Partida de piloto kamikaze Foto: Hayakawa |
O Museu da Paz em Minami-Kyushu, na província japonesa de Kagoshima, tem a intenção de fazer entrar no património mundial 333 cartas de kamikazes, que estão entre cerca de 14.000 documentos sobre a II Guerra Mundial à guarda da instituição. A UNESCO lançou no dia 25 de fevereiro o seu convite anual à apresentação de candidaturas para o Registo Internacional da Memória do Mundo, fundado em 1997 para promover o património documental da humanidade.
A iniciativa não é contudo ao gosto de Pequim, que acusa o Império do Sol Nascente de tentar reescrever a História.
Os referidos documentos constam essencialmente de algumas linhas de despedida enviadas a parentes por pilotos, na véspera da sua missão suicida. Muitos expressam aí seu o orgulho em morrer pelo país. Entrevistado pela BBC, Tadamasa Itatsu de 89 anos, reuniu várias dezenas dessas cartas. Uma das mais surpreendentes assina pelo Tenente Ryoji Uehara e contrasta com o suposto fanatismo da sua missão: "Amanhã, quem acreditava na democracia irá deixar este mundo. Pode parecer solitário, mas o seu coração está cheio de satisfação. A Itália fascista e a Alemanha Nazi foram vencidas. O autoritarismo é construir uma casa com pedras partidas".
Itatsu foi ele mesmo kamikaze voluntário em março de 1945. Tinha 19 anos. Mas uma falha no motor obrigou-o a aterrar antes de chegar ao alvo. Envergonhado, considerou o suicídio durante bastante tempo, antes de iniciar em 1970 a sua valiosa coleção, para "manter a memória" dos seus camaradas caídos em combate.
A partir de 1944 a formação de esquadras especiais de combate, compostas principalmente por estudantes voluntários, pretendia permitir ao Império japonês parar o avanço do inimigo. Os pilotos kamikaze permaneceriam no imaginário popular, como a encarnação de um passado complexo, marcado pelo peso esmagador da tradição.
A intenção do Museu de Kagoshima não foi do agrado de Pequim, cujas relações com o Japão se têm deteriorado nos últimos meses, especialmente devido ao diferendo territorial em torno das ilhas Senkaku/Diaoyu e da polémica visita do ministro conservador Shizo Abe ao memorial Yasukuni Jinja.
A 10 de fevereiro, um porta-voz do ministério do Exterior chinês disse em conferência de imprensa: "Ao apresentar o pedido de registo de objetos kamikaze na Memória do Mundo da UNESCO, o Japão pretende embelezar a história da sua agressão militarista e visa basicamente minar as conquistas da guerra anti-fascista mundial e ordem internacional do pós-guerra.
Na sequência, Pequim fez ainda saber que irá submeter à UNESCO uma série de documentos sobre o massacre de Nanking perpetrado em 1937 por forças japonesas, bem como relatos da agência France 24. O Congresso Nacional do Povo também declarou dois dias de comemoração nacional, 3 de setembro e 13 de dezembro, datas da rendição japonesa e do massacre de Nanking.
Fonte: Le Figaro
Tradução: Pássaro de Ferro
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