sábado, 9 de julho de 2011

Contributos para a história do FIAT G.91 T.3 FAP nr.1809 (M520 - 11RF/2011)



Há algum tempo atrás, mais concretamente em Agosto de 2010, foi publicado no Pássaro de Ferro, pela mão do António “A-7” Luís, mais um conjunto de imagens da colecção e autoria do Paulo Moreno, ilustrando a escala em Monte Real de uma formação de aviões Fiat G.91, no ano da graça de 1991.
Das imagens depreende-se a presença dos FIAT números 1801, 5442, 5459, 1809 e mais outros dois.
Nada fazia supor que um leitor do Walkarounds, o Paulo Alegria, viesse chamar a atenção para um pormenor que nos deixou intrigados.
Uma das fotos de pormenor do FIAT G.91 T.3 nº1809 apresenta pintado na fuselagem o logótipo da Esquadra 303 “Tigres” e ao lado, como é regra, um stenciling contendo, entre outros, o seu número de construtor, no caso: 91-2-0034. A dúvida que assiste o Paulo Alegria, é comum a muitos de nós, não só os que se interessam pelas intrincadas histórias tecidas no emaranhado novelo da numerologia dos aviões, como aqueles que, simplesmente, empreendem a tentativa de identificar/classificar as fotos que temos na nossa colecção, nomeadamente para saber a que avião elas pertencem, como é o caso. Para além disso, uma outra questão se pode colocar: o que fazia em Monte Real, no território continental portanto, um aparelho da Esquadra 303 “Tigres”, então baseada nos Açores?
Efectivamente e começando pela segunda, nada tem que espantar, voavam-se os últimos dias da frota Fiat G.91 (phase-out concluído em meados de 1993), e aqueles eram alguns dos restantes aparelhos operacionais. O 1809 tinha regressado dos Açores em 1984, da Esquadra 303 “Tigres” (1981-1989) onde tinha sido colocado em 1982. Era em 1991, um dos poucos bilugares usados para treino na Esquadra 301 “Jaguares” que, quem sabe se por cortesia e respeito pela esquadra congénere, também ela de felinas tradições, foi entendido manter-se o emblema da 303 neste aparelho. Quem sabe?!...
Consultado o autor das fotografias, o Paulo Moreno, este confirmou os números de cauda e também que era efectivamente o 1809 que ostentava o c/n 91-2-0034 pintado na fuselagem.
Até aí tudo bem. No entanto o Paulo Alegria, como eu, foi consultar a bibliografia que cada um tem em casa sobre o tema e de facto, o 1809 aparece em algumas publicações, quase todas se calhar, associado com o número de construtor 91-2-0033. Apenas o único livro nacional que possuo sobre o FIAT G.91, o livro dos 20 anos o Fiat da autoria dos “mestres”, Gen.PILAV Mimoso e Carvalho e do Eng. Luís Tavares, refere o número de construtor 91-2-0034, assim como também o faz, em diversas edições, o European Air Forces Directory, do Ian Carrol (Pub. Mach III) o que, me deixou com a proverbial pulga atrás da orelha.
Chateia daqui chateia dali, consegui mais algumas respostas.
Um prestável Stefan Goossens, da Dutch Aviation Society/Scramble, explica que o problema com 1809 vem desde a publicação de um trabalho sobre aviões alemães, em 1976, da autoria de Paul A. Jackson. Diz ele que, nesse livro, o FIAT G.91 T.3 nº 34+30 da West German AF, vem listado com o número de construtor 0033, quando o que sucede é que o número de construtor 0033 foi destruído em acidente em Pferdsfeld, a 21 de Junho de 1966. Reforçando ele que 34+30 foi sempre o 0034.
Por sua vez, a série de livros F40, dedicada à Força Aérea Alemã, da autoria do Sr. Siegfried Wache, na sua edição nº42 que reporta à frota FIAT G.91 T.3, lista todos os aparelhos produzidos e os seus destinos. Não estava a contar com outra coisa que não o esclarecimento das minhas próprias dúvidas, qual não é o meu espanto com o que por lá vejo. Por um lado a confirmação que o c/n 0033 foi efectivamente destruído em acidente em 1966, e que o c/n 0034 aparece sem relação com a FAP, tendo sido inclusivamente destruído (sucateado?). Mais ainda, o 1809 não aparece listado em parte nenhuma na sua relação com a FA Alemã...
Como diria o saudoso Fernando Pessa: E esta, hein?
Um pouco mais tarde surge então a reconfirmação pelo próprio Eng. Luís Tavares, que o 1809 é bem o c/n 91-2-0034 e exWGAF 34+30, informação aliás que remonta às pesquisas empreendidas para o livro dos 20 anos do FIAT, aqui referido, em co-autoria com o Gen. Mimoso e Carvalho.
Referiu ainda o Eng. Luís Tavares, que ouso reproduzir aqui em tom de curiosidade que «Os T/3 para a Luftwaffe foram 44 construídos pela FIAT em Turim, c/n 0001 a 0044 s/n BD+101 a BD+132 e outros, e depois pela Dornier, 22 aviões de 1971 a 1973 c/n 601 a 622 Luftwaffe 3401 a 3440...».
Ainda sem os esclarecimentos adicionais pedidos ao Sr. Siegfried Wache... arrisco a conclusão, se é que se pode almejar dizer tal coisa, que:
FIAT G.91 T.3
Nº Constructor – 91-2-0034 (FIAT)
West German AF nºs – BD+133, depois 34+30 da WS 50 (Esquadrão da Escola de Armas 50 / Waffenschule der Luftwaffe 50), depois LVR 6 (LwVersRgt 6, ou Luftwaffenversorgungsregiment - Unidade logística)
FAP – 1809 Esq. 62 (1974 – 1982), Esq.303 (1982-1984) Esq. 301 (1984-1993)
Abate em 1993 – anotado no Montijo até 1996.
Restos anotados em Arranhó (sucateiro) (1999-2000).
Adicionalmente, e dada a confusão existente na correcta identificação destes aparelhos foi possível fisicamente conferir os seguintes FIAT G.91 T.3, dado que ainda existem,


