Já está quase pronta a edição deste ano do projecto em livro “European Military Out Of Service” (EMOOS), de que são autores os Srs. Otger van der Kooij e o Andy Marden, edição que se prevê esteja acessível no final deste mês, e que contempla, como não podia deixar de ser, o nosso jardim à beira mar plantado. Esta publicação, ao jeito de um roteiro, enumera por país e por localidade, onde podemos encontrar aviões históricos ou em fim de vida, quer seja em museus, colecções particulares, estruturas aeroportuárias militares e civis, espaços públicos, e sucatas. A primeira edição desta que é a versão “não Reino Unido” surge em 1998, ainda com a designação de "European Wrecks & Relics", e que cobria quer aeronaves ex-militares como também inúmeras aeronaves civis históricas, mas foi com a inclusão de inúmeros países europeus do antigo Bloco de Leste que esta passou para os moldes actuais, em que inclui apenas, e quase em exclusivo, aeronaves militares ou ex-militares.
Num conjunto de percursos que fiz recentemente com o intuito de actualizar a informação para esta publicação, queria aqui destacar alguns locais que mereceram a minha atenção, desde logo, e aqui bem perto do Porto, em V.N. de Famalicão, fica o Museu da Guerra Colonial, resultado de uma parceria entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, da Associação de Deficientes das Forças Armadas, e do Externato Infante D. Henrique/Alfacoop de Ruílhe, Braga.
Um espaço que merece a visita não só pela forma como este tema recente da nossa história colectiva nos é aqui apresentado, com uma abordagem muito abrangente a todo o enquadramento temporal em que surgem e se desenvolveram os conflitos nas três frentes, recorrendo a variadíssimos suportes, como o texto e imagem, o vídeo e também inúmeros artefactos, bem como pelo conjunto de artefactos presentes. Foi mais precisamente por causa de um deles que ali fui, o SE.3160 Alouette III nº 19314, um aparelho que serviu na FAP entre 1969 e 2007. Curiosamente foi em 2000, um dos aparelhos da Esquadra 552 “Zangões” que integrou o contingente português que levou de regresso os Alouette III a Timor, e onde por lá sofreu um acidente, do qual resultou uma perda de vida de um camarada do Exército. O aparelho voltou ao activo mas, em Abril de 2007, sofre um outro acidente durante um voo de instrução, e foi retirado definitivamente de serviço. Transita para o acervo do Museu do Ar, para ser restaurado no Pólo do Ovar, em Maceda (AM1) para depois ser integrado na exposição do Museu da Guerra Colonial.
O Alouette III 19314 alguns dias antes de voltar a Timor, para uma missão das Nações Unidas (UNTAET).
Um bocadinho mais para baixo, mas muito perto também, fica o Museu Pedagógico Luso-Brasileiro, em Pedroso, V.N.Gaia, instituição que pertence à secção europeia da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, e tem por objectivo a promoção e divulgação da aeronáutica. Criada em 2012 tem vindo a adquirir algum material para o seu acervo e para o seu projecto. Ainda sem um espaço que permita visitas regulares, nas suas instalações poderemos encontrar um conjunto de artefactos de diversos aparelhos militares. Recebeu o seu primeiro avião, com a cedência por parte da FAP/Museu do Ar, da aeronave Lockheed T-33A nº 1928 (s/n 51-17513; c/n 7573).
Anos antes, o T-33A 1928, em open storage em Beja, junto à “fábrica” .
Um espaço que mereceu também uma visita demorada, é o Espaço de Memória, em S. Jacinto, Aveiro, onde está baseado o Regimento de Infantaria nr. 10, do Exército Português. Esta base, que foi a minha “casa” durante cerca de dois anos e meio, está num local que tem já mais de 100 anos de história, comemorados ainda no mês passado, e que deveria ser muito justamente classificado como de local histórico no que concerne à história da aeronáutica militar em Portugal, registando a presença dos gloriosos malucos das máquinas voadoras desde os finais do remoto ano de 1917, com a instalação por parte da Aviação Naval Francesa, de um centro de aviação naval. Decorriam os derradeiros momentos da Grande Guerra, desta base operaram os Donnet-Dehnaut D.D.8, e Georges-Lévy G.L.-40 HB2, missões de patrulhamento marítimo e luta anti-submarina.
O Espaço Memória está muito bem conseguido, retratando todas as fases da história do local e das unidades que por ali passaram até aos nossos dias, desde a Marinha, à Força Aérea e depois Exército. De realçar num pequeno passeio a pé, desde a Porta de Armas até à zona da pista, todos os edifícios de diversas épocas, sendo paragem obrigatória o hangar da US Navy que foi instalado em Ponta Delgada, e que depois, em 1921 foi desmontado e montado aqui no Centro de Aviação Naval de Aveiro, sendo por isso, talvez, dos hangares mais antigos ainda existentes no país.
Aqui está presentemente um avião, um Reims Cessna FTB-337G No. 3715, lembrando a presença da FAP, nomeadamente da última unidade aérea aqui baseada, a Esquadra 702 “Os Indomáveis do Norte”, entre 1976 e 1992.
