sábado, 31 de agosto de 2019

Apontamento Dublinense ... [M2056 - 43/2019]


Na oportunidade de visitar uma das cidades na minha “bucket list”, e não sendo o motivo aeronáutico aquele da visita, desloquei-me a Dublin para uma visita de alguns dias, durante o pretérito mês de Maio.
De entre os muitos locais que visitei na cidade, um deles foi o National Museum of Ireland - Decorative Arts & History, que está instalado no Collins Barracks, e de muitas das secções que visitei, despertou a minha atenção, por razões óbvias, a secção denominada de Soldiers and Chiefs.
Nela é possível percorrer a história militar do país, e lá nos é dada a conhecer a participação do país nos diferentes conflitos, internos e externos, e onde é sobretudo enaltecida a valentia, a coragem e o espírito de dedicação à missão do militar irlandês ao longo dos séculos. Naturalmente, chamaram-me mais à atenção todos os aspectos relacionados com a aviação militar, dos quais vos deixo aqui umas poucas notas, com destaque inicial para duas aeronaves que integram a exposição, cedidas pelo Air Corps Museum, que tem sede em Baldonnel.

Miles M.14A Magister I nº34 
(c/n 1928, exRAF N5392)

Este aparelho, semelhante aos que equiparam a nossa Arma de Aeronáutica, serviu no Irish Air Corps (IAC) entre 1939 e 1952 na missão de instrução de pilotagem. Este aparelho em particular, depois de retirado de serviço, ainda viu a sua vida operacional prolongada já que foi utilizado para instrucção no solo até 1968. Está aqui em exposição aqui desde 1996.



  DeHavilland DH.115 Vampire T.55 nº 198 
(ex RAF XE977)

Herança do inicio da era dos jactos no IAC, foram operados entre 1956 e 1976 um total de seis aparelhos (três recebidos em 1956 e mais três a partir de 1960). Operados pelo Fighter Squadron, baseado em Baldonnel em missões de caça, foram substituídos pelo Fouga Magister, recebidos a partir de 1975. Os aparelhos recebidos eram ex-RAF do modelo T.11.


Motor de uma B-17 Fortaleza Voadora que se despenhou nas montanhas perto de Sligo.

Integra também a exposição, uma relíquia da 2ªGG, um motor de uma Fortaleza Voadora, que se despenhou nas montanhas perto de Sligo, a 9 de Dezembro de 1943. O aparelho em questão, fazia um voo de entrega para o Reino Unido, e ter-se há perdido devido ao nevoeiro, despenhando-se. Numa esforçada missão de salvamento, foi possível resgatar sete dos seus dez tripulantes, transportados desde as montanhas e recebendo todos eles tratamento médico antes de serem transferidos para a Irlanda do Norte.

Muito antes de chegar aos aviões em tamanho real, desta secção dedicada aos Soldados e Chefes, encontramos uma referência a um dos heróis da Grande Guerra, Gottfried von Banfield.


Do conjunto destaca-se, para além de uma foto autografada, uma maquete do Löhner de Gottfried von Banfield, bem como um velocímetro original do avião, e ainda, a Cruz Militar de Maria Teresa, a mais alta condecoração austríaca à época, e também a última concedida.
Conhecido nos meandros dos historiadores dos Wild Geese como “The Eagle of Trieste”, foi o piloto austríaco mais condecorado na 1ªGG, abatendo um total de 20 aparelhos inimigos, embora apenas 9 confirmados.
O que leva a estar mencionado este herói aqui quando não era de nacionalidade irlandesa e referindo o heroísmo de actos e feitos que tiveram lugar tão longe daqui? Bom, não sendo desde o berço, ao que parece era-o de sangue, já que descendia dos irlandeses católicos que procuraram refúgio na Áustria nos idos de 1800’s e isso faz dele um bravo irlandês como outro qualquer!


Na imagem, no canto inferior direito, restos de uma bomba que 
ia provocando uma grande calamidade!

É impensável ir a Dublin e não ir à fonte de onde brota a melhor cerveja do mundo (!), e foi precisamente na visita à Guinness Storehouse que encontrei um outro artefacto aeronáutico, sob a forma dos planos de cauda de uma bomba alemã de 550lb, com que na madrugada de 15 de Julho de 1941 um bombardeiro alemão bombardeou um dos navios da frota da Guinness, o S.S. Carrowdore, a 15 milhas de Dublin.
Por sorte, o ataque foi efectuado a baixa altitude e a bomba vinha numa trajectória quase horizontal pelo que atingiu a proa fazendo ricochete, caindo no mar onde acabou por explodir. A cauda da bomba ficou presa na estrutura do navio (o corpo da bomba é uma recriação).

Termino com um cartaz de motivo aeronáutico, já conhecido de todos por certo, mas ao qual acho uma certa graça.

 Agora vou ali beber um pint e já volto…


Rui “A-7” Ferreira
Entusiasta de Aviação

Nota – O autor não escreve segundo o actual acordo ortográfico.

P.S. - Isto fez-me recordar um dos projectos que tenho por aqui engavetados, nomeadamente da utilização do Alouette III na Irlanda, pelo que nos próximos dias irei trazer à mole Pássaro-Ferrosiana, um escrito antigo, ilustrado com algumas imagens e revisto, sobre os Alouette III do Irish Air Corps.

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