Pássaro de um sonho
Os Pássaros de Ferro são sempre e também Pássaros de Sonho, porque alguém um dia teve uma visão efémera de um bater de asas, que foi passado a papel, depois moldado à mão ou à máquina, feito de materiais diversos, construído como tudo o resto que é feito de sangue, suor e lágrimas, engenho, arte, determinação e, arrisco a dizer, um ingrediente adicional, mágico, a que alguém se referiu como “5º Elemento”, aquele que liga os elementos Terra, Água, Ar, e Fogo, - o Amor.
O sonho, a vontade e o artista.
Os Pássaros de Ferro são sempre e também Pássaros de Sonho, porque alguém um dia teve uma visão efémera de um bater de asas, que foi passado a papel, depois moldado à mão ou à máquina, feito de materiais diversos, construído como tudo o resto que é feito de sangue, suor e lágrimas, engenho, arte, determinação e, arrisco a dizer, um ingrediente adicional, mágico, a que alguém se referiu como “5º Elemento”, aquele que liga os elementos Terra, Água, Ar, e Fogo, - o Amor.
O sonho, a vontade e o artista.
Aristides Silvério Vieira Pires, é o nome do nosso Dédalo, e o seu Pássaro de Ferro é o único exemplar de um Taylor Monoplane, existente em Portugal.
Sócio Fundador do Aero Clube da Ilha Terceira, é um fervoroso entusiasta de aviação, e foi, como adiante veremos, um dos pioneiros da aviação experimental nacional.
Nasceu a 20 de Junho de 1944, na cidade da Horta, ilha do Faial, tendo-se mudado para a ilha Terceira com 10 anos de idade.
Ainda na primária, recorda, ter despertado o seu interesse pela “cousa do ar”, mas foi no Liceu que aprofundou um pouco mais, quando se iniciou na prática de aeromodelismo.
Vivendo numa ilha onde a FAP tem uma presença muito importante na vida das pessoas, fácil será de adivinhar que se ofereceu como voluntário, frequentando o Curso de Oficial Miliciano Piloto-Aviador, em 1964, altura em que se inicia o curso P2/64 “Moscardos”, em S. Jacinto, em Aveiro.
Porém, não estava destinado a ser esse o seu percurso de vida e, não tendo conseguido os seus intentos, vai para a Base Aérea da Ota, onde frequenta o curso de Circulação Aérea. Concluído o curso é colocado na Base Aérea das Lajes, onde permaneceu até 1967, altura em que foi colocado em Comissão de Serviço, em Luanda.
É aí que desenvolve um pouco mais o seu interesse pela aviação, no Aero Clube de Angola (Luanda), onde obtém a sua Licença de Piloto Particular de Aeronaves, e de Piloto Comercial, embora nunca tenha chegado a voar nessa qualidade. Durante este período, desenvolve também alguma actividade como aeromodelista, chegando a construir e voar um hidroplanador ligeiro em escala real, um Aqua Glider, baptizado “Açor”, com o qual efectuou dois voos.
Em 1975 veio para Lisboa, integrando os quadros da TAP, como delegado comercial, mantendo o seu contacto com a aviação amadora através do Aero Clube de Portugal, onde desenvolveu também o seu interesse pela construção amadora.
E é no seguimento deste seu crescente entusiasmo pela construção amadora, que decide pôr mãos á obra, e construir com as suas próprias mãos um avião. Depois de algum estudo, a escolha recai no Taylor Monoplane, pela sua facilidade de construção e acessibilidade económica, para o qual adquire os planos de construção.
Sócio Fundador do Aero Clube da Ilha Terceira, é um fervoroso entusiasta de aviação, e foi, como adiante veremos, um dos pioneiros da aviação experimental nacional.
Nasceu a 20 de Junho de 1944, na cidade da Horta, ilha do Faial, tendo-se mudado para a ilha Terceira com 10 anos de idade.
Ainda na primária, recorda, ter despertado o seu interesse pela “cousa do ar”, mas foi no Liceu que aprofundou um pouco mais, quando se iniciou na prática de aeromodelismo.
Vivendo numa ilha onde a FAP tem uma presença muito importante na vida das pessoas, fácil será de adivinhar que se ofereceu como voluntário, frequentando o Curso de Oficial Miliciano Piloto-Aviador, em 1964, altura em que se inicia o curso P2/64 “Moscardos”, em S. Jacinto, em Aveiro.
Porém, não estava destinado a ser esse o seu percurso de vida e, não tendo conseguido os seus intentos, vai para a Base Aérea da Ota, onde frequenta o curso de Circulação Aérea. Concluído o curso é colocado na Base Aérea das Lajes, onde permaneceu até 1967, altura em que foi colocado em Comissão de Serviço, em Luanda.
