A empresa americana, maior fabricante de aviões comerciais do mundo, desenvolveu o novo jato, denominado "Scorpion", (já abordado em anteriores edições aqui no Pássaro de Ferro) em parceria com a AirLand Enterprises LLC em menos de dois anos — tempo excepcionalmente curto para um avião militar. Foi usada tecnologia desenvolvida para a sua linha Cessna Citation de jatos executivos, mais sofisticados, adicionando componentes como assentos ejetáveis disponíveis nos catálogos de fornecedores em vez de projetá-los ela mesma
A Textron usou recursos próprios, que analistas estimam em centenas de milhões de dólares, e sem ter um contrato, algo raro numa indústria onde as empresas costumam garantir financiamento de governos, requisitos habituais antes de iniciarem projetos.
Alguns dos potenciais fornecedores tinham tão pouca fé no projeto que não quiseram participar. Mas o diretor-presidente da Textron, Scott Donnelly, diz estar confiante que existe um mercado mundial para jatos pequenos e baratos, capazes de realizar missões de espionagem, segurança e reconhecimento para as forças armadas, além de patrulhar fronteiras e controlar e abater traficantes de droga.
A Textron estima o potencial desse mercado em mais de 2.000 aviões e afirma que poderia começar a entregar o Scorpion em 2015 se obtiver encomendas este ano. O avião custa menos de 20 milhões de dólares (menos de 15 milhões de euros...) e foi projetado para ter custos operacionais menores que outros jatos que executam missões semelhantes. Isso coloca-o numa faixa intermediária entre turboélices como o Super Tucano, da Embraer SA, de 11 milhões de dólares (pouco mais de 8 milhões de euros) e muito vendido na América Latina e África —, e os avançados jatos de combate como o Gripen, da Saab SA, de US$ 43 milhões, por exemplo.
A Textron afirma que está a elaborar uma proposta de preço para um possível cliente governamental. não identificado, mas algumas fontes especializadas afirma ser do Oriente Médio. E adianta que "as forças armadas de vários países aliados dos Estados Unidos mostraram interesse e receberam informações, e as propostas foram enviadas", afirma a Textron.
A origem do Scorpion deu-se há dez anos, quando empreendedores passaram a desenvolver jatos leves que transportavam de quatro a cinco passageiros, tinham uma conceção e fabricação simplificadas e usavam peças já disponíveis no mercado.
A ideia não se materializou por problemas de desenvolvimento e falta de recursos. Mas um grupo de ex-oficiais militares e engenheiros aeroespaciais adotaram um conceito semelhante. Eles formaram a AirLand Enterprises e começaram a vender a ideia de um jato de baixo custo para as fabricantes do setor de defesa.
Whit Peters, ex-secretário da Força Aérea dos EUA que liderou o empreendimento da AirLand e agora ajuda a promover o Scorpion, diz que, na época, muitas empresas hesitaram. Mas, em 2011, ele propôs a ideia para Donnelly. Há 30 anos que a divisão Cessna, da Textron, não fabricava um avião militar, mas vinha desenvolvendo tecnologias de materiais compósitos e manufatura para os seus jatos do segmento comercial.
As duas empresas formaram uma sociedade, a Textron AirLand. Mais da metade do protótipo do Scorpion foi fabricado usando peças desenvolvidas para o jato Citation. Outras 20% foram compradas no mercado.
Bill Anderson, presidente da Textron AirLand, diz que duas grandes fornecedoras de equipamentos de defesa não quiseram participar do projeto porque tinham dúvidas sobre o tamanho do mercado ou o uso de materiais compósitos leves, cada vez mais comuns em aviões comerciais, na fabricação de um jato militar. Alguns fornecedores, porém, concordaram em financiar o projeto. A Martin-Baker Aircraft Co. forneceu gratuitamente as cadeiras ejetáveis, como parte do seu investimento. Apesar de os assentos fornecidos serem grandes de mais - e modificá-los oneraria e atrasaria o desenvolvimento - foi o canopy que se adaptou às cadeiras.
Mas o sucesso do Scorpion e de outras companhias e projetos que decidam desenvolver sistemas militares por sua conta e risco, sem um contrato, vai depender das vendas dos jatos. "Isso vai encorajar muitas empresas", diz Donnelly. E acrescenta: "ou então teremos muita gente que vai dizer: 'Eu avisei'!"
Fonte: The Wall Street Journal
Agradecimentos: Nuno Martins/Walkarounds
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