesa, e o carinho que nunca deixarão de sentir pelo A-7.
Uma palavra de apreço por todos esses militares, no activo ou na disponibilidade, pelo trabalho feito, pelo que deram de si, por todos nós, mais do que isso, de certa forma uma homenagem aos homens e máquinas, pelo seu empenho e disponibilidade, que ficaram gravados numa homenagem, em forma de livro, a perpetuar este bocadinho da história, um projecto da Esquadra 304 “Os Magnificos”, pela mão do então Maj. Rui Elvas.
_______________________________________________________________E claro que nada melhor durante o descanso das férias para andar à roda dos aviões, e porque não, rever escritos de outros tempos, sobretudo de tempos em que a pena nos rolava bem melhor por entre os dedos, e se movimentava com alguma graça por entre as folhas de papel (modéstia aparte, claro está!).
Encontrei este texto, que já podemos quase considerar um clássico, agora que já volvidos quase 10 anos desde a retirada do A-7P da FAP… algo que recordamos com a mágoa própria das despedidas e da saudade ...
Aqui vai então este escrito antigo, para gaudio, ou não, da mole humana que dá vida a este conjunto organizado de electrões, protagonizado sobretudo por movimentos de lacunas e outros estranhos electrónicos seres da electrónica. …
Pôr do Sol em Monte Real.
Não fui piloto ou mecânico, mas tive a oportunidade e o privilégio de viver muito de perto o dia a dia de uma esquadra de voo da Força Aérea Portuguesa, as suas alegrias e desencantos, pelo que sinto um aperto no peito na hora da despedida.
O pouco que convivi com a família de homens e mulheres que trabalham com o LTV A-7P Corsair II, deixa-me o mesmo sabor amargo na boca que qualquer um deles sente agora que chegou o fim.
Esta aeronave que tanto representou para a FAP, em termos de desenvolvimento tecnológico, no salto que significou em termos profissionais e operacionais, mudanças de mentalidades e métodos, e que trouxe também algumas tristezas, tudo isto devemos ter presente se queremos que o passo seguinte seja mais firme.
Agora que se queimam os últimos litros de “jota”, parece que o velho Corsário não quer ser apartado, e os últimos aparelhos ainda vão “voando um ar de sua graça”. Naturalmente com um número cada vez mais reduzido de homens e de máquinas, voltaram por pouco tempo a reerguer-se em operacionalidade aquando do recente envolvimento da FAP nas forças aliadas nas operações aéreas na ex-Jugoslávia, lá foram os A-7P patrulhando de novo os lusitanos céus, rendendo um pouco a sua própria rendição, o F-16.
Vou deixar de ver a inconfundível coluna de fumo que arrasta à sua passagem, o seu cheiro e som inigualáveis, as suas linhas simples mas práticas, de um tipo de aspecto estranho, talvez atarracado, mas nunca feio. O fim é certo, e tem hora marcada.
Pelo que foi à hora marcada, que o A-7 deu o último bater de asas, no passado dia 10 de Julho de 1999, em Monte Real. A base e a única esquadra ainda operacional, engalanaram-se para receber os convidados. No alvorecer desse dia juntou-se uma entusiástica camarilha de gente cujo objectivo era o pôr do sol, o pôr do sol sobre a vida operacional do A-7P. Pilotos e técnicos das diversas áreas, que ao longo de quase 20 anos, formaram uma equipe ímpar, e voaram, ou fizeram voar, o SLUF no cumprimento das suas missões, e até muito mais além disso como é apanágio das lusitanas gentes e do pessoal da FAP em especial.
Longe de outros tempos que uniam os homens pelas agruras da guerra, mas de igual modo unidos, conviveram, lembraram histórias, choraram amigos, recordaram uma vida, as suas vidas, e as máquinas. A festa seguiu junto à torre, perto das máquinas, sentiu-se pela última vez o gritar dos motores, o ribombar da descolagem, o deslizar pelos céus. A festa foi também à volta da mesa, não fossemos nós Portugueses, e prolongou-se a festa, com música, jogos e mais alegria, pela tarde adiante, até ao pôr do sol.
À saída vi olhos rubros das lágrimas escondidas de muitos meninos que na tropa se fizeram homens, pelas lembranças que à memória vieram neste voltar a casa. Vi espelhado nos seus rostos o orgulho de quem se honra de ser ou ter sido militar na Força Aérea Portuguesa, e o carinho que nunca deixarão de sentir pelo A-7.
Uma palavra de apreço por todos esses militares, no activo ou na disponibilidade, pelo trabalho feito, pelo que deram de si, por todos nós, mais do que isso, de certa forma uma homenagem aos homens e máquinas, pelo seu empenho e disponibilidade, que ficaram gravados numa homenagem, em forma de livro, a perpetuar este bocadinho da história, um projecto da Esquadra 304 “Os Magnificos”, pela mão do então Maj. Rui Elvas.
Rui A-7
Entusiasta de aviação