Grupo de Batalha do USS Eisenhower Foto: Rafael Figueroa/US Navy |
Apesar do episódio que hoje trazemos ao Pássaro de Ferro não tratar de aviação diretamente, decidimos contá-la. Por ter entrado já no campo mitológico, contada de boca em boca, não se sabendo bem o que é verdade e o que é mentira, achamos que, tendo acesso a uma versão fidedigna, contada no livro "Os submarinos em Portugal" de António Canas, esta merece ser divulgada, recolocando preto no branco, a verdade factual.
De todo o modo, a história envolve um porta-aviões, desculpa que podemos usar para justificar a sua inclusão num site de aviação.
A páginas 101 do referido livro pode portanto ler-se:
"Muitos outros exercícios, tanto nacionais como internacionais, foram realizados pelos submarinos desta esquadrilha. Ficou famosa a participação do Barracuda num desses exercícios em 1983. Tratava-se de um exercício NATO, designado "Locked Gate 83".
NRP Barracuda Foto: Marinha Portuguesa |
Numa fase menos activa exercício, passou pela área onde o mesmo decorria, nas proximidades de Cadiz, o porta-aviões americano Eisenhower, acompanhado pela respectiva escolta, em trânsito para o Mediterrâneo a fim de substituir a Sétima Esquadra Americana. Recordemos aqui que se vivia o clima da Guerra Fria, sendo muito importante para as forças americanas assegurarem a protecção efectiva de todos os seus meios militares, especialmente os mais valiosos, como era o caso dos porta-aviões.
USS Eisenhower a passar no Estreito de Gibraltar onde se deu o episódio Foto: Jon Dasbach/US Navy |
Tendo tomado conhecimento da passagem daquela força pela área e avaliando que existiria a possibilidade de tentar um ataque a tão importante navio, o comandante do Barracuda, Capitão-tenente Brites Nunes, aproximou-se da força, tendo conseguido penetrar a respectiva escolta posicionando-se debaixo do porta--aviões sem ser detectado. O sucesso desta operação deveu-se em grande parte ao facto de o comandante ter tirado o melhor partido das condições ambientais na zona, fazendo a aproximação a uma profundidade na qual a detecção pêlos sonares dos navios de superfície era bastante difícil. Acompanhou a movimentação do mesmo durante algum tempo, tendo ficado para trás pelo facto de não conseguir manter a velocidade da força. Quando se encontrava numa posição bastante favorável para realizar o ataque, regressou à cota periscópica e enviou uma mensagem para a força, em tom de brincadeira, referindo que tinha esgotado todos os torpedos, face ao valor do alvo.
Esta acção do Barracuda foi bastante elogiada pelo Almirante que dirigia todo o exercício. Através do CINCIBERLANT, foi recebido o pedido do Comandante da Força do Eisenhower para que lhe fossem enviados os registos do submarino de forma a confirmar a acção, provavelmente por terem ficado incrédulos pelo facto de um submarino convencional ter conseguido penetrar com tanta facilidade a cortina de protecção de um alvo de altíssimo valor."
À parte este episódio (indiretamente) relacionado com a aviação, o livro lê-se bem, mesmo para quem (ou principalmente) não é conhecedor da terminologia e do mundo náutico. Congrega a história das esquadrilhas de submarinos que serviram a Marinha de Guerra portuguesa, entre 1913 e 2008, com enquadramento nas diversas épocas cronológicas, sem contudo se tornar fastidioso. Permite de igual modo perceber a importância estratégica de possuir uma forças de submarinos, que tão questionada tem sido nos últimos anos no nosso país.
Aconselha-se vivamente a sua leitura.
21 Comentários:
Aparentemente, o admiral depois enviou a seguinte mensagem para o Barracuda:
"FOR BARRACUDA, THE RARE OPPORTUNITY OF ATTACKING A CARRIER MUST HAVE MADE YOUR DAY. BRAVO ZULU AND GOD SPEED"
Ricardo Sousa, provamos ter valor e ser grandes estrategas e profissionais nessa manobra. Para quê o menosprezo das nossas Forças? Abraço
p.s. o comandante americano recebeu a nota mais baixa de que havia memoria, num exercício, e foi destituido do comando. Se não chorou, perdeu uma boa oportunidade de o fazer.
