sábado, 22 de fevereiro de 2014

O SUBMARINO PORTUGUÊS E O PORTA-AVIÕES AMERICANO (M1439 - 56PM/2014)

Grupo de Batalha do USS Eisenhower         Foto: Rafael Figueroa/US Navy

Apesar do episódio que hoje trazemos ao Pássaro de Ferro não tratar de aviação diretamente, decidimos contá-la. Por ter entrado já no campo mitológico, contada de boca em boca, não se sabendo bem o que é verdade e o que é mentira, achamos que, tendo acesso a uma versão fidedigna, contada no livro "Os submarinos em Portugal" de António Canas, esta merece ser divulgada, recolocando preto no branco, a verdade factual.
De todo o modo, a história envolve um porta-aviões, desculpa que podemos usar para justificar a sua inclusão num site de aviação.

A páginas 101 do referido livro pode portanto ler-se:

"Muitos outros exercícios, tanto nacionais como internacionais, foram realizados pelos submarinos desta esquadrilha. Ficou famosa a participação do Barracuda num desses exercícios em 1983. Tratava-se de um exercício NATO, designado "Locked Gate 83". 

NRP Barracuda        Foto: Marinha Portuguesa

Numa fase menos activa exercício, passou pela área onde o mesmo decorria, nas proximidades de Cadiz, o porta-aviões americano Eisenhower, acompanhado pela respectiva escolta, em trânsito para o Mediter­râneo a fim de substituir a Sétima Esquadra Americana. Recordemos aqui que se vivia o clima da Guerra Fria, sendo muito importante para as forças americanas assegurarem a protecção efectiva de todos os seus meios militares, especialmente os mais valiosos, como era o caso dos porta-aviões.
 
USS Eisenhower a passar no Estreito de Gibraltar onde se deu o episódio       Foto: Jon Dasbach/US Navy


Tendo tomado conhecimento da passagem daquela força pela área e avaliando que existiria a possibilidade de tentar um ataque a tão importante navio, o comandante do Barracuda, Capitão-tenente Brites Nunes, aproximou-se da força, tendo conseguido penetrar a respectiva escolta posicionando-se debaixo do porta--aviões sem ser detectado. O sucesso desta operação deveu-se em grande parte ao facto de o comandante ter tirado o melhor partido das condições ambientais na zona, fazendo a aproximação a uma profundidade na qual a detecção pêlos sonares dos navios de superfície era bastante difícil. Acompanhou a movimentação do mesmo durante algum tempo, tendo ficado para trás pelo facto de não conseguir manter a velocidade da força. Quando se encontrava numa posição bastante favorável para realizar o ataque, regressou à cota periscópica e enviou uma mensagem para a força, em tom de brincadeira, referindo que tinha esgotado todos os torpedos, face ao valor do alvo.
 
Esta acção do Barracuda foi bastante elogiada pelo Almirante que dirigia todo o exercício. Através do CINCIBERLANT, foi recebido o pedido do Comandante da Força do Eisenhower para que lhe fossem enviados os registos do submarino de forma a confirmar a acção, provavelmente por terem ficado incrédulos pelo facto de um submarino convencional ter conseguido penetrar com tanta facilidade a cortina de protecção de um alvo de altíssimo valor."

À parte este episódio (indiretamente) relacionado com a aviação, o livro lê-se bem, mesmo para quem (ou principalmente) não é conhecedor da terminologia e do mundo náutico. Congrega a história das esquadrilhas de submarinos que serviram a Marinha de Guerra portuguesa, entre 1913 e 2008, com enquadramento nas diversas épocas cronológicas, sem contudo se tornar fastidioso. Permite de igual modo perceber a importância estratégica de possuir uma forças de submarinos, que tão questionada tem sido nos últimos anos no nosso país.
Aconselha-se vivamente a sua leitura.


21 Comentários:

Ricardo Sousa disse...

Aparentemente, o admiral depois enviou a seguinte mensagem para o Barracuda:
"FOR BARRACUDA, THE RARE OPPORTUNITY OF ATTACKING A CARRIER MUST HAVE MADE YOUR DAY. BRAVO ZULU AND GOD SPEED"

Anónimo disse...

Ricardo Sousa, provamos ter valor e ser grandes estrategas e profissionais nessa manobra. Para quê o menosprezo das nossas Forças? Abraço
p.s. o comandante americano recebeu a nota mais baixa de que havia memoria, num exercício, e foi destituido do comando. Se não chorou, perdeu uma boa oportunidade de o fazer.

Anónimo disse...