É aí que desenvolve um pouco mais o seu interesse pela aviação, no Aero Clube de Angola (Luanda), onde obtém a sua Licença de Piloto Particular de Aeronaves, e de Piloto Comercial, embora nunca tenha chegado a voar nessa qualidade. Durante este período, desenvolve também alguma actividade como aeromodelista, chegando a construir e voar um hidroplanador ligeiro em escala real, um Aqua Glider, baptizado “Açor”, com o qual efectuou dois voos.
Em 1975 veio para Lisboa, integrando os quadros da TAP, como delegado comercial, mantendo o seu contacto com a aviação amadora através do Aero Clube de Portugal, onde desenvolveu também o seu interesse pela construção amadora.
E é no seguimento deste seu crescente entusiasmo pela construção amadora, que decide pôr mãos á obra, e construir com as suas próprias mãos um avião. Depois de algum estudo, a escolha recai no Taylor Monoplane, pela sua facilidade de construção e acessibilidade económica, para o qual adquire os planos de construção.
O Monoplano Taylor, é um aparelho de construção amadora concebido por John Taylor (UK) em
1956, cujo protótipo voou pela primeira vez em 1959. Foi o primeiro aparelho de construção
amadora desenvolvido no Reino Unido após a 2ª GG, e que deriva de um conceito para a construção
de um avião de dimensões reduzidas, de baixo custo de construção e de construção simples e em
espaços reduzidos. O seu design incorpora uma motorização também ela de dimensão reduzida
e pouca potência de motor, como foi o caso do primeiro protótipo, com um motor JAP-99 de dois
cilindros e apenas 1200cc de potência.
Em 1979 iniciou a construção do Taylor Monoplane em sua casa, em Angra do Heroísmo, para onde entretanto tinha sido transferido. Numa pequena oficina que criou para o efeito numa divisão de sua casa, foram convergindo e ganhando forma os diferentes materiais, e partes (trens e instrumentos), que foram sendo adquiridos a diversas empresas especializadas, nos EUA, Canadá e Reino Unido; sendo certo que alguns dos trabalhos mais especializados foram executados nas oficinas da TAP, como foi o caso das soldaduras e ensaio de materiais.
Com a fuselagem pronta, adquiriu o motor, um VolksWagen de 1600cc ( 50HP, 3200 rpm), com transformação HAPI, motor que à altura estava em voga para este tipo de aparelhos, e que equipa muitos destes.
Todo o trabalho, desde o seu início, foi sendo acompanhado pelo INAC (então DGAC), que certificou desde o local de construção e as suas condições, aos materiais a aplicar, e as diferentes fases da construção.
Em 1980, o acumular de horas de trabalho na construção do avião, por pouco não eram reduzidas a escombros quando um violento sismo fez sacudir a região. Nessa altura foi forçado a mudar de casa, o que atrasou um pouco o progresso do trabalho.
Com a fuselagem pronta, adquiriu o motor, um VolksWagen de 1600cc ( 50HP, 3200 rpm), com transformação HAPI, motor que à altura estava em voga para este tipo de aparelhos, e que equipa muitos destes.
Todo o trabalho, desde o seu início, foi sendo acompanhado pelo INAC (então DGAC), que certificou desde o local de construção e as suas condições, aos materiais a aplicar, e as diferentes fases da construção.
Em 1980, o acumular de horas de trabalho na construção do avião, por pouco não eram reduzidas a escombros quando um violento sismo fez sacudir a região. Nessa altura foi forçado a mudar de casa, o que atrasou um pouco o progresso do trabalho.
O primeiro bater de asas
Quinze anos e 3200 horas de trabalho depois, e após todos os processos de certificação da aeronave, o primeiro voo tem lugar a 15 de Janeiro de 1994.
Com uma autorização especial para que pudesse operar a partir da Base das Lajes, o primeiro voo seguiu-se aos testes de rolagem no solo. Quando executava o teste de rolagem a grande velocidade, quase como se vontade própria tivesse, o “Moscardo” elevou-se aos céus a uma velocidade de 80mph, a uma razão de subida de 750 pés/minuto.
Efectuou um voo de 35 minutos, a 1200 pés, em que testou a sua capacidade de manobra, inclusive uma subida a 2000 pés com perda sem motor.
O “Moscardo” (nome dado em homenagem aos seus companheiros do curso de pilotagem na FAP), revelou ser como um avião dócil, bastante estável nas voltas mas requerendo uma pilotagem de movimentos de pequena amplitude, com ligeiros toques de pressão no manche.
