As imagens que correram mundo do fim da Operação Eagle Claw no deserto salgado iraniano |
No seguimento da revolução que depôs o Xá do Irão, Mohammed Reza Pahievi em 1979, a Embaixada dos EUA em Teerão foi invadida pelos revoltosos, em protesto contra o país que sempre apoiou o regime deposto e inclusivamente deu guarida ao ex-líder, fugido do país.
Assim começa o galardoado filme Argo, cujo enredo, conta a história da operação de resgate de um punhado de funcionários da invadida Embaixada.
Para todos os outros cidadãos americanos feitos prisioneiros, foi planeada em segredo uma ação de resgate, confiada a uma força-tarefa militar, pelo então Presidente dos EUA Jimmy Carter, enquanto oficialmente declarava ser essa opção uma loucura.
A Força Delta, criada poucos anos antes (1977) foi a escolhida para a operação de libertar os 66 reféns do novo regime dos Ayatolas.
Faixas vermelhas foram pintadas para distinguir os F-4 americanos em possíveis confrontos com F-4 iranianos |
Os RH-53 no convés de voo do USS Nimitz já com a pintura de deserto Foto:US Navy |
A missão não era fácil e várias alternativas se colocaram para a ação, tendo a opção final recaído na utilização dos helicópteros RH-53D Sea Stallion (trimotor) devido à sua grande capacidade de carga, mas vários obstáculos se continuaram a colocar à operação, tais como a falta de autonomia dos helicópteros para atingir um porta-aviões na zona, o que obrigaria a abastecer nalgum ponto intermédio. Mesmo a escolha dos próprios pilotos não foi consensual (primeiro da Marinha, depois dos Fuzileiros).
A opção seria por isso deslocar a Força Delta em C-130 até um ponto de encontro no terreno, para depois prosseguir nos RH-53 que viriam de um porta-aviões, reabastecendo no ar. Após o resgate dos reféns, novo transbordo ainda no Irão para aviões de asa fixa, no caso C-141 e o regresso.
Todos os preparativos contudo tiveram que ser feitos no maior secretismo, de modo a não levantar suspeitas, com movimentações de aeronaves e forças fora do comum.
Um dos MC-130 que participaram na Operação Foto:USAF |
O EC-130 que viria a ser perdido no acidente em Desert One |
Previamente à missão, um agente da CIA infiltrado no Irão, localizou e
assinalou uma pista de aviação no deserto, designada Desert One, a cerca
de 500 km de Teerão.
Seria o local de encontro da Força Delta (vinda da Alemanha, via Egito e Omã, para embarcar nos MC-130 que efeatuariam a penetração no Irão), com os RH-53 vindos do porta-aviões USS Nimitz estacionado no Mar Arábico.
Em Desert One os RH-53 seriam reabastecidos e embarcariam a Força Delta, seguindo depois para o ponto Desert Two, a 80 km de Teerão. Os helicópteros descarregavam então as forças, deslocando-se para um ponto de espera apenas com a tripulação, aguardando durante todo o dia seguinte pelo decorrer das ações no terreno.
1-Nimitz; 2-Desert One; 3-Desert Two; 4-Teerão; 5-Desert Three |
A Força Delta entretanto, deslocar-se-ia em camiões até à Embaixada, onde deveria reunir os prisioneiros e conduzi-los até um campo de futebol, onde embarcariam nos helicópteros vindos entretanto do ponto de espera no deserto, para prosseguir até ao ponto Desert Three, onde se faria o transbordo para C-141 para a saída do Irão. Simples? Não. Era contudo o plano.
A 24 de abril de 1980, as forças envolvidas na operação estavam a postos e a missão teve início.
Dois dos C-130 em Desert One |
Esquema das aeronaves em Desert One Fonte: Wikipedia |
Os incidentes porém, começaram logo à chegada do primeiro MC-130 (de 3 MC-130 e 3 EC-130) ao posto Desert One, onde estavam três veículos iranianos. Um foi prontamente dominado, outro atingido e o terceiro conseguiu escapar. Os oito helicópteros RH-53 que deveriam chegar meia hora depois, chegaram bastante atrasados, entre uma hora a 90 minutos depois do programado. E dos oito, só seis chegaram de facto. O heli nº6 aterrou de emergência no deserto, com os tripulantes a seguirem missão no nº8, e o nº5 regressou ao USS Nimitz após perda de alguns dos instrumentos e controlos de voo na tempestade de areia, que acabaria por atrasar todos os outros helis que seguiram missão. E os que chegaram não estavam também em boas condições, um mesmo sem capacidade para prosseguir devido a problemas hidráulicos e os restantes com outras falhas de vária ordem. Após algumas acaloradas discussões via rádio, a decisão de cancelar a missão acabaria por chegar do próprio presidente Jimmy Carter.
Apesar do plano inicial prever abandonar os RH-53 em Desert Three (para o regresso em C-141), foi decidido não os deixar em Desert One, uma opção que viria a revelar-se fatal. No meio da poeira, durante as manobras para a partida, um dos helicópteros acabou por colidir com o EC-130, sendo em pouco tempo consumidos ambos pelas chamas.
Destroços das aeronaves acidentadas com um dos RH-53 abandonados em segundo plano |
Milagrosamente, vários elementos da Força Delta dentro do EC-130 conseguiram escapar, antes do fogo se propagar por toda a aeronave. Vários outros helicópteros acabaram por ficar irrecuperáveis, sendo os seus tripulantes encaminhados para os Hercules restantes, em que regressaram a Masirah em Omã.
A missão terminou com oito vítimas mortais, dois RH-53 e um EC-130 destruídos e cinco RH-53 abandonados em Desert One, mais tarde destruídos pelos iranianos.
Planos posteriores para nova ação militar foram realizados e testados nos EUA, mas não chegariam a concretizar-se. Os reféns só viriam a ser libertados por via diplomática quase um ano depois e após 444 dias de cativeiro.
Jimmy Carter não voltaria a ser eleito Presidente dos EUA.
RH-53 abandonado no deserto iraniano |
4 Comentários:
Estes acontecimentos fazem parte da minha memória de infância. Um assunto que, apesar da minha tenra idade, me despertou (e ainda desperta) muito interesse.
Dos CH-53, abandonados pelas forças americanas em "DESERT ONE", pelo menos dois ainda sobrevivem, um em suposto estado de vôo com a marinha iraniana, e o outro foi canibalizado para os CH-53 iranianos, comprados (6)pelo Xá em 1977.
Nessa missão, os helis eram os caças minas da marinha, os RH-53D Sea Stallion e não os CH-53 !!
Enviar um comentário