Escudos. 20 escudos. Eram as notas que tinham estampado o
rosto do Almirante Gago Coutinho e no verso o hidroavião Fairey F III-D (um
dos) que proporcionaram um dos maiores feitos da aviação lusitana.
Era por isso impossível há alguns anos não saber que a
primeira travessia aérea do Atlântico Sul tinha sido realizada por um (dois) português(es).
Por outro lado, a banalidade com que nos habituámos a ver
aquela efígie, levava porventura a pensar no feito como algo também banal.
Os traços da aventura levada a cabo por Gago Coutinho e
Sacadura Cabral eram (e continuam) desconhecidos de quase todos, resumidos que
estavam no título do feito: "Primeira travessia aérea do Atlântico
Sul".
Na verdade, três aeronaves foram utilizadas para cumprir a
viagem. O primeiro, batizado "Lusitânia" e que cumpriu a maior parte
da viagem: Lisboa-Las Palmas, Las Palmas-São Vicente e São Vicente-São Pedro e
São Paulo.
Por perda de um dos flutuadores devido ao mar tempestivo
neste arquipélago brasileiro, um segundo avião batizado "Pátria" foi
enviado por navio, para permitir prosseguimento da viagem até ao Rio de Janeiro
como planeado. O Pátria no entanto pouco voaria, tendo amarado de emergência
ainda junto ao arquipélago de São Pedro e São Paulo, ficando os aviadores náufragos
até socorro de um navio em trânsito.
O terceiro, ao qual foi atribuído o nome "Santa
Cruz" possibilitaria finalmente retomar a viagem e atingir o Rio de
Janeiro, então a capital do país, depois de várias escalas pela costa brasileira,
onde foram recebidos como heróis.
Como corolário do feito, e como contributo científico para a
posteridade, ficou o sextante, instrumento de navegação pelos astros inventado
por Gago Coutinho para levar a cabo a façanha. O rigor conseguido pelo aparelho
foi tão grande, que não só lhes permitiu navegar com exatidão entre os pontos
planeados, como o fizeram dentro do tempo de voo previsto, levando 60 horas e
14 minutos, a percorrer 8383
km. E foi este instrumento, a razão de ser do busto de Gago Coutinho impresso nas saudosas notas de 20 escudos.
Sobre o acontecimento cumprem-se 90 anos e para celebrar a
efeméride, realizou-se uma cerimónia no dia 23 de abril junto ao monumento da réplica
do Fairey em Belém em
Lisboa e posteriormente no Museu de Marinha, onde se encontra o hidroavião
sobrevivente, o "Santa Cruz", com a presença de representantes de Portugal
e Brasil, bem como da Marinha e Força Aérea portuguesas.
Uma exposição alusiva ficará patente ao público no Museu de Marinha até dia 28 de abril.
Os diários de bordo dos protagonistas da aventura, foram formalmente colocados sob a proteção da UNESCO.
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