«Em Agosto de 2000, o nosso batalhão tinha um companhia empenhada num determinado sector da BiH, e recebemos a indicação de que havia ocorrido uma avaria numa das nossas Chaimites, o que obrigaria à substituição de uma peça, por uma sobressalente, que dispúnhamos em depósito.
Para efectivar este desiderato, viriam militares do batalhão buscar
a mesma, fazendo-se transportar em meios aéreos Norte Americanos e de
noite.
Fui incumbido, pelas operações do batalhão, de proceder em
conformidade, pelo que, após ter tido conhecimento da ordem de
operações, coloquei a acção em marcha. Preparei três lanternas, com
difusores coloridos (um verde e um azul, para a manobra, dado que a cor
branca seria demasiado intensa para os goggles dos pilotos, e um
vermelho, para a eventualidade de ter que cancelar a operação - a cor
vermelha era a cor de "código" para os pilotos abandonarem imediatamente
qualquer operação em que estivessem empenhados).
Após termos chegado à LDZ (Landing zone), montada a segurança e imposta a
obrigatória disciplina de luzes (proibido usar máquina fotográfica,
luzes de qualquer natureza, ou fumar, dado que qualquer chama que fosse
efectuada, iria colocar em causa toda a operação).
À hora marcada, e após terem sido dadas todas as instruções ao
pessoal, coloquei-me em posição, frente a uma das balizas do campo de
futebol que utilizávamos como LDZ e, logo que ouvi o som de um heli a
aproximar-se, comecei a "enxameá-lo", fazendo os sinais convencionados,
com ambas as lanternas (verde e azul, claro).
Confesso que causa "muito respeito" termos um Black Hawk à nossa
frente, praticamente sem o conseguirmos "ver", pois as turbinas e os
rotores principais continuam a rodar à mesma velocidade, apenas
controlados pelo ângulo do passo do rotor, imposto pelos pilotos.....
Dirigi-me ao héli que tinha à minha frente, (abordando a sua porta
lateral de estibordo), por forma a dar cumprimento ao plano, a entrega
do sobressalente, e só nesse momento, constatei que haviam aterrado, não
um, mas dois hélis, dado que nenhuma luz é accionada de noite, quando
se deslocam.
Mesmo estando num teatro de operações já sem conflitos armados,
muitos dos desmobilizados mantinham em seu poder armas ligeiras, com as
quais, poderiam, mesmo que só por diversão, alvejar aeronaves, pelo que
os deslocamentos das mesmas, de noite, era efectuado na completa
ausência de luzes.
Após concluída a operação, posicionei-me novamente em frente ao
primeiro héli, (com as laternas a apontar para baixo), enquanto
aguardava informação relativamente à autorização para descolagem. Os
pilotos do primeiro héli não deverão ter achado a mínima piada à demora,
e decidiram descolar sem que eu tivesse efectuado o sinal
convencionado. Nesta altura, os pilotos deveriam estar mais que
chateados, pelo que a descolagem foi feita de forma tão intensa, que
literalmente me empurraram para dentro da baliza, com a deslocação de ar
que provocaram...»
Autor: Leitor identificado
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