Fiesler Storche - avião de reconhecimento da Luftwaffe |
Capitulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
18-19 de março de 1944
Regressamos de bicicleta a Nerac em tempo recorde e enfiamo-nos no esconderijo da casa do Gabriel. À noite o Raoul sai. Gabriel leva-me para a floresta. Uh oh!
Caminhamos durante horas. Estou alerta. Para onde me leva? Porquê? Tento não pensar em tanto frio que está.
Após várias horas, encontramo-nos com um grupo de homens de ar bastante duro. Gabriel explica que devo ficar com eles por agora. Na aldeia é muito perigoso. Mais Gestapo vai chegar.
Comemos alguma coisa e Gabriel parte. Fico com cerca de 20 homens. Levantamo-nos e caminhamos mais. Estou exausto, mas caminhar sempre me mantém quente. Finalmente, com a primeira luz, procuramos abrigo nos bosques cerrados, aninhamo-nos e mergulhamos num - especialmente para mim - muito necessitado sono. A neve na verdade permite algum calor. Alguns homens regressam atrás e redirecionam o nosso rasto.
Estava ainda agora a habituar-me ao Gabriel e ao Raoul. O que se segue? Posso confiar nestes tipos? Para onde vamos?
Uma coisa acho que compreendo: os alemães andam à nossa procura.
20-21 de março de 1944
A maior parte do tempo não faço ideia de onde estamos. Estamos constantemente em movimento, acampando duas vezes por dia para comer e dormir, nunca ficando no mesmo local mais do que algumas horas de cada vez.
Os alemães estão sempre no nosso encalço, com os Fiesler Storches a rasar a floresta, enquanto corremos a abrigar-nos debaixo das árvores maiores que encontramos. Estamos bem armados: pistolas-metralhadoras Sten britânicas e Llama automáticas espanholas de .38 - e eu ia adorar disparar um par de rajadas aos malditos Storches, acertar no radiador na barriga e abatê-lo. Mas se o piloto transmitisse por rádio a nossa localização, teríamos a Luftwaffe a bombardear estes bosques em 15 minutos. Claro que nunca sabemos com certeza se fomos localizados por um dos aviões de reconhecimento e a nossa posição transmitida. Por isso ficamos alerta como os veados, sabendo que cada passo pode levar-nos a uma emboscada alemã. Já aconteceu antes nestes bosques, apesar de normalmente serem os Maquis aos alemães e não o contrário - atacar uma patrulha a pé alemã, ou pulverizar uma pequena coluna militar motorizada.
Os Maquis escondem-se de dia e atacam à noite, destruindo pontes, sabotando linhas de caminho de ferro, rebentando comboios de munições ou equipamento militar. Através da resistência francesa, dúzias de grupos de Maquis como o nosso, escondem-se nas florestas e montanhas, mas ligadas às cidades e aldeias do sul de França. Os seus que trabalham em quartéis e campos de treino, mantêm-nos informados dos últimos movimentos de tropas e munições. Mas é complicado, porque todas as povoações têm informadores ou agentes-duplos. E de tempos a tempos, são levados a cabo assassinatos contra esta gente, por apoiantes pró-Nazis ou agentes do Governo de Vichy. Pergunto-me se haverá agentes duplos neste grupo.
Passear pelos bosques franceses em roupas civis, não é propriamente seguro para um aviador americano abatido. Se eu for apanhado, provavelmente enfrento o mesmo destino destes Maquis - entregue à Gestapo para interrogatório- tortura e depois fuzilado. Ao viajar com os Maquis, a Convenção de Genebra para Prisioneiros de Guerra não se aplica a mim. Mas preciso deles, se quero sair atravessando os Pirinéus. Só esperamos as neves derreterem para o podermos fazer. Está a ser um inverno anormalmente frio, com neve alta. Parece que nunca vai derreter....
22 de março de 1944
Estamos na floresta a comer ao raiar da aurora.
Ouvimos o avião alemão. Todos param. Ouvimos. É bastante próximo. Verificamos as redondezas. Estamos bem cobertos mas... recentemente alguns do grupo haviam saído para emboscar uma patrulha alemã. Os alemães estão chateados. Ninguém se mexe.
