Versão N-2502 com reatores na ponta das asas Foto: Col. Fernando Moutinho |
Peso a mais à descolagem
Pouco
depois da independência da Guiné, ainda estava nas OGMA, fui
encarregado de transportar de Bissau para Alverca uma máquina
ferramenta, de elevado valor pertencente às OGMA. Antes de sair
contactei um dos principais responsáveis da secção, para saber o peso da
dita máquina. Foi-me indicado cerca de 3.500 Kg.
Antes
de sair de Bissau para o Sal, as autoridades locais perguntaram-me se
tinha alguma disponibilidade de peso até ao Sal. Disponibilizei, como
segurança, carga até 1000 Kg e cinco passageiros. Assim se fez.
Teoricamente estaríamos abaixo do peso máximo à descolagem.
Este
Nord, o 6415, do tipo 2502 (com motores de jato auxiliares), era um
pouco ronceiro, mas cumpria as suas missões, sempre sem problemas.
Tempo quente. Reatores e motores no máximo, e toca a descolar.
A meio da pista apercebi-me que algo estava errado: peso a mais!
Tinha de decidir: abortar a descolagem ou continuar.
Abortando,
corria o risco de não ter pista suficiente para travar, tendo em
atenção a inércia aumentada pelo peso. Além disso, havia água à frente.
Repito: calor, sem reversível, muito peso. Os travões poderiam ser insuficientes.
Resolvi continuar, tendo em conta que na aterragem o peso estaria diminuído devido ao consumo do combustível na rota.
Acabei por sair do chão e, muito lentamente, comecei a subir.
Normalmente
os procedimentos indicavam a utilização dos reatores até 3.000 pés, mas
mantive-os ligados até longos minutos depois, até atingir a altitude
cruzeiro, aos 7000 pés. Nesta altitude tive de manter um regime de motor
mais elevado do que o normal, para poder obter uma velocidade de
cruzeiro menos má.
Quando passámos ao largo de Dakar já conseguia voar à potência normal.
Claro que na aterragem, na ilha do Sal, ainda teria peso a mais.
Teve de ser feita uma aterragem para "senhoras grávidas".
A pista era longa, permitindo uma aterragem cuidada. Correu bem.
Para
concluir, ao chegar a Alverca, além de chamar à responsabilidade quem
me indicou o peso da máquina, exigi que na presença dele fosse pesada a
dita. "Só" pesava mais de 7000 Kg.
Tinha descolado com, pelo menos, 2000 kgs a mais…
Calhaus com olhos
Versão N-2501 sem reatores Foto: Col. Fernando Moutinho |
Em, fins de Novembro de 1971, fomos incumbidos de transportar um grupo de "páras" para Ninda (Angola).
Como
era costume tínhamos de ter muito cuidado com o peso do pessoal
equipados para operações. Nestas missões o peso é que contava e por
vezes apareciam com peso excessivo. Era, como não podia deixar de ser,
um problema de segurança de operação do avião.
Ora, nesse dia o percurso para Ninda foi feito pelo 2º piloto, de acordo com a alternância de percursos.
Quando
estávamos na fase de "arredondar" o 2º piloto começa a gritar "ai, ai,
ai" e, virando-se para mim diz "agarra no manche, ajuda-me, que não
consigo aterrar!"
Imediatamente
deitei as mãos e juntamente com ele, em vez do normal movimento de
trazer o manche atrás, fomos obrigados a fazer força para a frente, até
poisarmos o avião.
Berrei
para o mecânico, que fosse lá atrás chamar os pára-quedistas para a
frente, porque receava que o avião assentasse a cauda antes, ou ao
parar. O que sucedeu, foi que pura e simplesmente ao sentirem que
estavam a chegar ao solo, começaram a movimentar-se para a cauda.
Para remediar, utilizei uma técnica, uma travadela em força, que com a inércia os levou de roldão em direção do nariz.
Custou-me a perdoar esta insensatez porque eram homens da mesma arma e sabedores de certas regras que tinham de cumprir.
A expressão "calhaus com olhos" assenta por isso como uma luva. Pode parecer depreciativa, mas é na verdade afetiva.
Texto: Cap. (Ref.) Fernando Moutinho
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