segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

PAULO DÉRMIO APRESENTA - 0:30 A HORA NEGRA (M890 - 59PM/2013)


0:30 A Hora Negra (Zero Dark Thirty no original) é, como muitos saberão, um filme baseado na história real da busca e captura do inimigo número um dos EUA: Osama bin Laden.
Nomeado para quatro Oscars da Academia, entre os quais o de Melhor Filme, Melhor Actriz Principal e Melhor Montagem.
A minha análise imparcial relativamente ao filme está ferida de morte à partida, por ter já visto vários documentários sobre o tema, pelo que o enredo pouco ou nada teve de novidade. A situação no entanto não é nova, à semelhança de filmes como "A Paixão de Cristo", cujo enredo é com certeza ainda mais conhecido, não impedindo contudo de avaliar a qualidade da película.
Este texto é por isso, e para me obrigar a maior imparcialidade possível, escrito antes da atribuição dos Oscars.
Assim, o filme torna-se algo difícil de ver, devido a uma narrativa quase documental, com a agravante de não ter uma voz-off, como os documentários assumidos. Quem está à espera de ver outro "Black Hawk Down (Cercados) desengane-se porque nada tem de parecido. Passam-se longos períodos em que nada de interessante ocorre, apenas entrecortados por diálogos a fazerem lembrar séries no registo de reality show atualmente em voga, com a agravante ainda da quase ausência de uma banda sonora, apenas presente pontualmente e passando quase despercebida.
No geral, acaba por sobressair a interpretação da nomeada Jessica Chastain, num filme monocórdico do princípio ao fim. O mérito maior da obra como um todo, será porventura a descrição dos meandros  burocráticos e sistémicos que quase colocaram em perigo o desiderato maior desse próprio sistema: capturar o seu maior inimigo. O peso que faz as instituições quase implodirem sob a própria massa e interesses particulares de quem as constituem, em detrimento de um interesse maior.
Do ponto de vista aeronáutico (e por isso aqui falamos deste filme) foi interessante ver a reconstituição da operação de assalto em si (Neptune Spear), e dos misteriosos helicópteros apelidados "Silent Hawk" utilizados na ação, dos quais passados quase dois anos, pouco ou nada se sabe, além da forma da secção de cauda, que escapou à destruição da célula, por se ter separado e ficado do lado de fora do muro da casa de bin Laden, aquando da aterragem não controlada.


A secção de cauda que sobrou do lado de fora do muro- imagem real     Foto: Autor desconhecido
Retirada dos destroços da zona da Operação - imagem real     Foto: Autor desconhecido

A teoria para este despenhamento, é também coincidente com a dos documentários, apresentada como tendo sido a redução dos limites de utilização do aparelho devido ao peso e forma dos componentes stealth (anti-radar) acrescentados ao helicóptero, que fizeram com que este fosse arrastado na corrente de ar descendente, gerada pelo seu próprio rotor principal na aterragem.
No final, fica-se com a ideia que será um filme mais interessante para o público americano, a quem o tema em si, dirá muito mais do que ao resto do mundo, já que como obra cinematográfica é algo como um placebo.

Escrevendo já depois da entrega dos Oscars, confirmou-se a vitória apenas numa categoria técnica menor, a única não mencionada acima:  Melhor Edição Sonora. 
Justiça seja feita, havia de facto melhores candidatos para Melhor Filme e Montagem (ganho ainda assim algo dubiamente por Argo de que falaremos também brevemente). Para o troféu de Melhor Atriz Principal fica o benefício da dúvida, até por desconhecimento da interpretação da vencedora Jennifer Lawrence em "Silver Linings Playbook".
A Realização, de Kathryn Bigelow que não estava sequer nomeada este ano, ficou muito aquém do galardoado Estado de Guerra (Hurt Locker), esse sim, um grande filme de guerra.
Fica contudo a ressalva de, para quem não conhece os detalhes da operação, ser talvez mais interessante ver o filme, sendo porventura o registo muito próximo de documentário a tornar fastidioso ver "mais do mesmo" para os que já conheciam os detalhes.
Para quem quiser saber ainda mais no entanto, recomenda-se a leitura do polémico livro da autoria dum dos elementos da força SEAL que efetuaram o ataque de 2 de maio de 2011 em Abbottabad, e cuja identidade acabaria por ser inadvertidamente revelada: "No Easy Day", por Mark Owen (pseudónimo).





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