Depois de passar, acabamos de comer rapidamente, guardamos as coisas e pomo-nos a andar, mantendo-nos a coberto.
Faz outra passagem. Demasiado perto. Quando ou ouvimos todos ficam petrificados. Ninguém ousa mexer um músculo.
Enquanto estamos em movimento estamos todos a prémio, no caso de sermos detetados do ar e uma patrulha alemã querer retribuir o favor e emboscar-nos.
Estou com comichão para voltar para dentro de um avião. E abater o avião patrulha.
23 de março de 1944
Os Fiesler Storches não nos encontraram... ainda.
Viajo com os Maquis, mas não me deixam participar nas atividades noturnas. São um grupo fechado e eu sou nitidamente um intruso. A maior parte do tempo nem sei o que estão a preparar. Deixam-me para trás com um velhote que é o cozinheiro e alguns outros a guardar o acampamento. No primeiro dia por exemplo, mugi uma vaca que dois deles pediram "emprestada" numa quinta enquanto caminhávamos para o novo acampamento. Mais tarde ajudei a desmanchar carne, o que de algum modo divertiu os Maquis. faço o meu melhor para contribuir como posso. Não quero ser dispensável.
A neve parece não ter intenção de derreter e deixar-me escalar os Pirinéus para escapar para Espanha.
24 de março de 1944
Sou o primeiro piloto americano que conhecem e estão curiosos acerca do que eu penso da Força Aérea Alemã. Digo-lhes que o FockeWolf 190 é um sacana dum grande caça. Provavelmente ao nível do nosso P-51 Mustang. Mas o Mustang com depósitos nas asas pode escoltar bombardeiros até ao interior da Alemanha, o que é uma tremenda vantagem para a campanha americana de bombardeamentos diurnos. Apesar dos nossos serviços de informação nos terem avisado que os alemães chamaram os seus melhores pilotos da frente russa para lutar contra nós na Alemanha, digo-lhes que a diferença entre os caças não é tão importante como a diferença entre as capacidades dos pilotos que os voam, e até agora os americanos têm provado a sua superioridade com uma relação de abates de 1 para 10.
R. traduz isto e todos sorriem e acenam com a cabeça ao que eu digo, com exceção de um cabeçudo de que não gostei desde o primeiro momento que o vi. Não gosto nem confio nele. Faz uma pergunta em francês que faz com que R. franza o sobrolho e discuta com ele, por estar sequer a perguntar aquilo. Finalmente, Robert coloca-me a pergunta do cabeçudo em inglês. "Se os americanos são tão bons como tu dizes, porque é que nós vemos americanos a cair do céu como granizo - e porque estás tu aqui connosco?"
O FDP!
Comemos debaixo das árvores, a nossa mesa é uma tábua comprida. Fizeram uma grande panela de feijão e bife, da vaca que matámos. Olho para o fundo da mesa e vejo o cabeçudo a empanturrar-se de rancho, com o boné enterrado até às sobrancelhas. Levanto-me, aproximo-me dele, tiro-lhe o maldito chapéu e pouso-o na mesa.
Ficou furioso.
Mexe no cinto, tira a Llama, arma-a e coloca-a na mesa junto a ele, e coloca outra vez o boné.
Levanto-me pego numa Sten, destravo-a, ponho-lhe o carregador mesmo em frente do nariz do cabeçudo. Um toque no gatilho e dispara uma rajada de cerca de 30 balas. O cabeçudo fica branco como a cal. Tiro-lhe o boné da cabeça e atiro-o de encontro à mesa.
Os outros mordem a língua para não se rirem, porque o cabeçudo é sempre normalmente um chato, mas finalmente todos explodem.
O cabeçudo força um sorriso amarelo. O boné ficou na mesa e vai lá continuar.
Até vários saírem em missão e me deixarem sozinho com o velhote e alguns guardas.
Quando tento ferrar o olho começa a nevar. Resmungo. Isto não ajuda nada - vai atrasar a minha travessia dos Pirinéus ainda mais. Quem me dera poder ir nas missões. Quem me dera ter um avião com metralhadoras carregadas...
(Continua)
Texto: Victoria Yeager
Tradução: Pássaro de Ferro
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