O país está de tanga. A
expressão foi proferida em 2003 pelo actual Presidente da Comissão Europeia,
então Primeiro-Ministro da ocidental pátria lusitana, Durão Barroso.
O mesmo Durão Barroso
que sabe-se lá porquê, preteriu o país que (mal ou bem) governava para assumir o
cargo que hoje se lhe conhece na União Europeia. Desde então, passaram já quase
nove anos, e o país (ou os seus governos) em vez de reagir aos sinais de
alerta, continuou a cavalgada cega para o abismo, continuando a endividar-se
loucamente porque “as dívidas públicas não são para pagar”.
Após o mal feito por quem
de direito, o resgate do FMI e as medidas ditadas pelo triunvirato (mais
conhecido por "troika") são um mal aparentemente necessário (se
houver alguém com uma ideia melhor que se chegue à frente). Os políticos empossados da difícil tarefa de tirar o país do buraco onde a mesma classe
política o colocou, começaram a cortar a torto e a direito em regalias, salários,
carreiras, postos de trabalho, etc. Soube-se pela comunicação social que na
Carris por exemplo, toda a família anda à borla. Até a irmã maior e vacinada.
Que os funcionários têm barbeiro à borla. Que têm um ordenado base, mas que pode
ser substancialmente aumentado, bastando cumprir o horário normal (?!) de
trabalho.
Havia que terminar com isto, e o país estava (quase) todo de acordo.
Dentro desta linha de pensamento
e talvez confiando na proverbial aversão de certas facções da sociedade
portuguesa às Forças Armadas para lhe dar cobertura, o Sr. Ministro da Defesa,
resolveu vir a público proferir algumas barbaridades acerca das instituições militares
e dos próprios militares que as compõem.
Habituada que está a
utilizar o Orçamento da Defesa como um "saco azul" ao qual se pode
recorrer sempre que necessário para outros fins, a classe política propõe-se ultrapassar os limites do razoável.
Ignorando que desde o 25 de
Abril foram as FA's as instituições que mais reformas já tiveram, quando muitos
órgãos do Estado continuam gordos e estacionários. Ignorando que nas FAs há já
uma rentabilização de recursos superior a qualquer outro órgão estatal e de fazer
inveja a muita empresa privada. Ignorando que com os cortes já perpetrados se estão a atingir níveis de treino e funcionamento perigosamente baixos. Ignorando
que o seu motorista porventura ganha mais que um piloto de helicópteros de
busca e salvamento. Nas FA's já não há mais por onde cortar, sob pena de deixarem de existir como tal. A tentativa de cortes nos
privilégios e benesses abusivas e absurdas em muitas entidades, parece ter
descambado numa catártica "caça às bruxas" em que há que
"queimar" também os militares.
Tal como já tive
oportunidade de escrever antes, nas FA's o Sr. Ministro encontra facilmente homens com mais
cultura e formação que em qualquer direcção de partido político. Homens com Sentido de
Estado, uma noção que falta a várias gerações de políticos. As FA's que o Sr.
Ministro apelidou de "politizadas", foram as mesmas que ofereceram a
liberdade aos portugueses em 25 de Abril de 1974 e a souberam manter em 25 de
Novembro de 1975. Devolveram depois o seu poder à sociedade civil e passaram a
submeter-se voluntariamente ao poder político, numa atitude inaudita na
história mundial. O mesmo poder político que desde então não tem cessado de as
subverter e desconsiderar a seu bel-prazer.
O Sr. Ministro da Defesa
veio a público dizer que só deve estar nas FA's quem tem vocação para tal.
Esqueceu-se de definir o seu conceito de vocação. Curiosamente, o normal coro
de vozes hostis às forças militares, quase nem se fez ouvir. Estariam todos
distraídos?
Poucos saberão que foram
as missões internacionais das FA's que deram voz a Portugal nas Nações
Unidas na resolução da situação de Timor-Leste. Poucos o saberão
porque a classe política se encarregou de tomar para si os louros.
São as FA's actualmente
dos poucos esteios de credibilidade do país a nível internacional, pelas
meritórias missões que vêm mantendo a decorrer pelo mundo.
Mas são esses homens que
o Sr. Ministro da Defesa quer fora das FA's porque lhe são incómodos. São
ironicamente um alvo fácil.
Entretanto os grandes
interesses mantêm-se incólumes: o Estado continua a sustentar entre muitos
outros interesses, contratos com empresas claramente danosos para o país,
assinados por quem antes estava no Governo e agora está nessas empresas. Continua a servir interesses, não politizados como acusou o Sr. Ministro os militares, mas de políticos e ex-políticos. E por aí sim, haveria muito
dinheiro que se poderia poupar aos contribuintes.
Ainda assim o Sr.
Ministro acertou na necessidade de reformas. Mas reformas para que as FA's sejam
mais autónomas do poder político, constantemente a ingerir-se no seu
funcionamento interno.
As FA's não são a Carris,
Sr. Ministro.
Da próxima vez que falar
dos homens que o seu ministério tutela, tenha vergonha. Há mais
patriotismo no dedo de um pé de um soldado português, do que na classe política toda.
As Forças Armadas devem
ser a pedra basilar de uma nação. Se ainda não percebeu isso, está no cargo
errado!
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Nota: Não sou militar, nunca
fui militar, nem tão-pouco tenho militares na minha família próxima.
Não sou nem nunca fui filiado nem simpatizante de nenhum partido político. Considero-me por isso insuspeito para poder falar de modo isento, longe de interesses próprios em qualquer dos lados.
1 Comentários:
pingspO Ministro da Defesa, assim como o PR, deveria ser sempre uma pessoa que tivesse sido militar e não um piegas qualquer.
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