F-16C grego em Monte Real |
Nos dias que correm não é fácil ser-se grego.
Das razões económicas já há muitos meses se sabia.
Recentemente, e apesar de não admitido oficialmente, sabe-se também que a
Grécia esteve à beira de um golpe militar.
Habituados que estávamos a pensar que ditaduras, guerras e
instabilidade social eram coisa do passado ou de países menos civilizados, as
fundações da orgulhosa Europa tremeram mais uma vez, de tal modo que de repente
o espectro de outra grande guerra no Velho Continente apareceu do armário, onde
esteve 66 anos.
Curiosamente (ou não), a Alemanha está mais uma vez ligada a
essa instabilidade. A Alemanha que foi desmembrada e limitada no armamento que
podia possuir depois da II Guerra Mundial, reagrupou-se e cerrou fileiras na
única guerra que podia travar: a económica. E foi paulatinamente (como antes)
reconquistando a importância que outrora teve pelas armas. Uma guerra
calculista, surda, quase invisível, e o que é pior, lícita! O resto da Europa
(como antes) ficou a ver, quando se alargou a União Europeia de 12 países para
15, para 19, para vinte e não-sei-quantos, no espaço de poucos anos. Ficou a
ver quando foi retirado o direito de veto a um país isolado da União Europeia.
Ficou a ver quando se assinaram acordos de comércio com a China, que acabaram
com o pouco que sobrou das economias mais frágeis no alargamento a Leste da
UE. De todos estes acontecimentos, o único denominador (vencedor) comum foi a
Alemanha. Pode dizer-se que a Alemanha aplicou uma variação de "se não os
consegues vencer junta-te a eles", trocando a última parte por um
"compra-os". E nós deixámo-nos comprar. E até gostámos. É por isso
que quando vou ouvindo que "os nossos políticos são os culpados", não
posso deixar de dizer que sim, são. Mas nós também. Os políticos são o espelho
do país que somos. Por acção ou omissão. Mas como sempre, é mais fácil dizer
que a culpa é dos outros. É "da Alemanha", é "dos
políticos". Nossa? Não!
Mas o quadro, ou the big picture como dizem os
ingleses, é de facto ainda maior. E a Alemanha que parecia (e pensou) ter ganho
esta guerra, só tarde se apercebeu que também podia implodir com o desmoronar
das economias periféricas. Talvez por ingenuidade de uma líder, que só já bem
tarde na vida aprendeu a viver no sistema capitalista (Merkel cresceu e viveu
na antiga RDA), ou talvez por puro orgulho germânico (o mesmo pecado que lhes
custou a última Grande Guerra).
Toda esta instabilidade, serviu no entanto para colocar bem
visível que na verdade todos os países actualmente estão reféns dos grandes
grupos económicos e do grande capital (acho que já ouvi isto nalgum discurso de
esquerda...). Uma "teoria da conspiração" que foi repetida anos
a fio, mas à qual pouca gente prestava realmente atenção, desde que houvesse
dinheiro na conta no fim do mês e a vida fosse boa.
A grande ironia é que vinte anos depois do comunismo, parece o capitalismo sucumbir
também, sob o peso próprio.
O sistema está viciado e tem vindo a definhar já há décadas,
com políticas de planeamento que não vão além do curto prazo (há que ganhar as próximas eleições,
depois logo se vê), que se movem ao sabor de interesses duvidosos (como dizia o
outro, duvidosos porque ninguém duvida das intenções) e uma classe dirigente de
um modo geral medíocre a nível nacional e internacional. Políticas
feitas para agradar " Gregos e Troianos" (e aqui está outra vez a
Grécia metida...), políticas sociais muitas vezes super-protectoras, políticas energéticas dependentes do petróleo e manutenção
da especulação financeira. E o
sistema não reagiu. Os sinais eram evidentes para quem se atrevesse a pensar um
pouco além de amanhã. Para quem estivesse interessado em pensar além de amanhã.
O sistema Ocidental faliu, tal como as suas economias. Num estranho fechar de ciclo, a Grécia, berço da
civilização moderna e da democracia, parece ser o símbolo do esgotamento do seu antigo arquétipo.
A nós, enquanto portugueses, resta-nos à semelhança de um
programa de recuperação de dependências, assumir que a razão de estarmos onde
estamos hoje, é nossa culpa. A culpa não é do pai que nos batia, nem do árbitro que não marcou penalty. E
começar a trabalhar num novo futuro para o país, que não envolva subsídios para
tudo, nem desculpas para tudo.
E o mundo, esse precisa de forjar um novo arquétipo, porque não
somos só nós que necessitamos de uma reestruturação profunda.
As minhas desculpas a todos, porque hoje aqui de aviação, apenas a foto.
4 Comentários:
Excelente crónica. Sem pretenciosismos assino por baixo.
Cá está uma opinião sem assombros e amarras.
Quando e Grécia é todo um mundo!
Parabéns à lucidez do Paulo Mata!
Magnifico texto, claro sem grandes voltas, só não o entende quem não quiser, parabéns pela vontade de mostrar o que muito poucos se atrevem a ver.
Obrigado
Paulo Costa
Assino por baixo. Um dos deveres da Constituição não me permite dizê-lo em público.
Este video explica muita coisa:
http://www.youtube.com/watch?v=07w9K2XR3f0
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