Este primeiro voo trouxe, como só poderemos imaginar, um dilúvio de sensações, sobretudo se pensarmos que o mesmo foi construído com as suas próprias mãos, desde o mais ínfimo pormenor, a partir dos materiais em bruto, com muito trabalho e empenho, e privações por certo, daí que não é difícil de compreender que, no meio de muita emoção, o Sr. Aristides descreva este voo como sendo literalmente «uma coisa do outro mundo ...».
O “Moscardo” ficou baseado nas Lajes, guardado no antigo hangar da US Navy, onde funcionou durante muitos anos a aerogare civil, mas em Julho de 1998, foi “colocado na rua”, assim como o único aparelho do Aero Clube da Ilha Terceira (ACIT), por imposição da DGAC. Acabou de ter de o guardar em casa, o Cessna do ACIT ficou exposto aos elementos, o que levou á sua consequente degradação.
Mais tarde, e com o apoio da FAP, nomeadamente do Comando Aéreo dos Açores e do Comando da Base Aérea nº4, passou a estar abrigado no espaço disponível nos hangares da base, entre Outubro de 1999 e Fevereiro de 2002, altura em que se dá a sua transferência para o local actual, o hangar do ACIT, de onde actualmente opera.
De entre os muitos voos que lhe seguiram, alguns são marcados pela habitual e rotineira repetição e outros, diferentes, pela sua singularidade, enunciamos apenas os mais significativos.
No dia 2 de Junho de 1996, e depois de algum planeamento, o “Moscardo” efectua a sua primeira viagem para fora da ilha Terceira, com um voo à ilha Graciosa, com a duração de 65 minutos à ida e 55 minutos no regresso. Foi este o primeiro voo inter-insular feito por um açoriano num avião experimental construído nos Açores! Quem disse que já não há bravos pioneiros da aviação nacional?
A 15 de Maio de 1999, um outro voo histórico, a denominada 1ª Volta Aérea ao Grupo Central dos Açores, reúne três aeronaves ligeiras: o Cessna 172 do Aero Clube da Ilha Terceira, o Rans Coyote II do Sr. Jacinto Sequeira, e o Taylor Monoplane do Sr. Aristides Pires. Ligando num só dia cinco das nove ilhas açorianas, partiu da Terceira escalando a Graciosa, o Pico, a Faial (Horta), S. Jorge, regressando à Base das Lajes.
O “Moscardo”, não sendo um projecto de uma vida, é um projecto de um sonho, não um sonho de Ícaro, antes um sonho de um Dédalo, que sonhou e construiu as suas asas e voou, e voa, sempre que pode e os humores erráticos do Anticiclone o deixam.
Na data de mais um aniversário do primeiro voo, constitui-se este trabalho numa singela homenagem ao Sr. Aristides Pires, num motivo de orgulho para todos os Portugueses em geral, e para os Açorianos em particular, já que foi este foi o primeiro açoriano a fabricar e a voar um avião nos Açores!
Com uma autorização especial para que pudesse operar a partir da Base das Lajes, o primeiro voo seguiu-se aos testes de rolagem no solo. Quando executava o teste de rolagem a grande velocidade, quase como se vontade própria tivesse, o “Moscardo” elevou-se aos céus a uma velocidade de 80mph, a uma razão de subida de 750 pés/minuto.
Efectuou um voo de 35 minutos, a 1200 pés, em que testou a sua capacidade de manobra, inclusive uma subida a 2000 pés com perda sem motor.
O “Moscardo” (nome dado em homenagem aos seus companheiros do curso de pilotagem na FAP), revelou ser como um avião dócil, bastante estável nas voltas mas requerendo uma pilotagem de movimentos de pequena amplitude, com ligeiros toques de pressão no manche.
Este primeiro voo trouxe, como só poderemos imaginar, um dilúvio de sensações, sobretudo se pensarmos que o mesmo foi construído com as suas próprias mãos, desde o mais ínfimo pormenor, a partir dos materiais em bruto, com muito trabalho e empenho, e privações por certo, daí que não é difícil de compreender que, no meio de muita emoção, o Sr. Aristides descreva este voo como sendo literalmente «uma coisa do outro mundo ...».
O “Moscardo” ficou baseado nas Lajes, guardado no antigo hangar da US Navy, onde funcionou durante muitos anos a aerogare civil, mas em Julho de 1998, foi “colocado na rua”, assim como o único aparelho do Aero Clube da Ilha Terceira (ACIT), por imposição da DGAC. Acabou de ter de o guardar em casa, o Cessna do ACIT ficou exposto aos elementos, o que levou á sua consequente degradação.
