A História tem, em si mesma, os próprios mecanismos de repetição. Os ciclos históricos escrevem a sua regra no caminho do tempo e por isso não espanta que determinados acontecimentos se repitam.
Ora no que que respeita ao que se está a passar na Líbia, temos um quadro complexo, assente em pressupostos que tiveram a sua génese na Túnisia, com o levantamento popular que destronou uma ditadura de décadas e depois alastrou ao Egipto, deixando também a sua marca de revolução que levou à queda de Mubarak.
Não seria, pois, de espantar que esta movimentação com raíz "popular" chegasse a uma das ditaduras mais duradouras e algo "consentidas" do continente africano.
O problema na questão líbia é o petróleo do senhor Kadafi.
Por mais malabarismos que a política internacional faça, com ou sem o aval da ONU, ou que os permeie com motivações humanitárias - dado Kadafi estar a atacar o seu próprio povo - é o petróleo que preocupa as nações, sobretudo as ocidentais, cujas economias assentam, justamente, sobre o petróleo e o acesso digamos "controlado" a ele.
Pode ser cruel e básico estabelecer tão simplesmente estas premissas para "legitimar os ataques", mas são elas, ou, sobretudo ele (petróleo) que o motivam.
E o mais sintomático é perceber que Kadafi sobreviveu sempre aos ataques de que já foi alvo, nomeadamente depois de Lockerbie, em 1986 em que os EUA atacaram o regime e, mais baixa menos baixa, Kadafi permaneceu intocável, exercendo a sua ditudura com um enorme beneplácito da comunidade internacional, estabelecendo até relações construtivas e "estranhamente" pacíficas e alinhadas com aqueles que nessa altura o atacaram e hoje o voltam a fazer.
Digamos que tudo assenta numa hipocrisia quase global, de parte a parte diga-se, só explicável nos meandros mais obscuros e menos politicamente correctos de que é feita grande parte da diplomacia, fundamentada no superior interesse das economias ocidentais e não só, movidas, repito, pelo poder do petróleo.
Seja como for e analisando esta investida do ponto de vista mais caro ao Pássaro de Ferro, temos que a história já se escreveu quando os aviões Panavia Tornado ingleses estabeleceram um novo máximo de distância para lançar um ataque a partir da base-mãe (cerca de 5 mil quilómetros), ou os caças franceses Rafale tenham feito a sua estreia em combate, abrindo as hostilidades.
Vamos esperar para ver a evolução da situação sendo que será de prever e desejar - conceda-se - que desta feita, Kadafi ceda perante a força internacional mas, sobretudo, pela força do seu próprio povo que, finalmente, estará a "abrir os olhos" perante o país e a vida que um ditador e "senhor" lhes construiu ao longo de décadas, sob as mais variadas vestes.
Nota: Este texto e a opinião nele expressa apenas vinculam o seu autor.