EH101 Merlin da FAP com camuflagem táctica |
No início da semana transacta, durante a presença em Portugal de Mankeur Ndiaye, representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a República Centro-Africana, ficou conhecida publicamente a vontade daquela organização no reforço do contingente luso na missão MINUSCA (Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana).
"Vou tentar ver com o senhor ministro o que podemos fazer em conjunto para reforçar os meios de intervenção da MINUSCA, incluindo com meios aéreos", referiu a 13 de Janeiro de 2020, à margem de uma conferência no Instituto de Defesa Nacional, sublinhando ainda que "os meios aéreos são muito importantes", antes da reunião marcada para o final da tarde do mesmo dia, com o ministro da Defesa Gomes Cravinho.
Esta necessidade, não é de agora, e tinha já sido aliás, identificada várias vezes pelas chefias portuguesas. As forças nacionais destacadas na RCA têm sido até ao momento apoiadas por helicópteros de várias proveniências, mas com cada vez maior dificuldade em termos operacionais, pelas mais diversas razões. A última, terá sido a queda de um dos três helicópteros senegaleses, que apoiavam a Força de Reacção Rápida portuguesa até Outubro passado, quando os restantes dois se encontravam já com problemas na sua operação.
É nesta sequência de eventos, que surge a solicitação do representante da ONU, do reforço da força portuguesa, que diz o mesmo interlocutor "faz a diferença no terreno". Esta necessidade é agora ainda mais premente, devido à necessidade de realização de eleições: "Insistimos na necessidade da mobilização dos recursos, porque sem recursos não poderemos organizar as eleições" disse a propósito.
No entanto, depois de décadas de avanços e recuos, as Forças Armadas portuguesas encontram-se, por motivos diversos, desfalcadas de meios de asas rotativas que possam colmatar esta necessidade.
O Exército chegou a ter nove helicópteros EC635 prontos, que foram, na época, recusados por falta de certificação para uso militar. Seguiu-se a participação no programa NH90, que acabaria cancelada em 2012, pelo Governo de então, bem como a Unidade de Aviação Ligeira do Exército, que era suposto vir a operar esses meios aéreos.
Já relativamente aos meios da Força Aérea, a substituição do Alouete III - usado intensamente em combate no Ultramar - só foi concretizada in extremis, e devido à descontinuação do apoio do fabricante do modelo. O seu sucessor - o AW119 Koala - embora excelente na instrução de pilotagem, para que foi adquirido, é uma versão civil, não tendo, tal como o EC635, certificação para uso em operações militares. Resta por isso o EH101 Merlin, que substituiu na FAP o SA-330 Puma, este último também usado nas guerras de África, a par com o Alouette III.
Causará alguma estranheza a razão pela qual esta frota não tem sido considerada para o uso em teatro de guerra pelas forças portuguesas, quando Reino Unido e Itália já o fizeram no Médio Oriente e a Dinamarca recentemente destacou duas unidades no Mali.
Os AW101 Merlin dinamarqueses na Operação Barkhane no Mali |
A frota de EH101 da Força Aérea Portuguesa é constituída por doze células EH101 Merlin, cujas funções têm sido maioritariamente a Busca e Salvamento (SAR). Possuem contudo certificação para uso militar, sendo essa mesmo a razão da sua camuflagem táctica. Podem levar até três atiradores (um em cada um das portas laterais e outra na traseira). Quatro células (n/c 19609 a 19612) são do modelo EH101-516, específicas para as funções de Combat Search and Rescue (CSAR), possuindo sistemas adicionais de ajuda a sobrevivência em combate (Defensive Aids Suite – DAS), incluindo Receptor de Alerta Radar (Radar Warning Receiver – RWR), Sistema de Alerta Míssil (Missile Warning System –MWS) e Sistema Dispensador de Contramedidas (Counter Measures Dispensing System – CMDS).
EH101-516 Merlin da FAP em treino de operações tácticas |
As razões para a sua não utilização em teatro de guerra poderão apenas, por isso, estar dependentes dos problemas de operacionalidade que têm afectado a frota, seja devido às dificuldades de manutenção, seja por falta de tripulações qualificadas, o que causou já mesmo constrangimentos ao funcionamento dos três alertas de SAR, que a Esquadra 751 assegura em Portugal continental e nas ilhas.
Certo é que, na Lei da Programação Militar (LPM) até 2030, está inscrita uma verba de 53M EUR para " cinco helicópteros de evacuação". Este valor é, à primeira vista, compatível com o modelo AW139 da Leonardo, empresa que terá sido sondada para apresentar propostas, que preencham os requisitos portugueses. A urgência na aquisição dos helicópteros, para utilização imediata em teatro de guerra, parece contudo, não ser compatível com aeronaves novas, aconselhando eventualmente a escolha de aeronaves em segunda mão, escolha essa que estará também a ser estudada pelas chefias militares e Ministério da Defesa.
Com a constante sangria de oficiais, sargentos e praças da Força Aérea, resta saber se haverá igualmente pessoal para os operar.
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