1804 c/n (exGondomar)

Embora não seja possível conferir pela ausência da placa identificativa, as fontes existentes permitem pouca margem para dúvida na identificação deste FIAT como o c/n 91-2-0017.



1806 c/n (Museu do Ar)
Actualmente em armazenamento na Ota, a conferência física ao avião revelou que a placa identificativa não se encontra no avião, o que é pena.
Em princípio, tratar-se-á do c/n 91-2-0025 ex.West German AF 34+23.



34+27 c/n 91-2-0030 (Sto André das Tojeiras) ver também aqui.

Confirmado numa segunda visita do Pedro Torres, com a inexistência da placa identificativa na fuselagem, mas também com o número de construtor pintado da forma tradicional, na cauda, de onde se confirma ser o 0030.
Existe ainda outro “T.3”, mas é preciso alguém ir a França conferir ...
____________
Agradecimentos pelo lançamento da dúvida ao Paulo Alegria e pela ajuda e esclarecimentos a:
Andy Marden
Ian Carroll
Eng. Luís Tavares
SMOR Manuel Pacheco (Museu do Ar)
Paulo Moreno
Pedro Torres
TCor Miguel Santos
Siegfried Wache (F-40)
Stefan Goossens (DAS/Scramble)
Otger Van der Kooij (EMOOS)

3 Comentários:

Paulo Alegria disse...

Muito obrigado a todos pelo esclarecimento desta dúvida, pelo trabalho, (excelente), na pesquisa dos dados e pela sua partilha com todos os leitores.

Grande Abraço

Paulo Alegria

Nuno Martins disse...

Arrisco-me a dizer que o facto deste aparelho não ostentar o emblema da Esquadra 301 é pelo facto deste ser normalmente aplicado nas OGMA após IRAN/nova pintura. Eventualmente este T/3 não terá passado pelas Oficinas após regresso dos Açores e, por isso, manteve o emblema da 303...

Unknown disse...

Nesta fase final dos G91 o emblema da 301 era de vinil autocolante (por cima do tigre 303)como é óbvio ao fim de algum tempo ao sol, encolhia e descolava dai que alguns R4 e T3 por vezes aparecerem com o tigre que era pintado na fuselagem!

Renato Gomes

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