Reza então esta história, e a memória que ele guarda e de que fala com exacerbado entusiasmo, que por ali viu algumas dezenas de fuselagens amontoadas, de Republic F-84 por entre muitos outros artefactos aeronáuticos. E foi nesse sucateiro que adquiriu então, uma cadeira de F-84 que tem na sua modesta colecção de objectos aeronáuticos. «Na década de 70, passava na estrada nos passeios de domingo e via vários aviões na sucata. Nos finais da década de 80 é que lá fui buscar a cadeira e andei pelo meio dos restos de vários F-84 de nariz verde. Não esqueço o cheiro a JP-4 que após tantos anos ainda mantinham», recorda-se de andar em cima das fuselagens e de peças de aviões, até por ali viu, um Dakota, e até um flutuador. «Era efectivamente um flutuador de ponta de asa de Widgeon ou Goose, estava em bom estado, também me foi proposto a compra de um “banco”, não sei de que avião seria. Chamo-lhe “banco” pois era o género de assento que se pode encontrar em certos aviões da 2ª G.G., usados na posição de telegrafistas, navegadores, que normalmente ocupavam um pequeno espaço atrás dos pilotos».
Recorda-se também, de um outro avião, que não estava à espera de ser retalhado a caminho do alto-forno e estava, outrossim, apartado dos restantes, quase estimado e ao qual o dono se referia como não sendo para vender. «É para o meu neto».
O avião desapareceu, ou pelo menos desapareceu da vista de quem ali passa, e portanto da memória, ainda que, durante alguns anos, consta-se que um dos clientes regulares do sucateiro tivesse mostrado vontade, de cada vez que lá ia, de o comprar e levar lá para as bandas de Bragança.
Um outro amigo, tem uma recordação diferente, dos passeios escolares, nos autocarros apinhados de canalhada, a subir para Norte na N13, rumo a várias fábricas (como a Imperial, a fábrica de chocolates que fica na Azurara,… ai, ai, a fábrica das “Bombocas”!!!), e de ver, do autocarro, à passagem, um único avião em cima de uns contentores. Era para ele importante, ao passar por ali, espreitar de pescoço esticado a ver se o via.
Com efeito, neste local, existiu uma empresa de sucata, a António Silva Rego S.A., que comprava diversos tipos de metais, nomeadamente o alumínio, que ia buscar mais a Sul, aos aviões que desmantelava para vender às siderurgias. Nos anos 60 e 70 era comum ver aqui, entrarem regularmente camiões com fuselagens de aviões, tendo sido, segundo julgo saber, aqui processadas algumas dezenas, sendo que uma fonte refere mesmo um número à volta das 50 aeronaves, mas se calhar, nem todas seriam de F-84.
As últimas fuselagens de aviões que ainda existiam, foram vendidas ainda nos anos 90, para Espanha, extinguido a empresa a sua actividade em 2009.
Com estas histórias destes dois amigos, e outras mais recentes, um destes dias pedi a um destes que me levasse lá, pelo menos para espreitar o local a ver se “se via por lá alguma coisa”. Para além de um local vazio do que quer que fosse de sucata, e alguns edifícios, e um canídeo de meter respeito, nada mais vimos. Mas, enquanto estávamos à espreita, vemos um senhor que vinha a sair e lá metemos conversa com ele.
Era o antigo encarregado da sucata, que ali esteve a trabalhar desde pequenito, e que ainda trabalhava, agora para os herdeiros.
Conseguimos o contacto de um dos herdeiros e, alguns dias depois, foi-nos permitida uma visita ao espaço e aceder ao avião que, pasme-se ou não, ainda lá estava!
Era então um dos FIAT G.91R/3 que foram recebidos nos anos 70-80 e que, após canibalização, seguiu o caminho do sucateamento.
Essa visita teve lugar em Março de 2014 e, durante vários anos, o avião permaneceu no local, tendo estado em negociações a sua venda para um colecionador e aficionado dos FIAT G.91 que o iria restaurar. Desconhece-se contudo o actual paradeiro do avião.
Não quero terminar sem aqui partilhar com a aficción pássaro-ferrosiana, não só a foto da cadeira de F-84 referida, como do FIAT, bem como a ligação para o Aerotranstornados onde coloquei a informação que consegui do aparelho (até ao momento).
Mais ainda, oportunidade também de ver uma foto muito interessante de uma das fuselagens de F-84 da Patrulha S. Jorge, que aqui foram processadas, com o próprio dono da empresa sentado lá dentro, numa pose digna do próprio Major Alvega!
Nota – O autor escreve na grafia antiga.
Agradecimentos: Sr. António Rego, Sr. Faria, Sérgio Couto, Pedro “Pugachev” Oliveira.
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