terça-feira, 4 de dezembro de 2012

CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA INTERCEÇÃO AÉREA (M784 - PM135/2012)

Os "olhos" do  Litening TGP bem em evidência do lado da entrada de ar

Sobre a interceção de uma aeronave não identificada no espaço aéreo nacional, na madrugada do passado dia 2 de dezembro, muito já se escreveu e opinou.
Agora que começa a baixar a poeira sobre o assunto, vários pontos convém clarificar ou até realçar, a bem da honestidade intelectual e cívica:

1- O sistema de alerta da Força Aérea funcionou segundo os parâmetros definidos: Dado o alerta às 6:06 horas, descolaram os F-16 em Monte Real às 6:18, portanto 12 minutos depois, ou seja, dentro dos 15 minutos de prontidão definidos. Às 6:35 já os pilotos de F-16 tinham contacto visual com a aeronave na zona de Elvas.

2- A aeronave desconhecida foi realmente intercetada pelos F-16 e registados os seus dados nos sensores óticos (Litening TGP) dos F-16.

3- Foi avaliado o nível de risco da aeronave para o país, que não constituindo perigo iminente não justificava ações por parte dos F-16 no sentido de abater a mesma, decisão que não pode naturalmente ser tomada de ânimo leve, nem sem uma razão objetiva muito forte. Ameaça concreta para as populações por parte da aeronave não existiu. O que sucedeu e foi possível verificar, foi um procedimento irregular por parte de uma aeronave, que não justificou medidas mais drásticas.

4- Para obrigar a aeronave a aterrar, conforme já aconteceu em situações anteriores, seria necessária uma pista e condições adequadas para a dita aeronave aterrar em segurança, o que não acontece na quase totalidade da zona sobrevoada (zona fronteiriça entre Elvas e Sabugal, aproximadamente)

5- A informação acerca da zona provável de aterragem foi fornecida às autoridades em terra, responsáveis pelo seguimento da operação no terreno. Os F-16 perderam o contacto com o avião desconhecido, devido à grande diferença de velocidades e teto mínimo de operação entre os dois tipos de aeronave, que impedia os F-16 de voar em formação constante com o avião ligeiro. Os F-16 mantiveram-se ainda no local durante mais algum tempo, de modo a prosseguir com a perseguição caso a aeronave retomasse o voo, o que não veio a suceder. Uma aeronave do tipo e dimensão em questão é extremamente fácil de aterrar e esconder em pouco tempo, sendo que, a tratar-se efetivamente de tráfico de droga, teria com certeza ajudas no terreno.

6- Em qualquer outro país da NATO em iguais condições, teria sido exatamente o mesmo o procedimento, consequentemente com os mesmos resultados (o sistema de defesa aérea espanhol por exemplo, teve exatamente o mesmo procedimento e desfecho). O treino dos pilotos nacionais está de acordo com o que é o standard NATO e as aeronaves (F-16) estão ao nível do que de mais atual existe na Europa. Os procedimentos tomados foram os adequados à situação e à gravidade da mesma.

7- Do mesmo modo que é impossível impedir o tráfico de droga no terreno em muitos sítios do país, onde é impossível ter "um polícia em cada esquina", também os meios para fazer face a procedimentos aéreos deste tipo são limitados e têm limitações, sendo algumas técnicas e outras de ordem financeira, como a relação custo/benefício.

8- Caso este tipo de procedimento se torne recorrente, aí sim, será eventualmente necessário ao Estado Português avaliar a aquisição e operação de meios especializados para fazer face a este tipo de situações.


12 Comentários:

Anónimo disse...

MUITO BOM ANTONIO LUIS! PARABENS! LUIS MATOS. ABRAÇO.

Unknown disse...

Entre Elvas e Sabugal aproximadamente é Portugal inteiro e Espanha aproximadamente. Quer-se dizer não fazem a mínima ideia onde o perderam. A porta está aberta ao tráfico e não vai ser a GNR com 2 soldados por posto que irá bater toda aquela imensidão. Ficamos assim até que calhe um avião daqueles cair por acidente e depois fazemos um lindo programa para o telejornal.

Anónimo disse...

Adalberto Costa

ès um bocado burro a seronave foi seguida de elvas ao sabugal e perdida no SABUGAL logo so foi perdida de vista no sabugal. " Quer-se dizer não fazem a mínima ideia onde o perderam"
foi no sabugal que o perderam logo sabem o local

António Luís disse...

Caro Luís de Matos!
O autor do texto é o Paulo Mata e não eu.
Seguramente que ambos estamos de acordo quando ao facto de ele ter escrito um claríssimo texto!
Cumprimentos.

António Luís disse...

Caro Adalberto Costa e "Anónimo".
Sugerimos uma releitura atenta do texto e a moderação possível nos comentários.
Obrigado.
Cumprimentos.

