Do-27 na Guiné |
Relato de Evacuação Médica em 1964
Alguém me lembrou duma enfermeira pára-quedista.
Tive a honra e o prazer de conviver com ela, na Guiné e, com ela, executei, pelo menos uma missão de evacuação. Sempre a admirei pela sua disponibilidade, competência e um enorme coração.
Sou mandado executar uma missão de Evacuação a Catió. A informação referia vários feridos graves necessitados de assistência. Quem me acompanhou no Do-27? A dita enfermeira. Chegados a Catió deparámo-nos com dois feridos indígenas em estado gravíssimo: eram irmãos ao serviço das nossas Forças Armadas. Numa emboscada, além de outros feridos menos graves, estes dois sofreram uma rajada que os atingiu a ambos no ventre, estando em estado terminal, não dando acordo de si. Imediatamente a enfermeira os recolocou nas macas do Do-27 e instalou um sistema de alimentação a soro e outros cuidados para tentar aguentá-los com vida até Bissau. Enquanto estes preparativos estavam a ser efetuados, reparo que um indígena mais idoso, envergando uma túnica dourada e respetivos adereços com dourados, na cabeça, (era um homem “grande”) acercou-se de mim, com um ar orgulhoso referindo-se aos filhos feridos, diz-me: “Se morrerem, já cumpriram a sua missão na terra: foram a Meca, têm filhos e lutaram pela Pátria”. Estas palavras abalaram-me, pela convicção com que foram pronunciadas. Ainda hoje estremeço com emoção ao recordar aquelas palavras e do homem que as proferiu. Nunca gostei de contar isto porque poucos acreditam que houvesse habitantes locais que sentissem e honrassem esses valores. Logo que possível, descolei subindo acima de 3000 pés para apanhar ar mais fresco. Durante o voo, um dos feridos abriu os olhos e ficou acordado mas sem falar. O outro continuou inconsciente. Mas, a enfermeira continuava a prestar-lhe os cuidados possíveis. Grande profissional.
Em Bissau a ambulância levou-os para o Hospital. No dia seguinte fomos ao Hospital saber o estado dos feridos: um não resistiu. O outro felizmente recuperou.
Bubaque
Uma ilha dos Bijagós conhecida pelas suas praias que despertava curiosidade.
Devo dizer que no meu tempo da Guiné as idas a Bubaque eram raras. Fui lá duas vezes em missão: a primeira com um chefe militar, e a outra, buscar peixe. Para melhorar a ementa dos refeitórios, alguém se lembrou de contratar pescadores de Bubaque, onde se dizia, havia bom peixe. Foi lá alguém ligado aos refeitórios e combinou que todas as quintas-feiras um Do-27 lá iria para transportar o peixe para Bissau. Assim se fez. Tocou-me lá ir no terceiro voo - não havia peixe nem pescadores. Porquê?
No segundo voo, quem lá foi, efetuou o pagamento desses primeiros carregamentos.
Conclusão: os pescadores nunca tinham visto tanto "patacão" em tão pouco tempo. Resultado: enquanto houvesse dinheiro, não haveria pescaria...
Consequências: o contrato foi cessado devido à inconstância no cumprimento do mesmo.
No segundo voo, quem lá foi, efetuou o pagamento desses primeiros carregamentos.
Conclusão: os pescadores nunca tinham visto tanto "patacão" em tão pouco tempo. Resultado: enquanto houvesse dinheiro, não haveria pescaria...
Consequências: o contrato foi cessado devido à inconstância no cumprimento do mesmo.
Largada de granadas incendiárias
Porque não contar ainda outra experiência passada comigo na Guiné?
Era necessário deitar fogo a uma área de capim para permitir a passagem de nossas tropas numa futura operação. Como talvez saibam o Do-27 tinha um sistema de abertura de portas na barriga. Solução: sobre a área a incendiar, abriram-se as portas e um mecânico de armamento, a partir dum contentor, foi semeando as granadas incendiárias.
Era necessário deitar fogo a uma área de capim para permitir a passagem de nossas tropas numa futura operação. Como talvez saibam o Do-27 tinha um sistema de abertura de portas na barriga. Solução: sobre a área a incendiar, abriram-se as portas e um mecânico de armamento, a partir dum contentor, foi semeando as granadas incendiárias.
Texto: Cap (Ref) Fernando Moutinho
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