Midway é um minúsculo atol no Pacífico, que herdou o seu
nome pelo facto de se encontrar sensivelmente a meio deste oceano.
Na II Guerra Mundial, após seis meses de conquistas por todo o Pacífico, apenas
perturbadas pelo ataque a Tóquio de que falámos antes, para o Japão consolidar
o seu domínio necessita apenas de rematar as pontas deixadas soltas em Pearl
Harbour: afundar os porta-aviões americanos. O plano consistia por isso em
conquistar Midway de surpresa, atraindo os porta-aviões da US Navy para então
os afundar. Para tal, o Almirante Nagumo reunia a maior frota que o mundo alguma vez viu, com destaque para os quatro maiores porta-aviões da época.
Como em todos os desastres, uma série de acontecimentos
começaram a fazer precipitar o que mais tarde se vem a tornar uma inevitabilidade.
Neste caso, o mais importante terá sido mesmo a descodificação do código de
comunicações japonesas pelos serviços de inteligência dos EUA, o que permitiu
saber com antecedência onde e quando se daria o ataque. Posto isto, o plano de
defesa entraria em marcha.
Sob as ordens do Almirante Spruance, dois porta-aviões
intactos (Enterprise e Hornet) e um terceiro algo massacrado na então recente
Batalha do Mar de Coral (Yorktown), mas que seria reparado em tempo recorde,
foram mobilizados para esperar a incauta armada nipónica. As defesas de Midway
foram reforçadas e bombardeiros mobilizados para o aeródromo.
Na madrugada de 4 de Junho de 1942, os EUA estavam à espera
do que Nagumo tinha para oferecer.
Assim, quando a primeira vaga de bombardeamentos japoneses começava
em Midway, já os bombardeiros americanos aí baseados (B-17 e B-26) estavam
no ar para atacar a frota nipónica.
Desta primeira vaga poucos proveitos qualquer das partes
retiraria, já que tanto as defesas da ilha, como da frota japonesa neutralizariam
os ataques de que foram alvo.
Foi em mais alguns pormenores, como aguardar ou não pela
aterragem dos aviões da primeira vaga, decidir na escolha do armamento a
carregar nos aviões da segunda vaga de ataque e nos alvos a atacar, que Nagumo
perderia a batalha para Spruance.
Após um segundo ataque aéreo com aviões torpedeiros
Devastator, Avenger e Vindicators, que
seriam chacinados pelas defesas japonesas, os americanos voltariam à carga com
bombardeiros de voo picado Dauntless. Se os primeiros não obtiveram resultados
contabilizáveis, tiveram como consequência obrigar os japoneses a trocar as
bombas que carregavam para novo ataque a Midway, por torpedos para atacar os
porta-aviões americanos. Os caças japoneses Zero de proteção da frota estavam
quase sem munições nem combustível e os porta-aviões ao navegar em círculos
para evitar os torpedos, não estavam posicionados em relação ao vento de modo a
lançar aviões imediatamente. Os conveses estavam ainda cheios de munições,
combustível e aviões. O terceiro ataque americano foi por isso devastador. Em
menos de 10 minutos, três dos quatro porta-aviões (Kaga, Akagi, Soryu) da
Marinha Imperial estavam em chamas.
Douglas SBD Dauntless descarregam a sua carga mortal na frota nipónica |
Do único porta-aviões remanescente (Hiryu) sairia o ataque por
bombardeiros Val à frota americana, com impacto direto apenas no porta-aviões
Yorktown, o tal debilitado na Batalha do Mar de Coral. Mesmo incapacitado, este
porta-aviões viria a prestar um bom serviço à marinha dos EUA, sendo alvo ainda
de um segundo ataque. Os japoneses, por seu lado, ao acreditarem ter afundado
este vaso de guerra no Mar de Coral, pensavam ser o Enterprise que atacaram no
primeiro ataque e o Hornet no segundo. Na verdade tinha sido sempre o mesmo
porta-aviões e embora inutilizado, ainda flutuava.
Contas finais, o Japão perderia os seus melhores e mais
experientes pilotos, três dos seus maiores porta-aviões e a supremacia que
acreditavam ter nos mares do Pacífico. O Japão, tal como a Alemanha na Europa,
seria derrotado pela sua arrogância e agressividade, que levava a desprezar
táticas consideradas defensivas.
John S. Thach no seu F4F Wildcat com bandeiras respeitantes a vitórias no ar visíveis por baixo do cockpit |
Além de ser o ponto intermédio entre os EUA e o Japão,
Midway foi também o ponto de viragem da Guerra do Pacífico. A partir de então
os EUA começariam a cavalgada de reconquista que só terminaria a bordo do cruzador
USS Missouri a 2 de setembro de 1945 com a assinatura da rendição do Japão. A Marinha
de Guerra nipónica, delapidada das suas mais valiosas unidades, começara a sua
agonizante decadência. Para a guerra aérea, sobrevive ainda hoje em dia a
tática criada por John Thach para permitir aos lentos Wildcats abaterem os
rápidos e manobráveis Zero: consistia em voar em formação com dois Wildcats,
que ao serem atacados por um Zero se dividiriam, obrigando o inimigo a escolher
um alvo. Ao descrever um S simétrico ao seu asa, o avião perseguido
proporcionar-lhe-ia um ponto de ataque perfeito para abater o inimigo, no
cruzamento dos dois S. É uma tática ensinada ainda nos dias de hoje.
Tática criada por John Thach |
Imagens: US National Archives
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