As consequências foram porém muito graves para o Almirante comandante da força e para o Comandante do porta-aviões. Ambos foram sumariamente exonerados e as suas carreiras inopinadamente terminadas, consequências estas que não estavam nas intenções e muito menos eram desejadas pelo Comandante e guarnição do submarino português que, na sua perspectiva, viram e apenas aproveitaram uma excelente e raríssima oportunidade de treino para tentar a capacidade de penetração numa densa e poderosa cortina de protecção de um porta-aviões.
in http://www.revistamilitar.pt/artigo.php?art_id=719

Anónimo disse...

A história também está contada no excelente blog barcoavista: http://barcoavista.blogspot.pt/2009/10/submarinos-da-classe-albacora.html

Anónimo disse...

"As consequências foram porém muito graves para o Almirante comandante da força e para o Comandante do porta-aviões. Ambos foram sumariamente exonerados e as suas carreiras inopinadamente terminadas"??? O comandante do USS Eisenhower à data era Edward W. Clexton Jr., que viria a desempenhar as mesmas funções até Julho de 84, perfazendo quase 3 anos de comando. Posteriormente ainda viria a comandar o Carrier Strike Group Three durante quase dois anos (1986/87). O comandante

Anónimo disse...

Os americanos realizaram um filme embora um pouco diferente, mas relatando alguns factos reais desta história após pouco mais de 10 anos. "Down Periscope", é claro que no filme os herois são americanos...

António Marques disse...

Há algo na forma como este episódio aqui é contado que parece não estar claro. Fiz o serviço militar na Força Aérea Portuguesa nos anos de 1964 a 1967 e, já nessa altura, na messe, se contava este episódio como um dos grandes feitos da Marinha Portuguesa, com uma variante: -- o Barracuda teve que pedir auxilio porque não conseguia emergir. Não parece crível que nos anos sessenta se tivesse conhecimento de um acontecimento que se viria a verificar quase vinte anos depois!?.

Paulo Mata disse...

Caro António Marques, não colocando em causa a história que conhecia, este episódio é contado como real no livro "Os Submarinos em Portugal", tal como descrito e corroborado por alguns comentários neste artigo. Poderá até ter sido a existência dessa história anterior, que tenha levado o comandante do Barracuda a tentar a façanha na década de 80. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Tenho a certeza que num "local quente" a situação não se teria verificado assim! Pelo menos com tanta facilidade!
É humano, em locais "amigos" baixar a guarda... valeu pelo acto e ficou o aviso!
Mas isso não diminui em nada a habilidade dos tripulantes no submarino nacional que demonstraram ter uma enorme compreensão dos factores que contribuem para o sucesso de uma acção deste tipo!

Mário Pereira disse...

Sr. António Marques, há qualquer coisa na história que você conta, que não bate certa. É que o Barracuda só entrou ao serviço no ano de 1968.

Unknown disse...

Este mesmo navio para quem se lembre fez o mesma acção em 1971 nos exercícios da nato coisa que já não era a primeira vez bemme lembro da chegada do Barracuda à esquadrilha com uma bandeira com a tonelagem abatida em exercio nas manobras perto das 350 mltonoladas.

Unknown disse...

Só percebe este tipo de manobra quem navegou nos submarinos disse.

Lsdias disse...

Este episódio foi real em 83 era eu o marinheiro T operador sonar embora não recorde pormenores porque não valorizámos o feito era só mais um exercício lembro a intensidade do ruido produzido pela frota que dispensava auscultadores a envolvência do comando com. Brites Nunes o facho e o oscar oscar. Só mais tarde é que ouvimos comentários. Fizemos muitas do tipo só que naquele dia era uma frota americana.

Unknown disse...

Concordo plenamente com o Dias. Eu estava lá também... Chefe do posto de comando. Não houve resposta ao ataque via telefone submarino, só silêncio do outro lado... Foi a surpresa... De seguida veio o pedido dos nossos registos... Espectáculo!

Lumman disse...

Sera que os novos e ditos sofisticados submarinos portugueses sao capazes de proesas destas? Que serviram que nem luvas a alguem, ja sabemos que sim, so que por estes lados o periscopio nao funciona!

Lumman disse...

Sera que os novos e ditos sofisticados submarinos portugueses sao capazes de proesas destas? Que serviram que nem luvas a alguem, ja sabemos que sim, so que por estes lados o periscopio nao funciona!

Unknown disse...

O começo da 4 esquadrilha foi 1 de outubro de 1967 com o submarino Albacora 163, ainda não tinhamos o Barracuda 194

Unknown disse...

Corrijo. Barracuda 164

nuno disse...

Eu fui pesquisar ao Google e o Barrucada é 164, só para nota.

Anónimo disse...

E o CTEN Brites Nunes não passou de CMG ! Não tinha perfil para Almirante...

Unknown disse...

Eu estava lá.

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