As comemorações dos 50 anos da Base Aérea nº5 de Monte Real tiveram ontem, muito provavelmente, o seu ponto alto, sobretudo no que diz respeito à sua vertente social e de ligação com o seu espaço exterior, de modo ainda particular com os
Spotter's e entusiastas em geral. Era o
Spotter's Day ansiado por dezenas de entusiastas de câmaras fotográficas em riste
Pelas 11h da manhã, uma vintena de caças F-16 - 18 portugueses (12 da Esquadra 301 e 6 da Esquadra 201) e 2 belgas, num exercício COMAO (
Combined Air Operations) começaram a "rasgar" os céus e Monte Real como o rugido dos seus potentes motores, num claro desafio ao anunciado "mau humor" de S. Pedro, o anti-herói do Estio.
Os intrépidos caças partiram para o cumprimento de múltiplas missões e antes e depois disso, deram-se a mostrar às dezenas de
Spotter's que se alinhavam, qual linha da frente de uma placa, bem como às centenas de entusiastas um pouco mais afastados de temperatura dos reactores.
Os
Spotter's, de objectivas apontadas aos caças, desafiavam assim a superioridade dos aparelhos, disparando certeira e metodicamente milhares de fotos à ordem de dezenas por segundo.
Enquanto isto, dava-se o
scramble da parelha QRA (Quick Reaction Alert) que, em 15 minutos, provou a sua prontidão, descolando na pista 01, com um forte vento de cauda vindo de Sudoeste, em sentido contrário às operações das restantes aeronaves que operavam na pista 19.
Ao mesmo tempo e quase sem tempo para respirar ou descansar os botões de disparo das máquinas, surgem no
taxiway duas das principais vedetas do dia, nada mais nada menos que um A-7E e um TA-7C da Força Aérea Helénica.
Esta parelha SLUF (
Short Little Ugly Fellow) fez a Base de Monte Real recuar cerca de 20 anos, altura em que os A-7P
Corsair II dominavam os seus espaços, sons e cheiros. Pena foi que os A-7 gregos não tenham podido voar, numa improvável conjugação de péssimas condições meteorológicas e insanáveis problemas técnicos numa das aeronaves.
Entretanto, enquanto os 20 aparelhos da COMAO regressavam, rapando a pista e posando para as objectivas, como se o céu, a pista e o
taxiway fossem uma
Passerelle gigante, um
Boeing E-3
Sentry sobrevoou a base de Monte Real, mostrando o seu característico radar colocado sobre a fuselagem. Por cima dele, o céu começava a fechar-se, adensando o aludido "mau humor" de S. Pedro, que viria a culminar, mais tarde, no cancelamento de quase toda a actividade aérea prevista para depois da pausa do almoço.
Algumas das aeronaves da COMAO, estacionaram na zona da Torre de Controle para integrarem uma
static display, a que se juntaram, enquanto tudo isto acontecia, dois aparelhos F-18 espanhóis que, juntamente com os A-7 gregos; os Alfa Jet dos Asas de Portugal; uma parelha de F-16MLU portugueses e a parelha belga, completaram o lote exposto. Esta exposição suscitou, muito evidentemente, o interesse a todos os visitantes e, uma vez mais, a atracção das objectivas "nervosas" dos
Spotter's.
Como já se disse, devido ao descambar das condições atmosféricas, Rotores e Asas de Portugal, bem como outras operações aéreas equacionadas para a tarde, tiveram de ser anuladas devido às fortes chuvadas e ao vento forte que se abateram sobre o pinhal da Serra de Porto d'Urso.
Apenas o helicóptero Lynx da Marinha de Guerra Portuguesa enfrentou o azedume do tempo, arrancando uma exibição notável, reveladora da enorme versatilidade deste meio aéreo, ainda que condicionada pelas condições atmosféricas.
Ainda assim e já depois das 17 horas e numa nesga de trégua que a chuva permitiu, outro ponto alto do dia ocorreu. Aos comandos do F-16A s/n 15115, o Ten Cor PILAV Eugénio "
Harpoon" Rocha, comandante da Esquadra 201 - Falcões, arrancou os aplausos da assistência quando, numa primeira fase, rolou junto dos espectadores resistentes e dos
Spotter's e depois, descolou pujante para algumas manobras de superioridade aérea em que, em ambos os momentos, revelou o seu "peso histórico" através da sua pintura comemorativa dos 50 anos da BA5, com destaque óbvio para o desenho da silhueta de um F-86 sabre sobre o seu dorso.
Por duas ocasiões, o "Voo do Sabre" efectuou duas monumentais rapadas à pista da Base Aérea, em
full afterburner, como que "fazendo a barba" ao cimento.
O dia integrou ainda uma exposição estática de aeronaves, que ficará patente e acessível ao público até ao próximo domingo, situada junto da Porta d'Armas, com óbvio destaque para todas as aeronaves que, ao longo do meio século da BA5, fizeram ecoar o som dos seus jactos pelos céus de Monte Real, F-86, T-33, Fiat G-91, T-38, A-7P e F-16 e culminadas num monumento a inaugurar em Outubro, onde um F-16 com a matrícula 15150 assinala os 50 anos da mais importante estrutura aérea militar nacional!
Num dia de emoções várias, entrecortadas pelos destemperos do tempo meteorológico ,restou o registo assumido da importância e do peso histórico da BA5, construído a granjeado ao longo de meio século, escrito e voado por várias gerações de aviões e respectivas tripulações e técnicos, vencendo as agruras e dificuldades do caminho (o céu não é liso e é tão vasto...), os sobressaltos políticos, os avanços da técnica, o início e o fim da operação dos seus meios aéreos, sublinhando com a bravura e a perspicácia do Falcão que lhe dá corpo, o mote "
Alcança quem não cansa!"