North American F-86F Sabre n/c 5320 |
19 Outubro de 1970, o meu 4º voo de F-86, missão.... bater a barreira do som. A aeronave foi o 5320, sem drops, configuração “de corrida”.
Os tópicos estavam memorizados, subir até aos 40.000 pés, uma folha de trevo para entrar numa picada apontada ao mar, motor aos copos até ficar supersónico, reduzir e recuperar da picada....
Briefing sumário, que em Monte Real um operacional é operacional e abibe é abibe, nada de confianças.
Bem gostava de ter sabido mais qualquer coisa, o que se sente, inversão de comandos, trepidação, a onda de choque, as dúvidas do Chuck Yeager a bailarem-me na cabeça.
Lá fomos em parelha, abibe à frente, operacional em “chase”, a controlar de perto, não vá o tipo fazer alguma de abibe.
A subida foi sem história mas, ao chegar aos 40.000 pés, verificámos que a zona estava praticamente toda coberta de nuvens. Abortar a missão? Nem pensar, os operacionais nunca abortam. Iniciámos a procura de um buraco por onde pudéssemos fazer a picada.
Ele lá apareceu, só que não era sobre o mar mas sim em terra, com umas casitas lá em baixo.
Abortar a missão? Nem pensar, os operacionais nunca abortam.
“Número 1 dentro”... folha de trevo efectuada, entrada na picada, motor aos copos, o indicador de Mach lá se foi movendo lentamente ..0,98.... .0,99........ 1,00...... 1,05.
Dentro do avião nada de realce tinha acontecido.
Resolvi reduzir o motor.......1,05.... 1,00...., 0,98.
A dúvida instalou-se-me... será que a barreira do som é só isto? Que coisa tão fraquita!!
O melhor é repetir, não estou para aturar os operacionais a dizerem-me que a manobra foi mal feita.
Outra vez motor aos copos... 0,98....1,00.....1,05.
Mais uma vez nada de especial aconteceu, resolvi reduzir o motor e recuperar da picada. Nivelei sem grandes problemas ainda que tenha verificado estar mais baixo do que era suposto.
Chamei o outro avião... ninguém respondeu.
Dirigi-me para a base e aterrei só, o operacional que me acompanhava tinha dado à sola. De volta à Esquadra verifiquei haver alguma azáfama fora do habitual, disseram-me que a ambulância da Unidade tinha saído para resolver uma emergência.
-Que foi?
-Um F-86 bateu a barreira do som apontado à vila de Carvide, rachou as paredes da escola.
Missão cumprida.
Um Abraço,
TGen (Ref) António Martins de Matos
NOTA: As memórias do Gen. Martins de Matos foram publicadas no livro "Voando sobre um ninho de Strelas" disponível através da loja do Pássaro de Ferro
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