Mais tarde, e com o apoio da FAP, nomeadamente do Comando Aéreo dos Açores e do Comando da Base Aérea nº4, passou a estar abrigado no espaço disponível nos hangares da base, entre Outubro de 1999 e Fevereiro de 2002, altura em que se dá a sua transferência para o local actual, o hangar do ACIT, de onde actualmente opera.
De entre os muitos voos que lhe seguiram, alguns são marcados pela habitual e rotineira repetição e outros, diferentes, pela sua singularidade, enunciamos apenas os mais significativos.
No dia 2 de Junho de 1996, e depois de algum planeamento, o “Moscardo” efectua a sua primeira viagem para fora da ilha Terceira, com um voo à ilha Graciosa, com a duração de 65 minutos à ida e 55 minutos no regresso. Foi este o primeiro voo inter-insular feito por um açoriano num avião experimental construído nos Açores! Quem disse que já não há bravos pioneiros da aviação nacional?
A 15 de Maio de 1999, um outro voo histórico, a denominada 1ª Volta Aérea ao Grupo Central dos Açores, reúne três aeronaves ligeiras: o Cessna 172 do Aero Clube da Ilha Terceira, o Rans Coyote II do Sr. Jacinto Sequeira, e o Taylor Monoplane do Sr. Aristides Pires. Ligando num só dia cinco das nove ilhas açorianas, partiu da Terceira escalando a Graciosa, o Pico, a Faial (Horta), S. Jorge, regressando à Base das Lajes.
O “Moscardo”, não sendo um projecto de uma vida, é um projecto de um sonho, não um sonho de Ícaro, antes um sonho de um Dédalo, que sonhou e construiu as suas asas e voou, e voa, sempre que pode e os humores erráticos do Anticiclone o deixam.
Na data de mais um aniversário do primeiro voo, constitui-se este trabalho numa singela homenagem ao Sr. Aristides Pires, num motivo de orgulho para todos os Portugueses em geral, e para os Açorianos em particular, já que foi este foi o primeiro açoriano a fabricar e a voar um avião nos Açores!
Conta actualmente com 210 Horas de Voo e 444 aterragens!
Texto: Rui "A-7" Ferreira
Fotos: Luís "Viper" Neves e Rui “A-7” Ferreira
Gostaria de aqui publicamente dizer que este trabalho ficou no prelo desde o dia em que disse que o iria fazer, fiquei-me pelas intenções e pelas palavras e também vontades. Mas não morreu em mim o compromisso de dar devida nota ao Mundo e arredores, deste pássaro que, nestas continentais paragens passa despercebido e esquecido, até mesmo porque a distância tem destas coisas. Mas o compromisso é um compromisso e, desta forma singela, e muito tardiamente, somos a publicar, com a chancela do Pássaro de Ferro, este apontamento.
Fica aqui a nossa homenagem, que resulta da reportagem realizada em Março de 2009, e também o nosso agradecimento ao Sr. Aristides Pires pela forma entusiástica com que nos recebeu e acedeu à reportagem.
Fica aqui a nossa homenagem, que resulta da reportagem realizada em Março de 2009, e também o nosso agradecimento ao Sr. Aristides Pires pela forma entusiástica com que nos recebeu e acedeu à reportagem.
Nota - em 17-01-2011 este artigo foi acrescentado e corrigido em alguns ponto com a ajuda do Sr Aristides Pires.
Outras imagens,
3 Comentários:
Magnífico relato e testemunho!
O "comando" do Pássaro de Ferro agradece!
Gostaria de acrescentar que o nosso amigo ARISTIDES e membro da EAA (Experimental Aircraft Association) desde 1979 e membro fundador do respectivo Chapter Portugues (Chpt.1297-Lusitanos) em 2001... Um abraco de longe...
Permitam-me aqui a transcrição da mensagem do Sr. Aristides a propósito deste trabalho,
«Caro Amigo Sr. Rui Ferreira
Em resposta à sua missiva informo que me recordo perfeitamente da sua visita ao ACIT e ao hangar .
Devido a obras cá em casa tenho estado com o computador inoperativo ,razão pela qual só hoje lhe respondo ás perguntas formuladas.
1- O Moscardo esteve no hangar da FAP na BA4 no período de Outubro de 1999 a Fevereiro de 2002 mês em que foi transferido para o hangar do Aero Clube.
2- Actualmente está com 210 horas voadas e 444 aterragens .
Acabo de ver o o email com o artigo sobre o Moscardo ,que muito agradeço . Gostava que no fim do artigo corrigisse o lapso no meu nome para Aristides Pires.
Ficando ao dispor para qualquer outro asunto envio os melhores cumprimentos e votos de um Bom Ano.
Um abraço
Aristides Silvério Vieira Pires»
Corrigido e acrescentado nesta data!
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