Imagem conceptual da Boeing para um caça de 6ª Geração |
Não é segredo nenhum que o F-35 é, a par com o programa de defesa mais caro de todos os tempos, quiçá (ou talvez também por isso) um dos mais polémicos.
Por entre dúvidas sobre as suas capacidades para substituir adequadamente as aeronaves a que se propõe, no inventário da Forca Aérea, Marinha e Fuzileiros dos EUA (F-16, A-10, F/A-18, Harrier...), estão também inúmeros problemas técnicos, atrasos no programa e deslizes orçamentais.
Por entre vozes discordantes dentro e fora dos militares, a posição oficial tem sido a de que “o F-35 será a espinha dorsal das forças americanas”, e vários sistemas de armas foram até colocados como sacrificáveis, de modo a disponibilizar verbas para o F-35.
As entrevistas e informações oficiais divulgadas, de quem com o JSF tem vindo a operar, invariavelmente falam maravilhas do novo caça. Nas últimas semanas contudo, embora de um modo velado, foi possível observar-se uma inflexão na relação oficial com o F-35. O maior sinal terá sido porventura o anúncio do início de desenvolvimento da 6ª Geração de caças para os EUA, alegadamente para “aproveitar a capacidade técnica acumulada” com o desenvolvimento da 5ª Geração.
Levantando o véu sobre os objectivos para esta nova geração de caças, verifica-se que pouco tem a ver com a predecessora. Segundo o Chefe de Operações Navais da US Navy, Alm. Johnathan Greenert, o novo caça pode nem sequer ser stealth, nem especialmente rápido. É que por um lado, os avanços tecnológicos em curso podem tornar a tecnologia stealth obsoleta (IRST, radares passivos ligados em rede, etc), o que deita imediatamente por terra a “superioridade” de qualquer caça stealth. Mais ainda: sem a tecnologia stealth ficam a nu as insuficiências destes relativamente a caças convencionais, fruto das limitações impostas pela tecnologia stealth. E a China até já afirma conseguir detectar aeronaves stealth a distâncias de 240 a 360 milhas (entre 400 a 575 km), o que significa duas a três vezes o alcance do míssil AIM-120 que o F-35 pode transportar. Apesar desta ser uma afirmação ainda por comprovar, a teoria que a sustenta é conhecida e facilmente compreensível: processando vários sinais provenientes de frequências rádio e a sua duração, de comunicações tácticas, equipamento de medição de distância, radar e sistema de identificação amigo/inimigo (IFF), para além da fonte de calor que continuarão a ser sempre os motores, ou até mesmo as perturbações aerodinâmicas causadas pela passagem de um aeronave na atmosfera, é possível detectar uma aeronave furtiva.
Por outro, os custos de desenvolvimento das aeronaves stealth, acabaram por levar ao paradoxo de os tornar “bons de mais” para por vezes serem usados na linha da frente, devido ao receio de perder aeronaves sobre território inimigo. Devido aos riscos que isso implica em termos do enorme custo das aeronaves em si, ou de permitir o acesso a essa tecnologia pelo inimigo (como já aconteceu na Sérvia e no Irão por exemplo).
Por outro ainda, as limitações de venda de tecnologia de ponta a aliados, acabam por tornar os programas de desenvolvimento mais caros. O F-22 por exemplo não obteve permissão de exportação, apesar do interesse de vários aliados. O B-2 não está sequer estacionado permanentemente em qualquer base fora dos EUA, devido ao receio de fugas de informação na sua tecnologia.
O programa de caça de 6ª Geração, baptizado F-X (USAF) ou F/A-XX (US Navy), pode ainda assim incorporar novas armas entretanto em promissor desenvolvimento, como o laser (ou “energia dirigida” como é designado), ou outras que consigam suprimir as defesas inimigas sem colocar em risco a aeronave, colocando por isso a ênfase em destruir as capacidades inimigas e não em tentar esconder a aeronave atacante.O novo caça poderá ainda ser tripulado ou não, mas as capacidades de comunicação em rede serão certamente um dos pontos fortes do projecto.
A velocidade não será também um dos principais quesitos do novo caça, mais ou menos pelas mesmas razões do stealth. O novo conceito aponta em não desperdiçar recursos para tentar contrariar o inevitável. E ser suficientemente rápido para fugir a mísseis capazes de atingir Mach 4,5 entra decididamente no critério.
Mais sinais de que o F-35 poderá passar ao lado da carreira que para ele se pretendia, são igualmente a possibilidade de criar uma nova aeronave para substituir especificamente o A-10 nas funções de Apoio Aéreo Próximo, tal como anunciado este mês pelo Gen. Hawk Carlisle, Chefe do Comando de Combate Aéreo, com uma cimeira a decorrer já em Março de 2015, com representantes dos diversos ramos das FAs americanas, no intuito de definir opções para esta missão, em que o F-35 tem sido especialmente apontado como inadequado.
Já do lado da US Navy, a desconfiança relativamente ao F-35 mantém-se para substituir os F/A-18, apesar dos irrepreensíveis testes de mar realizados no final de 2014. Uma prova disso são as baixas encomendas que a Marinha mantém do JSF (apenas 9 unidades actualmente em serviço e encomendas de somente 2 para 2015 e 4 para 2016), deixam perceber o pouco entusiasmo no JSF, por contraste com a agora aberta possibilidade de “saltar” o F-35 como “faz-tudo” da aviação embarcada, e passar directamente do Super Hornet ao F/A-XX.
Contudo, é ainda naturalmente cedo, para saber se a carreira do F-35 poderá vir a ser considerada bem-sucedida ou não. Programas anteriores com inícios difíceis (F-14, F-16), acabaram por ter desfechos felizes, mas o contrário é igualmente verdade ou mais ainda (F-111, F-4, ...). O que a história não deixa de ensinar no entanto, é que sempre que se pretende que uma aeronave seja boa em tudo, acaba por não ser a melhor em nada. E embora oficialmente o F-35 não esteja para já a ser enjeitado pelos principais operadores, provavelmente devido aos principais aspectos económicos para todas as partes envolvidas (fabricantes, investidores, governos, operadores, ...) os sinais de alarme vão-se sucedendo.
No mínimo, pode afirmar-se que a carreira do F-35 tem um grande ponto de interrogação perfeitamente visível, rodeado de muitas reticências.
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