como simples praça, na Marinha de Guerra.
Por ser militar, as notícias do conflito de certo modo geraram alguma apreensão, em mim e nos restantes camaradas de armas que, apesar de Portugal não ter participado ativamente no conflito, não escondiam algum desconforto com a ideia de que, caso as coisas alastrassem para uma dimensão mais global, não tivéssemos, por alguma razão, que ir para uma área de conflito.
Como é evidente, essa apreensão cedo se desvaneceu, transportando-nos para uma mera observação comum das imagens que nos chegavam.
A "Tempestade do Deserto" foi, aliás, a pioneira na noção de "a guerra em direto". Ninguém esquece os célebres diretos de Artur Albarran e do
José Rodrigues dos Santos, na televisão nacional, ou de Peter Arnett da CNN.
Com os Estados Unidos à cabeça da então "Coligação Internacional", ver em ação caças F-14, F-15 ou F-16, F/A-18, bombardeiros B-52 e B-1, o Stealth" F-117, etc. era absolutamente fascinante. Depois, o constante vai e vem nos porta-aviões, com os míticos A-6 e A-7E em operações de ataque e os já mencionados F-14
não muito longe da "moda" Top Gun...
bem como os A-10 e helicópteros de diversas formas e valências a partir de bases em terra, completavam o ramalhete do delírio.
A soma de meios aéreos não parava e sobretudo os Tornado ingleses, foram outra das imagens de marca daqueles intensos dias de operações aéreas sobre o Iraque e o Kuwait, com as suas incursões de ataque a baixa altitude, razando o amarelado do deserto...
Parece que tudo o que se passou acabou por se embrulhar numa espécie de aura. Não a rotularia de nostálgica, porque a guerra não é dada a esses predicados, mas foram momentos - meses - em que a televisão foi uma janela "sem filtros"
a televisão mostra apenas o que interessa mostrar
mas o conceito de podermos dizer, sem particular receio de errar
- Eu estou a ver o que está a acontecer, agora!
ganhou toda uma nova consistência.
A coisa, o conceito, passou tantas vezes de espontâneo a premeditado, a pensado e a condicionado colocando a causa depois da televisão e não a televisão depois da causa, subvertendo a lógica estabelecida, digamos.
Vergílio Ferreira, sobre cujo nascimento passam por estes dias 100 anos, afirmava que a televisão
"esse instrumento redutor(...) de um modo geral, a televisão desnaturou o Homem, miniaturizou-o, fazendo de tudo um pormenor (...)
Ora, na "Guerra do Golfo", muitas coisas surgiram como novidade, quanto mais não seja encimadas pelo próprio facto de a televisão passar a condicionar a guerra e nem sempre o contrário, como seria de esperar. Foram portanto tempos interessantes, com uma escapadela sociológica para lá da guerra como entidade, derramando-a para outras evoluções da marcha humana.
Voltando aos aviões, o que verdadeiramente interessa numa página que lhes é dedicada, é perceber o seu papel no desenrolar deste conflito. E o seu papel foi preponderante, decisivo no desfecho da situação e na altura a (quase) tradição de uma missão, um avião, fazia completo sentido. E havia muitos aviões para muitas missões.
Hoje já não é tanto assim e a frase metamorfoseou-se para um avião, várias missões.
De resto, a Guerra é a Guerra - cantava Fausto - e volvidos estes 25 anos, com uma ironia demasiado grande, demasiado coberta pelo estouro das armas e pela contagem de mortos, o Iraque e aquela zona continuam como quase sempre estiveram. Todos os dias.
Em guerra!
Texto: ©AL/Pássaro de Ferro