"Há quase meio século, alguns pilotos que foram então destacados para rumar ao ultramar para operar os Fiat G-91 decidiram que era necessário encontrar uma espécie de identidade que os "agregasse" e que conjugasse as suas vontades e porque não as suas interrogações face àquilo que os esperava numa terra estranha.
No espaço de 24 horas, esse "símbolo" que procuraram criar teria de estar concluído, uma vez que era preciso rumar a terra africana rapidamente."
O bocadinho de história que hoje ouso aqui contar, ou recontar, resulta de uma conversa com um dos primeiros pilotos de FIAT G.91 que foram destacados para Moçambique, que me contou quando me mostrava um conjunto de emblemas bordados, que à laia de colecção, foi juntando e que reflectem uma parte significativa da sua vida militar.
Ainda por Lisboa, e constituída a equipe de seis pilotos iniciais da esquadra, e portanto com as ordens superiormente transmitidas e quase prontos a abalar, este grupo de pilotos tiveram de encontrar, ou criar, num curtíssimo espaço de tempo, aquele que se pretendia que fosse um símbolo para a esquadra. Ouvi esta história de um desses Jaguares fundadores, quando me mostrou este emblema ímpar e que, disse, « foi tudo tratado no espaço de um dia». Temos de encontrar um símbolo e um emblema «disse o chefe», o que não era fácil, encontrar um símbolo na forma de um animal que fosse agressivo e simbolizasse a missão, e após a exclusão por partes dos animais mais óbvios porque alusivos à caça ou porque já tomados por outras igualmente aguerridas esquadras, decidiram-se por um felino, como convém, desta feita o jaguar. Falta o mote, alguém diz, logo respondido com um: «vemos no Canto IX, por lá encontramos de certeza». Só faltava um desenho composto de todos os elementos encontrados. A solução foi encontrada na loja do fabricante de automóveis Jaguar, em Lisboa, não sem uma aguerrida negociação, por lá se conseguiu um dos seus emblemas. Retornado ao comandante da esquadra, o então Ten. Vitor Silva, mostrou a cabeça de jaguar, símbolo da marca inglesa, auferindo o assentimento do “chefe”, imediato que foi. Depois, foi o conseguir que uma senhora bordadeira conseguisse colocar tudo num conjunto, a cabeça do jaguar e o lema: De Nada a Forte Gente Se Temia, bordado com mestria e guarnecido de lantejoulas. Assim foi, no espaço de um dia que se criou mais um símbolo da Força Aérea Portuguesa, o da Esquadra 502 Jaguares.
Ao que julgo ter percebido, foram feitos mais seis emblemas, em tudo semelhantes a este original, um para cada um dos pilotos. Outros emblemas surjem mais tarde, um pouco diferentes.
Os primeiros oito FIAT G.91R/4 chegaram ao porto da Beira a 25 de Dezembro de 1968, desmantelados em contentores, foram montados e dados como operacionais seis dias depois no AB5 Nacala. A Esquadra 502 “Jaguares” foi criada em Janeiro de 1969, tendo inicialmente como pilotos:
Capitão Piloto-Aviador Fernando Fernandes (Jaguar-Mor)
Tenente Piloto-Aviador Manuel Bessa
Tenente Piloto-Aviador Rui Movila de Matos André
Tenente Piloto-Aviador Edgar Cardoso da Costa
Tenente Piloto-Aviador Vitor Manuel Rodrigues da Silva
Tenente Piloto-Aviador Costa Joaquim
Alguns dos primeiros FIAT G.91 da Esquadra 502 “Jaguares”, numa escala em Lourenço Marques, mostrando os primeiros jactos de combate naquela, então, província ultramarina. Na foto (da esquerda para a direita), os pilotos: Cap. Fernandes, Ten.André, Ten. Costa Joaquim, e Ten. Vitor Silva. À esquerda destes o Cap. Quaresma (da Secção de Transportes) e o filho.
Agradecimentos: Cor. Vitor Silva, Gen. Vizela Cardoso, Cor. Arnaut Monroy, e Gen. Conceição e Silva.