Um FTB-337G "Puxa-Empurra" descansa junto à Porta de Armas da unidade.
Bastante mais a Sul, oportunidade surgiu de com alguns amigos revisitar o Museu de Marinha, em Belém, nomeadamente a sua importante colecção de aeronaves, onde gosto sempre de voltar.
Um Schreck F.B.A. operados pela Marinha in illo tempore, é uma de três jóias da colecção.
Sendo considerado por diversos autores um dos museus mundiais possuidor de uma das maiores e mais importantes colecções de aeronaves no seu acervo, o Museu do Ar é, modéstia aparte, e no que concerne ao continente europeu, sem dúvida um dos mais importantes!
O Museu do Ar, conta desde o pretérito dia 21 de Fevereiro com 50 primaveras, desde a sua fundação em 1968 tem vindo a crescer significativamente, sendo certo que, desde a inauguração das actuais instalações em 2009 deu definitivamente um salto qualitativo muito importante.
Todos nós que somos entusiastas da aviação militar portuguesa, e em especial aqueles que tiveram o privilégio de servir na FAP, temos naturalmente um carinho muito especial pela manutenção da memória, pela preservação do património material e imaterial que são a razão de ser do Museu do Ar. Por isso voltar ao Museu do Ar em Sintra, bem como aos seus Pólos de Alverca, e de Ovar (Maceda), fazem parte do circuito durante o ano.
Para além da colecção que podemos apreciar em Sintra e nos pólos do museu, e nas unidades da FAP, muitos dos aviões do acervo do Museu estão armazenados, apesar disso tudo, muito já se tem feito e continua a fazer pela colecção, já encontramos por isso uma percentagem muito significativa dos aviões em exposição (56%). Para isso contribuiu o trabalho do pessoal do Museu, o pessoal que nas unidades base tem feito também muito trabalho de manutenção e restauro, e também algum trabalho voluntário, se bem que, este último, e em minha opinião, poderia ser mais, e sobretudo mais acessível à sociedade civil. O Museu também possui alguns espaços inacessíveis ao público, nomeadamente os espaços de armazenamento daquilo que designam como as “reservas” do museu, desde logo em Alverca, no DGMFA (Hangar 15 e “cerca”), e em Alcochete, na CTA.
Dos 160 aviões do acervo destaco alguns que para mim são significativos, ou de que gosto mais, logo à cabeça os A-7P e TA-7P Corsair II, o CF-104 Starfighter, o Chipmunk nº1376 (último construído nas OGMA e no Mundo!), o Junkers Ju52 nº6304 (o do Portugal dos Pequenitos), o Bristol Bolingbroke, o Beech Bonanza do Com. Faria e Melo, entre outros.
Impossível deixar de fora a referência ao Museu da TAP, cuja parte do seu acervo se encontra em Sintra “incrustada”, à laia de jóia rara, na exposição do Museu do Ar. Desde que saiu do quase anonimato em que se encontrava, num espaço de exposição diminuto no aeroporto de Lisboa, tem em Sintra sido finalmente dado a conhecer o seu acervo e as miríades de histórias que ele nos conta. Pode também aqui em Sintra ver o resultado final do restauro ao Douglas DC-3 (reg.CS-DGA) que, em tempos, e ainda em Lisboa, foi restaurado e depois se degradou.
Esta parceria entre a TAP e a FAP, através dos seus museus, irá ver um novo avião restaurado! Desta feita o Douglas SC-54D (exFAP 6606, exTAP CS-TSC) que há muitos anos está na “cerca” em Alverca.
O Museu do Ar em Sintra, assim como os seus Pólos, merecem uma visita diversas vezes ao ano.
Não incluídos neste percurso aqui escrito, ficaram os não menos importantes o Museu Aero Fénix, com o seu não menos invejável acervo que inclui um Boeing Stearman, um Chipmunk, um T-6G e um MH1521 Broussard; o Museu do Antomóvel Antigo e Clássico do Porto; o “Air Chapter 446 – Centro de Divulgação Aeronáutica”, na Senhora da Hora (este não possui aeronaves militares ou ex-militares).
Para além destes, há diversos outros locais de acesso relativamente fácil que “obrigam” um entusiasta de aviação mais dedicado a estes temas a ter de percorrer o país de lés a lés, ilhas inclusive, para aceder aos locais onde podemos encontrar aeronaves – um total de 63 locais e 343 aeronaves [o EMOOS refere este total, o meu total, que inclui aeronaves civis, é de 75 locais e 397 aeronaves].
Rui Ferreira
Entusiasta de Aviação
Agradecimento – o autor deseja agradecer ao Comando do Pássaro de Ferro a possibilidade de aqui poder publicar este escrito e também a todo o conjunto de pessoas que contribuíram para a possibilidade de aceder aos diferentes locais e também colaboraram com informação para manter a secção portuguesa do EMOOS o mais actualizada possível. A todos o meu muito obrigado!
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