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Nord N-2501 Noratlas |
Após ter regressado de Angola, fui colocado na BA3, em Tancos. Continuei a voar no Noratlas.
Na sequência fui nomeado para me deslocar para o Montijo para integrar as Forças Orange do Exercício Conjunto da NATO denominado OPEN GATE 76.
No Montijo procurei saber qual a missão em termos concretos. Fui informado que efectuaria um voo diário com missões variadas.
Verificou-se que o Nord não estava equipado com equipamento rádio adequado mas, mesmo assim, faríamos as missões, servindo a Região Aérea como “relay” das comunicações para a chefia de OPEN GATE.
1º dia e 1ª missão
Mandaram-me algures, cerca de 150 milhas, a SW de Lisboa e, aí chegado executar reconhecimento tipo caixa e anotar o que visse. Por incrível que pareça, conseguimos avistar, (no mar):
• Uma sonobóia das utilizadas na pesquisa de submarinos;
• Um submarino a navegar submerso com periscópio. O mar estava um “espelho” e de repente uma pequeno borbulhar à superfície levou-nos a sobrevoar a área e, debaixo de água, uma máquina em movimento. Na altura só sabia que era um submarino mas, na reunião pós-missão quando me abriram o livro para indicar o que tinha visto e apontei, ouvi uma salva de palmas – era um submarino nuclear. Os nossos colegas da anti-submarina do Montijo reconheciam que nunca tinham visto nenhum submarino nuclear submerso.
• Sorte e boas informações de quem nos indicou a área a pesquisar.
2º dia e 2ª missão
Fomos enviados para uma área parecida com o dia anterior mas mais para o largo. O tempo estava bom, sem vento, mar “espelhado” e nós voando a rasar o mar para não sermos detectados.
De repente, um espectáculo surpreendente, depara-se-nos uma Esquadra, em quadrado, em movimento. Não sei quantos navios seriam, mas talvez uns 20. Perto disso.
Aproximámo-nos e quando já estávamos a cerca de uma milha, a Esquadra começa a rodar para nós mas, pouco rodaram, pois alcançámos os navios rapidamente. Comecei a rodar junto aos primeiros e, de seguida abandonei a área.
No breafing após a aterragem alguém me pergunta se alguma coisa me chamou a atenção. A minha resposta foi: nos primeiros 2 navios vi içarem bandeiras. De que cor? Pretas e outras. Perguntaram-me se sabia o significado disso. Não sabia. Resposta: os navios deram-se como afundados.
Pressupunha-se que o avião levaria 2 misseis anti-navio.
3º dia, 3ª missão
Missão idêntica. O tempo estava totalmente nublado, com aguaceiros esparsos. No mar eram visíveis as colunas de chuva.
De repente, após circundar um aguaceiro, avisto um porta-aviões.
Mais uma vez atingia um alvo sem ser detectado. Mas aqui tive mais cuidado pois sabia que os porta-aviões não gostam de brincadeiras por questões de segurança. Dei a volta e afastei-me.
Foram um show estas missões. Diga-se que utilizava um avião com pintura anti-reflectora e ao voar a rapar o mar, tornava-se difícil a detecção.
Passado algum tempo entregam-me a mensagem seguinte:
NOTA: Alguns dos relatos que se seguirão necessitam de algum esclarecimento para melhor enquadramento na época (1975).
Em Fevereiro sou enviado para Luanda para reforçar os Noratlas na sua missão prioritária na época – colaboração na Ponte Aérea para os “retornados”. A nossa missão era a de retirar os refugiados de toda Angola para os aeroportos de Nova Lisboa e Luanda, onde funcionava a Ponte Aérea com meios aéreos para o exterior.
Foi um período extraordinariamente complicado vivendo-se situações incríveis.
Tragédias humanas complicadas para se contar… O melhor será esquecer. Não falarei nisso.
Relatarei casos anormais mas susceptíveis de serem apreciados pelo ineditismo. Alguns até diria mesmo caricatos.
Texto: Cap. (Ref) Fernando Moutinho