quarta-feira, 27 de novembro de 2013

MINISTRO DA DEFESA BRASILEIRO: F-X2 É PARA CONTINUAR (M1292 - 361PM/2013)




Em entrevista  ao jornal Folha de S. Paulo, o Ministro da Defesa brasileiro Celso Amorim respondeu a todas as perguntas incómodas e temas quentes da atualidade militar do país e da aviação em particular, como o programa de aquisição do novo caça para a FAB F-X2, a retirada dos Mirage 2000, o fim de vida dos Hercules e outras hipóteses ventiladas na comunicação social brasileira.

O Pássaro de Ferro transcreve seguidamente os excertos relacionados com a aviação:


"O que está faltando para ser encerrado o programa da compra dos caças? O chamado F-X2?
Eu estou muito confiante de que vai ter um bom andamento, mas quanto menos eu falar dele melhor.

Pelo que entendi o sr. já disse até que o Brasil poderia negociar uma parceira de construção de caças de quinta geração com a Rússia, me corrija se eu estiver errado. A Rússia que está desenvolvendo esses modelos de quinta geração. Houve alguma evolução aí nessa área?

Olha, isso é uma possibilidade para o futuro. Volto a insistir, nós não podemos ter todos os ovos em uma única cesta. Nós não sabemos o que é o futuro do mundo. Nós gostamos de pensar que o mundo é uma coisa certinha, de que todo mundo vai se comportar sempre de uma mesma maneira, mas não é assim. Veja bem, eu sou de uma geração que viu a Guerra Fria. A Guerra Fria acabou, não existe mais bipolaridade, existe multipluralidade de informação, o mundo mudou muito e eu não sei nesse mundo novo, cheio de incertezas, o que vai acontecer. Então eu tenho que ter uma diversificação. Eu acho que isso é essencial para a segurança do Brasil. Então, sobre esse aspecto é que, digamos, nós estamos abertos a uma cooperação para um caça de quinta geração com qualidades que o de quarta e meia, com dizem, não terá, com a Rússia e com, eventualmente, outros. Não é só com a Rússia. A Rússia sugeriu essa hipótese também. É uma hipótese que nós temos que considerar. De qualquer maneira isso é uma coisa que ainda terá que ser para o futuro porque de imediato nós temos que preencher a necessidade que existe hoje. Essa necessidade de hoje nós vamos ter que preencher ainda com os caças de quarta geração. Eles dizem quarta e meia porque eles já estão um pouco melhorado. E é isso que nós estamos tratando de fazer.

Ainda que seja para o futuro, o caça de quinta geração, uma coisa está entrelaçada com a outra. Se fosse possível esse acordo com a Rússia, os caças de quinta geração, o desenvolvimento deles
Hoje o Brasil é um Bric, né? O Brasil participa de vários O Brasil tem essa vantagem, o Brasil não é de nenhuma aliança militar, nem com os Brics, obviamente, nem com nenhuma outra. Então o Brasil tem a liberdade de ter um avião com um, de ter um sistema antiaéreo com outro, de procurar fazer um submarino com terceiro e com isso ele vai aprendendo mais. Porque se você tem só uma único fornecedor, você fica na mão dele, em todos os sentidos, económico e tecnológico.

Tem uma especulação aí no mercado sobre o seguinte, por que eu perguntei do caça de quinta geração dos especialistas: uma solução intermediária acertando, eventualmente, para o futuro sobre essa parceria de caças com a Rússia, o Brasil poderia, eventualmente fazer leasing de caças russos

Não está em consideração.

Não?
Não está em consideração.

Não há essa hipótese?

Não há essa hipótese, tanto quanto eu saiba. 

Parece que o ministro [da defesa da Rússia] Sergei Shoigu... 
Eles gostariam que a gente fizesse um leasing, mas isso não nos dá nada porque nós queremos ter...Veja bem...

Seria cancelado o F-X2, é isso?
É óbvio que nós não faremos isso. O F-X2 vai se realizar.

Vai ser comprado, não vai ter essa história de leasing então?
Não.

Qual é o cronograma do F-X2? Porque isso já tem mais de uma década, bem mais de uma década já. Qual é a sua expectativa realista, vamos dizer assim?
A minha expectativa realista, eu sou sempre muito otimista, porque eu acho que otimismo faz parte da descrição do homem público, porque senão ele tem outros objetivos. Eu como não tenho nenhum outro, sou otimista. Portanto, a minha expectativa é para que algo muito breve ocorra.

O sr. acha que dentro do governo da presidente Dilma Rousseff que termina em dezembro do ano que vem, no mandato atual da presidente Dilma, o Brasil vai ter concluído esse programa de compra dos caças?
Olha, veja bem. Entre uma decisão final para comprar determinado caça e a chegada dele no Brasil levará algum tempo. Eu creio que a decisão final será tomada bem antes disso.

A presidente tem falado para o sr. que vai tomar essa decisão?
Minhas conversas com a presidenta são, do meu ponto de vista, totalmente privadas. Se ela quiser conversar a esse respeito ela pode, eu não.

Em que medida esse episódio aí da espionagem, da NSA, acabou afastando um pouco a possibilidade da Boeing vencer essa concorrência dos caças?

Eu devo dizer o seguinte: tanto quanto eu sei, a decisão sobre esse tema será técnica. Técnica levando em conta os elementos de performance, transferência de tecnologia, inclusive acesso a código fonte, e preço. Três elementos. Ficaram três países na concorrência. Caças de três países, eu quero dizer. Quanto a isso não há recuo mais, são esses três mesmo.

Ou há ainda possibilidade de haver até revisão disso?
Você sabe que eu filosoficamente não gosto de falar em coisas absolutas, mas eu não vejo nenhuma possibilidade de revisão disso. Não vejo, não está no horizonte, não está nas considerações.
(...)

O sr. falou dos Hercules que estão chegando aí ao final do ciclo de vida útil deles. Os caças Mirage também, parece que no final de ano terão que ser aposentados, é isso? Haverá um buraco aí entre a aposentadoria dos caças e a chegada dos novos, o que vai se fazer nesse hiato?

Há duas coisas que eu tenho que lhe dizer. Primeiro, os nossos caças mais antigos foram todos modernizados, que é claro que não é a mesma coisa, mas eles têm, digamos, uma aviónica moderna, uma capacidade de tiro modernizada, então nós não vamos ficar desprotegidos. A segunda coisa que eu quero dizer é que eu não sei qual caça que vai ser escolhido, mas qualquer um deles, todos eles ofereceram soluções intermediárias também enquanto não ficar pronto o primeiro caça que for encomendado. Então nós estaremos --claro que não tão bem protegidos como gostaríamos--, mas não vamos ficar pior do que estávamos com o Mirage, que aliás já se tornou caríssimo, cuja manutenção se tornou muito cara.

Ou seja, o fornecedor desses caças vai oferecer uma solução de transição aí para que o país não fique sem esse equipamento no período em que os novos não chegam?
Isso, seguramente. Os novos, em relação aos quais a ideia é progressivamente produzi-los no Brasil, numa proporção crescente. É preciso também que isso fique... é muito importante. É muito diferente dos caças do passado, que vinham prontos."


Entrevista completa da Folha de S.Paulo em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/poderepolitica/2013/11/1377119-leia-a-transcricao-da-entrevista-de-celso-amorim-a-folha-e-ao-uol.shtml

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