No Enterprise os números impressionam. Qualquer número. Começa por ser o maior porta-aviões do mundo com os seus imbatíveis 342 m de comprimento. Sendo que é sobejamente sabido que foi o primeiro porta-aviões nuclear a entrar em serviço, se nos dermos ao trabalho de pesquisar um pouco, descobrimos que é o vaso de guerra mais antigo ao serviço da Marinha dos EUA (se excluirmos a fragata do Séc. XVIII USS Constituition de interesse histórico), é o porta-aviões norte-americano há mais tempo em serviço de todos os tempos, entre outras curiosidades menores, como ser o primeiro porta-aviões nuclear a atravessar o Canal de Suez.
Pisar o Enterprise é, por isso, como saborear 50 anos da história mundial contemporânea.
Basta dizer que quando foi comissionado, a 25 de Novembro de 1961, John Kennedy era o presidente dos EUA (curiosamente o Enterprise assistiria anos depois ao comissionamento e abate do porta-aviões com o nome do malogrado presidente), os tops musicais estavam cheios de músicas de Elvis Preseley, Ray Charles e Roy Orbinson. Os Beatles e os Rolling Stones eram ilustres desconhecidos. Marilyn Monroe ainda era viva. O homem ainda sonhava em ir à Lua. Pequenos exemplos de acontecimentos e factos culturais que julgamos perdidos no tempo, mas que o Enterprise "presenciou".
Se seguirmos a história deste vaso de guerra, vemos que se cruza e confunde com a própria história da humanidade ao ter estado na crise dos mísseis de Cuba, no início e fim da guerra do Vietname, na Operação Eldorado Canyon na Líbia e em várias operações no Golfo Pérsico.
Ao longo dos anos e para melhoramentos, visto poder considerar-se um protótipo, o Enterprise sofreu várias remodelações, algumas apenas para reajustes tecnológicos, outras funcionais, outras ainda causadas por acidentes, como o incêndio de 1969 que quase incapacitava o navio.
A experiência recolhida com o Enterprise seria crucial para os porta-aviões da classe Nimitz que lhe sucederiam já na década de 70, incorporando todos os ensinamentos recolhidos num novo projecto. O Enterprise ficaria assim único e primeiro. Como diz a divisa do seu grupo de apoio: "second to none!"
Já em jeito de requiem, e porque se aproxima o seu abate ao serviço previsto para 2013, o Enterprise honrou a nobre linhagem de que descende, que se pode vislumbrar até antes da independência dos EUA no Séc. XVIII, quando foi lançado ao mar o primeiro navio com o nome "Enterprise" e não sem passar pelo seu antecessor directo, talvez o mais famoso navio da II Guerra Mundial.
O CVN-65, também conhecido como "Big E", passou em Lisboa em trânsito para o Médio Oriente, onde fará provavelmente a sua última comissão. Como os números sempre foram importantes no Enterprise, para o registo fica a sua carga de 36 F-18E/F Super Hornet, 22 F-18C/D Hornet, 4 EA-6B Prowler, 4 E-2C Hawkeye e 6 SH-60 Seahawk.
O Comandante do USS Enterprise Cap. Dee Mewbourne |
NOTA: Amanhã segunda parte da reportagem no USS Enterprise exclusivamente fotográfica.
1 Comentários:
Fantástica reportagem, fotos fabulosas .. só faltam mesmo os A-7 Corsair II (ainda lhes sentiste o cheiro...?, e os F-14 com o Jolly Rogers na cauda para ser perfeito!
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