Não tenho a vantagem, ou desvantagem, de estar em teletrabalho, pelo que tenho de arriscar a vida todos os dias e vir enfrentar as feras, o que, no caso concreto, é uma daquelas feras minúsculas com o poder de um gigante, uma espécie de efeito pinscher, mas que, neste caso, o pinscher morde.
Como não estou em casa, o tempo de que se dispõe para trabalhar estas matérias dos Pássaro(s) de Ferro é mais curto, ainda assim, na oportunidade conferida por um Amigo, que me emprestou um scanner de slides, e na vã tentativa de acelerar um processo antigo, e moroso, de digitalização de alguns milhares de slides que possuo na minha colecção, lá meti mãos à obra.
Estes slides todos refrescaram a memória para um conjunto de imagens das quais já não me recordava mas supunha guardadas na massa cinzenta, e que me lembraram momentos que experienciei, desde que comecei a fotografar aviões mais exaustivamente.
Naturalmente que, todas estas imagens ajudam à festa dos incontáveis projectos de escrita que tenho enfiados na gaveta, ou no buraco negro, como lhe costumo chamar.
O 43º Aniversário da FAP, em 1995, foi comemorado com um grande festival aéreo em Monte Real (BA5), que incluiu diversas participações estrangeiras, realizando-se num tempo que, poderemos chamar de “vacas gordas”, e que incluiu a actuação das patrulhas Marche Vert (Marrocos), Patrouille de France (França), e demonstrações de voo (solo displays) de aviões como o Tornado IDS Italiano e Alemão, F-18 espanhol, um AMX do RSV (Risparto Sperimentale di Vuolo), os Marche Vert de Marrocos a executarem manobras “amarrados” por cordas … etc.
Foram para mim algumas “primeiras vezes”, e uma espécie de deslumbramento de ver pela primeira vez que vi um Nimrod da RAF, um Aeritalia G.222, FB-111’s da USAF, e o A-10 Thunderbolt II com o seu impressionante canhão Gatling.
Foi também um festival aéreo típico, sol no dia de treinos e chuva no dia de público, se bem que, na altura, não sei que influência teria ou não o meu Amigo “Black Cloud” na matéria meteorológica, podendo contudo especular que ele apenas pode assistir ao dia do festival e, por isso… choveu.
Já não me lembro exactamente como, mas consegui assistir ao dia de treinos integrado na “pool de jornalistas”. Na tarde desse dia (de manhã esteve farrusco mas de tarde este um sol fantástico), antes de se iniciarem os treinos, e depois de muita insistência e persistência conseguimos que fossemos todos colocados no cruzamento das pistas, do lado poente em relação à pista e com o sol nas costas. E só não foi para lá a RTP, porque era muito trabalho ter de montar tudo num dia e depois desmontar e montar tudo outra vez no dia seguinte. Só houve por isso cobertura fotográfica, e na altura, creio que foi o Correio da Manhã, fez uma reportagem fotográfica muito boa.
Eu já não sei que máquina tinha comigo, talvez uma Lomo, mas fiz alguns slides em ambos os dias, sendo de realçar um acontecimento fora do vulgar que tive a sorte de registar em fotografia. Sim, porque isto de andar a fotografar seja lá que tema for, corrijam-me os mestres, é preciso engenho e arte e, também o ter um “olho atento” e também alguma sorte, para se registar tudo o que é traduzível em fotografia (poderia filosofar um pouco mas, não tenho tempo).
Ora, uma das exibições do programa, era a demonstração de performance de um Tornado IDS italiano, que efectuou uma descolagem impressionante por cima de nós, e um conjunto de manobras formidáveis, mas foi à aterragem que algo de inesperado aconteceu.
Faz uma aterragem táctica, simulando uma pista curta, o que implica que muito cedo, logo após o toque do trem principal no chão o piloto tenha de aplicar de imediato força nos pedais para travar. O piloto italiano, aterrou o Tornado com bastante força e, terá aplicado involuntariamente força diferente em ambos os pedais, o que fez com que o avião começou a guinar para um lado, depois tentou compensar com o outro, e assim sucessivamente, andando o aparelho um bocado “perdido”, a dar de rabo, e pressão a mais de um lado, pressão a mais do outro, eis senão quando, BOUM!
Rebentou o pneu de estibordo, e começou por lá a dar muito fumo. Mal o avião se imobilizou na pista, a tripulação saiu a correr, afastando-se do avião, com receio por certo que fosse mais grave e pudesse até arder ou explodir. Num instante tudo se resolveu, com a rápida intervenção dos OPSAS e, após tudo ter acalmado, verificou-se o estrago e menos de meia hora depois estava o avião já com o pneu trocado e a caminho das placas de dispersão.
Uma pequena história, simples e com final feliz … Um dia destes volto cá com mais lembranças desse dia, e mais fotos, mas para já, ficam estas …
Rui “A-7” Ferreira
Entusiasta de aviação