As consequências foram porém muito graves para o Almirante comandante da força e para o Comandante do porta-aviões. Ambos foram sumariamente exonerados e as suas carreiras inopinadamente terminadas, consequências estas que não estavam nas intenções e muito menos eram desejadas pelo Comandante e guarnição do submarino português que, na sua perspectiva, viram e apenas aproveitaram uma excelente e raríssima oportunidade de treino para tentar a capacidade de penetração numa densa e poderosa cortina de protecção de um porta-aviões.
in http://www.revistamilitar.pt/artigo.php?art_id=719
A história também está contada no excelente blog barcoavista: http://barcoavista.blogspot.pt/2009/10/submarinos-da-classe-albacora.html
"As consequências foram porém muito graves para o Almirante comandante da força e para o Comandante do porta-aviões. Ambos foram sumariamente exonerados e as suas carreiras inopinadamente terminadas"??? O comandante do USS Eisenhower à data era Edward W. Clexton Jr., que viria a desempenhar as mesmas funções até Julho de 84, perfazendo quase 3 anos de comando. Posteriormente ainda viria a comandar o Carrier Strike Group Three durante quase dois anos (1986/87). O comandante
Os americanos realizaram um filme embora um pouco diferente, mas relatando alguns factos reais desta história após pouco mais de 10 anos. "Down Periscope", é claro que no filme os herois são americanos...
Há algo na forma como este episódio aqui é contado que parece não estar claro. Fiz o serviço militar na Força Aérea Portuguesa nos anos de 1964 a 1967 e, já nessa altura, na messe, se contava este episódio como um dos grandes feitos da Marinha Portuguesa, com uma variante: -- o Barracuda teve que pedir auxilio porque não conseguia emergir. Não parece crível que nos anos sessenta se tivesse conhecimento de um acontecimento que se viria a verificar quase vinte anos depois!?.
Caro António Marques, não colocando em causa a história que conhecia, este episódio é contado como real no livro "Os Submarinos em Portugal", tal como descrito e corroborado por alguns comentários neste artigo. Poderá até ter sido a existência dessa história anterior, que tenha levado o comandante do Barracuda a tentar a façanha na década de 80. Cumprimentos.
Tenho a certeza que num "local quente" a situação não se teria verificado assim! Pelo menos com tanta facilidade!
É humano, em locais "amigos" baixar a guarda... valeu pelo acto e ficou o aviso!
Mas isso não diminui em nada a habilidade dos tripulantes no submarino nacional que demonstraram ter uma enorme compreensão dos factores que contribuem para o sucesso de uma acção deste tipo!
Sr. António Marques, há qualquer coisa na história que você conta, que não bate certa. É que o Barracuda só entrou ao serviço no ano de 1968.
Este mesmo navio para quem se lembre fez o mesma acção em 1971 nos exercícios da nato coisa que já não era a primeira vez bemme lembro da chegada do Barracuda à esquadrilha com uma bandeira com a tonelagem abatida em exercio nas manobras perto das 350 mltonoladas.
Só percebe este tipo de manobra quem navegou nos submarinos disse.
Este episódio foi real em 83 era eu o marinheiro T operador sonar embora não recorde pormenores porque não valorizámos o feito era só mais um exercício lembro a intensidade do ruido produzido pela frota que dispensava auscultadores a envolvência do comando com. Brites Nunes o facho e o oscar oscar. Só mais tarde é que ouvimos comentários. Fizemos muitas do tipo só que naquele dia era uma frota americana.
Concordo plenamente com o Dias. Eu estava lá também... Chefe do posto de comando. Não houve resposta ao ataque via telefone submarino, só silêncio do outro lado... Foi a surpresa... De seguida veio o pedido dos nossos registos... Espectáculo!
Sera que os novos e ditos sofisticados submarinos portugueses sao capazes de proesas destas? Que serviram que nem luvas a alguem, ja sabemos que sim, so que por estes lados o periscopio nao funciona!
Sera que os novos e ditos sofisticados submarinos portugueses sao capazes de proesas destas? Que serviram que nem luvas a alguem, ja sabemos que sim, so que por estes lados o periscopio nao funciona!
O começo da 4 esquadrilha foi 1 de outubro de 1967 com o submarino Albacora 163, ainda não tinhamos o Barracuda 194
Corrijo. Barracuda 164
Eu fui pesquisar ao Google e o Barrucada é 164, só para nota.
E o CTEN Brites Nunes não passou de CMG ! Não tinha perfil para Almirante...
Eu estava lá.
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