sábado, 13 de abril de 2013

SOB AS PONTES (M950 - 102PM/2013)

Foto: Autor desconhecido

Um senhor chamado Duarte que foi guia do Museu do Ar, entretanto já falecido, contou-me que antigamente os pilotos recém-formados, após receberem as asas, só ganhavam o respeito dos colegas, se passassem as sete pontes  do Tejo (acho que é este o número), sendo a primeira a de Vila Franca de Xira.
Não sei até que ponto estou correto, visto já ter ouvido esta história há bastante tempo e não ter maneira de a reconfirmar. 
Lembro-me dele contar, que a ultima tinha que ser passada na diagonal e muito baixo, o que também não era para todos. Acho que inclusive um veterano nestas passagens, um dia distraiu-se e algo correu mal, acabando por "ir medir a temperatura da água".
De facto, quando cheguei à Força Aérea em 1951, ainda se vivia o tempo dos atos ditos heróicos, leia-se insensatos. Não era somente a passagem sob as pontes. Era também sob os cabos elétricos de alta tensão. Embora no meio de tudo isto, haja sempre um excesso de lenda. 
Ainda conheci um piloto que tentou passar sob a Ponte de Vila Franca, na fase final da sua construção. Simplesmente, um cabo das obras que ele não viu a meia altura, deu origem que fosse tomar banho. Safou-o o pessoal que estava nas obras. 
Vários foram os acidentes que ocorreram com este tipo de "heroicidade", em especial com os cabos de alta tensão.
Resultado: iniciou-se uma repressão e caça a veleidades daquele género. Castigos, despromoções, etc. Atravessei precisamente esta fase que durou uns bons anos. Na altura achava demasiado pesada a repressão. 
Mesmo eu também fui punido por ser apanhado a fazer "chouriços" (imitação de acrobacia) a altitude inferior à mínima autorizada. Estava a 1300 quando deveria estar a 1500 pés. Nesse mesmo dia outro colega meu apanhou pela mesma tabela. Três dias de detenção para cada um.
Um ex-Comandante da TAP, meu companheiro na Esquadra 21 é outro exemplo. Efetuou algumas passagens baixas na terra dele, como comandante da parelha e eu a asa. A graça resultou de tal modo que pouco tempo depois era eu o comandante e ele o asa. Como foi castigado, não foi promovido como esperava.
Desta repressão sei de muitas histórias. No artigo sobre o F-47 também lá relato algumas coisas.
Conclusão: deixámo-nos de pontes e de cabos de alta tensão. 
Sabem uma coisa? Ainda bem! De certeza que alguns de nós que ainda estamos vivos, talvez cá não estivéssemos para relatar estas memórias.


Texto: Cap (Ref) Fernando Moutinho



1 Comentários:

Mário Sérgio Felizardo disse...

Meu caro Comandante Fernando Moutinho, não sei se estaria por essa altura em Monte Real, não me recordo o nome, mas houve um infeliz que foi enganado por um camarada que lhe contou o feito de ter passado a ponte da Arrábida...resultado: "se ele passou, eu também passo..." Passou, realmente, mas para sair foi uma carga de trabalhos de perícia...Mas já agora, e ainda para o meu amigo: também me chegou aos ouvidos, que o meu padrinho e seu camarada de curso, (Melo Pereira) passava a ponte de Vila Franca em Hurricane, para se mostrar à amada, verdade? Uma coisa é certa, veio a casar lá...
Um abraço

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