Time disse...

Gostei do texto. Foi claro e politicamente correcto.

Não concordo apenas com uma passagem, quando sugere que não há pistas na zona da intercepção, "o que não acontece na quase totalidade da zona sobrevoada (zona fronteiriça entre Elvas e Sabugal, aproximadamente)"

Na verdade elas existem!

Lembro-me pelo menos de:
Monforte, Lameira, Ponte de Sor, Castelo Branco, Monfortinho (encerrada), e Sabugal com duas pistas.

Paulo Mata disse...

Carlos, desde já obrigado pelo comentário ao texto.
Quanto às pistas existirem, teriam que existir em condições de segurança digamos que "impecáveis" (desconheço se é o caso nas pistas que referiu). Caso contrário, ao suceder algum percalço na aterragem do avião, a Força Aérea poderia ser responsabilizada pelo incidente/acidente. Pistas mal preparadas já se sabe que existem, até porque nalguma delas terá aterrado o avião (por sua conta e risco). Cumprimentos

Ricardo Ribeiro disse...

Como cidadão, mais depressa responsabilizo a Força Aérea por não controlar efectivamente o tráfego de aeronaves "piratas" do que o faria por qualquer dano causado às ditas cujas em resultado do cumprimento do que creio ser a sua missão.

Não me conformo com o ajustamento da acção até a uma nulidade práctica, em virtude da aeronave "pirata" não representar um perigo imediato. Se é "pirata" tem de ser controlada. Não o sendo, está passada carta branca para todos os vôos futuros no mesmo enquadramento. O que considero grave, lá está, como cidadão.

Antonio disse...

Não podia um helicoptero com um grupo de DOE ter tb imediatamente descolado para fazer o seguimento obrigando a aterrar?

Anónimo disse...

Caro Antonio,

Poder podia, só que tinha de se começar a fazer intercepcções com os Merlin invés dos F-16!
O grande problema deste tipo de intercepcção é o mesmo que os brasileiros estavam a ter na Amazonia, daí a retirada dos M2000 da região e a utilização dos Super Tucano....como nós não temos esses meios ao dispor, a não ser que se comecem a armar Epsilons e O2...

Unknown disse...

Sobre este assunto ouvi da boca de uma pessoa pertencente a Força Aérea o seguinte:
Que efectivamente os F-16 mantiveram contacto com a dita areonav, sempre.
Que o tal voo da dita aeronave era de certo modo esperado uma vez que existia uma investigação conjunta entre autoridades policiais portuguesas e estrangeiras, sendo que havia na mesma area a voar um P3, que seguiu até ao fim o trajecto da aeronave não identificada, identificou com exactidão os destinatários da mercadoria suspeita, inclusive matriculas de carros e pessoas envolvidas.
A intenção de colocar os F-16 no cenário e mediatizar o caso foi depropositado para dar confiaça aos traficantes dando-lhes a ideia que a sua operção foi um successo e prosseguirem com as suas actividades iliciatas para serem posteriormente serem detidos com provas irrefutaveis do seu envolvimento. Isto tudo ao que parece porque o grupo além de bem organizado, era perigoso e estaria bem armado ao ponto de colocar em perigo agentes numa eventual tentativa de intercepção.

Isto foi o que me foi vendido, se é verade ou não isso agora não sei, mas tou a vender ao mesmo preço que me foi vendido a mim!!

Nota pessoal:
Na minha opinião este é um caso flagrante em que a ser verdade o que me contaram, deveria de ser noticiado com bastante afinco os detalhes de uma operação deste género para calar muitas das vozes que se levantam contra a aquisição de meios militares de ultima geração, apregoando o esbanjamento de dinheiro dos contribuintes!
Além de que a publicidade a meios dete género a serem utilizados em acções civis serviriam de disuasor para futuros crimes.
Este é um exemplo flagrante, em que material de guerra quando usado em articulação com forças policiais em investigações em que os agentes da autoridade, bens ou cidadãos possam correr perigo a utilização de material que normalmente é ultizado em sitações de combate pode estar ao serviço da justiça e combate ao crime económico, não só pode como deve ser publicitado!!
Mas isto é só uma opinição, vale pelo que vale!!

Anónimo disse...

Caro Daniel Isidro, com todo o respeito que tenho e mantenho pela sua opinião, acho-a lamentável.
Lamentável por expor na "praça publica" procedimentos que a serem verdade, deverão no mínimo constituir matéria confidencial senão mesmo secreta. E a pessoa que lhe vendeu o peixe, devia isso sim ser responsabilizada por lhe ter dito isso.
Ainda que não sejam verdade, deixam a mente do criminoso aberta a novidades dispensáveis, passíveis de "camuflagens" que se dispensam também.
Existem com certeza outras formas de defender o brio e o profissionalismo das forças armadas, sem "dar o ouro ao bandido".

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