Cheguei aqui com o propósito de comprar queijadas fresquinhas mas não consegui que me atendessem, e por isso tive de voltar outro dia qualquer. Mas, já que tinha feito a viagem, aproveitei e perguntei ao Nosso Infante algo que, pensei eu, por ele estar para li há uns anos, me soubesse responder... Mas ele não sabia.
Não encontrei, ou não soube encontrar, evidência em Vila Franca do Campo da existência de algum marco ou memorial da chegada a estas paragens, a 9 de Maio de 1926, do “Infante de Sagres”, o hidroavião Fokker T.III (nº25) tripulado pelos Tenentes Moreira de Campos e Neves Ferreira. Estes aviadores da Marinha, empreendiam a primeira ligação Lisboa-Madeira-Açores-Lisboa, uma expedição que visava estudar as rotas transatlânticas entre a Europa e o continente Americano. No dia seguinte à sua chegada a Vila Franca do Campo, completaram esta etapa da viagem, voando para Ponta Delgada. Infelizmente, alguns problemas com o avião fizeram com que já não regressasse pela via aérea.
O “Infante de Sagres” amarado na baía de Vila Franca do Campo.
O “Infante de Sagres” na rampa dos hidroaviões da antiga US Naval Base 13,
e do antigo CAN dos Açores, junto ao Forte de S. Brás.
e do antigo CAN dos Açores, junto ao Forte de S. Brás.
Num outro dia qualquer, vindo da Ribeira Grande, subindo estrada fora até ao Pico da Barrosa, num dos deslumbrantes miradouros semeados pelo caminho, à vista da Lagoa do Fogo, encontrei por lá um memorial, composto por um painel azulejado e um cruzeiro, que perpetuam a memória do acidente aéreo ocorrido a 12/10/1968. O painel inspira algum cuidado, merecendo já há uns anos um restauro dos maus tratos do clima mas, sobretudo da estupidez de alguns humanos…
Como o dia estava bom, saí do carro e subi até ao cruzeiro (até dei um tombo, pena é não haver a competente fotografia!), e estando lá, avista-se para Nascente o Pico da Vara [1.103m], local onde ocorreram dois acidentes aéreos, um que vitimou o piloto de um dos Gloster Gladiator da Esquadrilha Expedicionária de Caça nº 1, baseado em Rabo de Peixe, e um outro, bem mais grave, um acidente com um Lockheed Constelation da Air France, onde perderam a vida 48 pessoas.
Nunca lá fui acima, ao Pico da Vara, e tenho mesmo de planear lá ir de uma próxima vez, mesmo até porque há um percurso pedestre que nos leva ao topo, e que passa pelos memoriais alusivos a estes dois acidentes.
Alguns dias depois, em Ponta Delgada, fui visitar um outro local, sem ligação com a temática da aviação, mas antes à marinha, o British Protestant Cemetery, na Rua da Mãe de Deus, onde fui visitar as Commonwealth War Graves (CWG) ali existentes. Na minha curiosidade apenas quis de alguma forma completar a lista das sepulturas da CWG que existem em Portugal, 113 no total, já referidas em outros trabalhos.
Ainda na capital micaelense, pela marginal fora, dirigi-me ao Forte de S. Brás em busca, aqui sim, de algo aeronáutico... Aeronaval é mais correcto. Aproveitei até para uma visita ao Museu Militar dos Açores que fica no seu interior. Ainda que a visita fosse rápida, percorri todas as salas da exposição.
Contudo, e fora a maquete de um Curtiss R-6 do United States Marine Corps, logo à entrada, não encontrei por lá, em lugar nenhum, memorial ou referências à US Naval Base 13 [1917-1919] ou ao Centro de Aviação Naval dos Açores (1919 – 1921) nem ao CAN de Ponta Delgada (1941 – 1946).
No exterior, já bastante modificado em relação há 100 anos, nada resta do local, das rampas, dos edifícios, ainda que na face do forte existem indícios de construções anteriores que, remontam quem sabe à presença naval norte-americana ou portuguesa, talvez à localização de edifícios desses tempos. Mas nem tudo se perdeu, por exemplo, o hangar da base norte-americana ainda está de pé em S. Jacinto, fazendo com que seja talvez o segundo hangar mais antigo existente, sendo o primeiro, o hangar de balão, em Alverca.
Outros edifícios haverá por certo, que nesses tempos recuados foram utilizados para fins militares. Exemplo disso, ainda de pé, mas com outra serventia, na Avenida Roberto Ivens, o edifício onde esteve localizado o Quartel General das forças norte-americanas.
De notar, junto à entrada do museu, uma homenagem levada a cabo há dois anos, aos marinheiros que desde 1975 mantém uma presença de soberania na região.
Depois de andar de um lado para o outro, à procura de resquícios da presença da aviação, os que lá estão e os que não, fui almoçar em casa de Amigos, que é uma das coisas boas que tem os Açores, a gente planta amizades, depois eles cobram a nossa presença e dão-nos de comer e beber … chatice!
Rui “A-7“ Ferreira
Entusiasta de Aviação
Nota – o autor insiste em escrever na graphia antiga.
Adenda – quando terminava a edição deste texto e fotos, fui chamado à atenção, que no Alto da Mãe de Deus, existe um memorial alusivo ao centenário da criação do Centro e Aviação Marítima dos Açores, inaugurado em Março deste ano, com toda a pompa e circunstância, e … sem aviões. Nem aviões, nem tão pouco o memorial está junto ao local onde “deveria” estar, o local onde a aviação naval se iniciou na ilha…
Agradecimento especial ao Com. Hugo Cabral pela preciosa ajuda.
1 Comentários:
O Rui Ferreira já nos habituou à sua escrita, muito particular, sobre temas que versam a história da aviação, sobretudo dedicada à aviação na parcela do território português mais díspare e descontínua, que são os Açores.
Na senda de excelentes artigos sobre os CWG em que pontificam os existentes nos Açores, oferece-nos agora este apontamento sobre o Fokker T III "Infante de sagres",
De escrita agradável, com algum humor à mistura, consegue que o leitor se renda e não descanse enquanto não chegar ao fim da última gota de tinta, que dá forma ao último ponto final, sem prejuízo dos aspetos e pormenores históricos, esmiuçados ao mais ínfimo pormenor.
É um privilégio contar com este jovem escritpr de veia aeronaútica, que muitos e bons trabalhos ainda produzirá, certamente!
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