sábado, 22 de dezembro de 2012

A BARREIRA DO SOM NO F-86F (M804 - PM153/2012)

Parelha de F-86 em configuração "limpa"   Foto: Arq. BA5

Nesta questão temos de enquadrar as coisas "no seu tempo".
Quero com isto dizer que, a passagem da barreira do som, nos tempos de hoje, não tem cabimento a sua referência.
Deve ser como um automóvel conseguir ir além de 100 Km/hora: não tem significado. Mas, na época, isto é, em 1958 ainda era algo de mítico.
A aerodinâmica e a pouca potência dos motores tornavam difícil atingir essa velocidade, conquanto já houvesse um número apreciável de aeronaves aptas a fazê-lo. Simplesmente, ainda não estava ao alcance dos lusitanos até então.
Essa barreira era de tal forma mítica, que havia um clube dos que tinham ultrapassado essa velocidade – o Mach Buster’s Club. 


Dois fatores se associavam: o psicológico e o realismo.
Fator psicológico devido, a como disse, a ser algo de mítico. Realismo porque era um fenómeno que se sentia muito bem.
No F-86F, para se conseguir efetuar a manobra, era necessário utilizar um avião limpo (sem depósitos externos), subir para os 40.000 pés ou perto, motor a 100 %, com a máxima velocidade possível em linha de voo, inverter o avião e iniciar uma picada bem acentuada. 
Sentia-se um endurecimento dos comandos, com alguma perda de eficácia dos mesmos. Lia-se o indicador de Mach para confirmar a velocidade. Após a passagem (pelo menos Mach 1.02) voltava a verificar-se um aumento de eficácia dos comandos.
Consoante se ia descendo, com o aumento da densidade do ar, mesmo mantendo o motor, a velocidade decrescia. Normalmente, reduzíamos o motor para regressar rapidamente às velocidades e atitudes normais.
Esta manobra era executada em voos de experiência e na fase da Adaptação para o piloto fazer uma ideia do fenómeno e... satisfação da vaidade. Era um "penacho" para o respetivo "chapéu".
Um pequeno esclarecimento mais:
Referi que a aerodinâmica e a potência dos motores eram insuficientes.
No caso do F-86F, pelo menos nos "books", o limite de velocidade estrutural era de 600 nós indicados. Isto significava que, se houvesse potência disponível, a 40.000 pés, o avião seria quase duplamente supersónico.
Possível? Não sei, mas custava-me a acreditar.

Já agora ainda outra curiosidade.
Refiro-me às pinturas e consequências. Os primeiros F-86F nacionais, durante bastante tempo voaram sem pintura na maior parte da fuselagem (à exceção das pontas das assas, nariz e deriva, tal como comentado anteriormente). Quando apareceram os primeiros "pintados" foi um problema... Eram mais lentos. As pinturas podiam ser boas para evitar a corrosão mas, aumentavam a resistência ao avanço.
Com o tempo e melhoria das tintas e técnicas de pintura, esse problema foi-se desvanecendo.
A razão porque menciono o assunto das pinturas é para referir que, aviões houve que, por essa razão, não conseguiam passar "a barreira".
Texto: Cap (Ref) Fernando Moutinho

1 Comentários:

Daniel Castro disse...

Para quando o LIVRO com as histórias, a progressão, a aprendizagem, África, FAP pós 1974, etc, tudo aquilo que quem não viveu essas experiências gostava de saber e aprender.
DCastro

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