Quando estive colocado em Bissau, quinta-feira era o "Dia de S. Avião". A TAP, com o seu Super Constellation, visitava-nos todas as quintas-feiras. Nessa época não havia TV, a rádio local era incipiente e nós vivíamos com um pequeno rádio para ouvir a ex-Emissora Nacional em onda curta, mas entre as 18 e as 21 horas, conseguia ouvir-se em onda média, mérito do "salto de cavalo" (NR: Fenómeno físico que consiste na reflexão das ondas rádio na atmosfera permitindo ouvir-se a distâncias muito mais longas do que por receção direta).
Mas a quinta-feira era de facto o grande dia. Além do correio, era a chegada dos jornais. Faziam-nos uma falta tremenda. Eram devorados durante todos os dias seguintes.
Localmente, havia um pequeno jornal semanal, o "Arauto" que nós apelidávamos de "Araúto" devido à sua peculiaridade: Era posto à venda ao sábado, com a data de domingo, mas com notícias atrasadas. Dizíamos nós, parodiando um pouco "saiu hoje, com a data de amanhã, mas com as notícias de ontem!"
Localmente, havia um pequeno jornal semanal, o "Arauto" que nós apelidávamos de "Araúto" devido à sua peculiaridade: Era posto à venda ao sábado, com a data de domingo, mas com notícias atrasadas. Dizíamos nós, parodiando um pouco "saiu hoje, com a data de amanhã, mas com as notícias de ontem!"
Na sequência do Dia de S. Avião, tenho uma pequena história de uma brincadeira que acabou por se complicar um pouco. Nessa época estava em força o Totobola e havia rapaziada que
fazia as suas apostas. Não era o meu caso, mas reparava no afã da consulta dos jornais para verificar o boletim. Mesmo sabendo-se já dos resultados pela rádio, só vendo é que se acreditava.
Então congeminei uma brincadeira: preencher um boletim com uma só coluna e após saber os resultados preencher outra com os resultados certos. Assim foi. Na casa de apostas registaram-me o boletim com uma só coluna. Quando pela rádio soubemos os resultados, com outro boletim para aproveitar o papel químico, preenchemos a coluna seguinte com os resultados conhecidos.
fazia as suas apostas. Não era o meu caso, mas reparava no afã da consulta dos jornais para verificar o boletim. Mesmo sabendo-se já dos resultados pela rádio, só vendo é que se acreditava.
Então congeminei uma brincadeira: preencher um boletim com uma só coluna e após saber os resultados preencher outra com os resultados certos. Assim foi. Na casa de apostas registaram-me o boletim com uma só coluna. Quando pela rádio soubemos os resultados, com outro boletim para aproveitar o papel químico, preenchemos a coluna seguinte com os resultados conhecidos.
Depois foi aguardar até quinta-feira e, na Messe, aproveitar um dos leitores dos jornais e pedir-lhe para conferir os resultados enquanto ia à casa de banho. Como se previa começou a ouvir-se um avolumar de sons vindos da Sala. Apareci com ar ingénuo e sou assaltado por uma chuva de parabéns e quejandos. Fiz o meu papel e, para acalmar o pessoal, prometi uma festa mas, só depois de saber qual o prémio (naquela altura só se sabia mais tarde).
Contudo, a novidade espalhou-se. Já corria na cidade que tinha saído o primeiro prémio a um aviador. Até aí o maior prémio saído em Bissau tinha sido um terceiro e pouco valioso. O aparecimento de um primeiro prémio era acontecimento de vulto.
Contudo, a novidade espalhou-se. Já corria na cidade que tinha saído o primeiro prémio a um aviador. Até aí o maior prémio saído em Bissau tinha sido um terceiro e pouco valioso. O aparecimento de um primeiro prémio era acontecimento de vulto.
Foi quando vi que tinha de arranjar um esquema para desfazer a brincadeira. Expus o caso ao Comandante da Zona Aérea, pedindo-lhe ajuda. Colaborou.
Na refeição seguinte, quase já mesmo no fim, pediu a atenção a todos os presentes e explicou que o “meu prémio do Totobola” tinha sido uma brincadeira. Explicou como foi engendrada e, para não haver dúvidas, mostrou-se o boletim a quem quisesse verificar que era mesmo o pretenso premiado e rasgou-se à vista de toda a gente.
Acabou por ser ainda assim uma desilusão para os meus camaradas que viveram o acontecimento. Tinham gostado que me tivesse mesmo saído.
Texto: Cap (Ref) Fernando Moutinho
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