Lockheed T-33A Shooting Star |
Em 1987, num voo de instrução de navegação alta, uma parelha de T-33A deslocou-se a Ramstein na Alemanha. Ao cortar motores, uma apreciável quantidade de combustível saído dos drenos dos aviões (como era habitual no T-Bird) foi vertida na placa que os "américas" de Ramstein primam em manter sempre impecavelmente limpa.
Após termos coordenado com o crew chief o reabastecimento dos aviões em combustível e oxigénio, despedimo-nos e fomos à nossa vida (que não podia, evidentemente, deixar de incluir uma visita ao "BX").
Na manhã seguinte, tudo em ordem para o regresso a Beja. Inspeção passada, amarrados nos aviões, starter mil, mil e um, mil, mil e dois, mil mil e larga, 9% - ignição, acima de 10% estabilizados - gasolina de arranque para auto e... todo o pessoal que se encontrava nas imediações bate rapidamente retirada. Um chamarão de três metros saía da tubeira de escape do avião.
De imediato o combustível de arranque foi cortado, acalmando em seguida o crew chief que ainda se encontrava aos saltos, ao mesmo tempo que perguntava "is this normal? Is it normal?"
Sem compreendermos a razão para o sucedido e com a certeza de que tudo estava normal, tentámos novo arranque. O pessoal de terra, desconfiado, manteve-se ao largo. Novo arranque a quente, novo arranque abortado.
Começámos a ficar preocupados e resolvemos sair do avião afim de, conjuntamente com a outra tripulação, melhor estudar a situação. Descobrimos que o avião estava encharcado de combustível, embora não tivesse havido falha de ignição e a combustão se tivesse processado.
Fizemos então uns arranques a seco, para tentar expulsar o combustível acumulado, mas sem resultados positivos. Entretanto, já o Oficial de Segurança de Voo da Unidade rondava no seu Jeep para trás e para a frente, com um sorriso amarelo e algo desconfiado, perguntando se precisávamos de ajuda. Houve até quem sugerisse inclinar o avião, levantando-o pelo nariz, por forma a que o combustível escorresse pela tubeira - ideias brilhantes de alunos!...
Resolvemos sentar-nos em meditação debaixo da asa do avião e, quando estávamos prestes a desistir, o olhar vagueante de um dos alunos descortinou algo amarelado na extremidade do dreno da "shutoff"- os drenos dos aviões estavam tapados com "ear plugs", solução que os "américas" na tarde do dia anterior tinham arranjado para evitar que a sua placa ficasse manchada com nódoas. Incrédulos, e após termos entregado os ear plugs ao crew chief, lá arrancámos de volta a casa.
Sempre que voltámos a Ramstein, quando, após cortar o motor, o combustível era drenado para o solo, podíamos ouvir o crew chief desesperado a praguejar: "oh shit, always the same big mess!"
Excerto do livro "T-Bird" à venda no Museu do Ar e Esquadra 103
Texto: José Rosado
2 Comentários:
fui mecanico de T33 entre 79 e 1982, não me lembro de largarem combustivel. Devem ter sofrido algum upgrade, mas adoro ficção.
Caro amigo pinguim nº71, a história foi contada por um piloto de T-33, no livro sobre o T-33, editado pela Força Aérea. As dúvidas que tem acerca da veracidade dos factos relatados, deverão ser colocadas ao autor. De todo o modo, em conversa com um mecânico que trabalhou também em T-33 e que não conhecia a história, achou-a ainda assim perfeitamente plausível. Cumprimentos.
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