Completam-se hoje dezassete anos sobre a fundação/criação do Pássaro de Ferro.
O propósito inicial foi apenas a partilha de experiências pessoais que envolviam o seu autor/fundador com a aviação, ou seja, assunto quase pessoal, a roçar o idiossincrático, uma vez que a paixão pela aviação nasceu de um “acidente” ocorrido em tenra idade.
De então para cá, com altos e baixos, a paixão manteve-se.
No boom dos blogues, ainda na antecâmara das redes sociais, o Pássaro de Ferro foi avançando no tempo e, esgotadas de certo modo as histórias do autor – e depois autores – com a aviação, a “sobrevivência” do blogue deu-se não pelo seu declínio, mas, pelo contrário, pelo seu apuramento, deixando a matriz de blogue para se tornar num site – com completa mudança de visual e de estrutura - com múltiplas valências: aviação militar, aviação civil, fotografia, reportagens alargadas e depois, merchandizing.
Foi criado sob total independência e desligado de qualquer organização social, política, económica ou religiosa. E assim se mantém, coerente, volvidos todos estes anos!
Transformações a reajustamentos entretanto ocorridos devolveram-no, sobretudo, à matriz “aviação militar”, questão sempre sensível e de certo modo balizada, ainda para mais numa sociedade (geralmente) autoproclamada de pacifista e em alguns dos seus interstícios, avessa a tudo o que tenha a ver com armas, guerras, conflitos e doutrina militar.
Entretanto, a marcha e os ditames da história, trataram de devolver à Europa um conflito militar aberto que já leva mais de um ano de ebulição e que provocou alterações não negligenciáveis na estratégia militar na Europa e até, globalmente, com alinhamentos e realinhamentos que, sendo naturais neste tipo de situação, provocam sempre reações com diferentes níveis de temperatura, conforme nos situemos nas lateralidades das partes em conflito.
Através da primazia entretanto concedida pelo Pássaro de Ferro à aviação militar, percebe-se em algum comentarismo – que mantemos assumidamente livre ainda que dentro de limites aceitáveis – que as pessoas comentam (livremente, lá está) todo um envelope de situações, sejam operações militares, equipamento, operacionalidade, diplomacia, etc., com a facilidade livre de perguntas ou trabalho consciente com que se ingere uma cerveja numa tarde quente, ou um copo de água num golpe de sede.
A democratização das opiniões, a liberdade reinante – seja ela mais ou menos escrutinada por algoritmos ou demais mecanismos, concede a quem fornece informação e por vezes opinião, o “risco” do escrutínio. Ainda que algum dele seja absolutamente válido e até propiciador de melhores e mais amplas abordagens, outro mais não é do que a apresentação crua da sincera estupidez, imbecilidade e superficialidade que se instalaram sem níveis mínimos de vergonha, generalizada na sua vulgaridade pelo acesso livre às caixas de comentários e ao sempre seguro manto do anonimato e, em última análise, "pedagógicas" no sentido em que se torna pública a sua completa inconsequência e desajuste.
Philip Roth, há uns quantos anos, escrevia num dos seus incontornáveis livros: «Pertence-se àquela cultura do blá-blá-blá. A esta geração que se orgulha da sua superficialidade. A sinceridade é tudo. Sincera e vazia, totalmente vazia. A sinceridade que dispara em todas as direções. A sinceridade que é pior do que a falsidade e a inocência que é pior do que a corrupção. Toda a rapacidade oculta sob o manto da sinceridade. E do jargão. Aquele vocabulário maravilhoso de todos eles e em que todos parecem acreditar, a respeito da “falta de mérito próprio”, quando na realidade estão sempre convencidos que tem direito a tudo.»
Por alguns comentários que surgem nas nossas publicações e redes sociais - e é algo penoso de ler e ver toda essa carga de disparates - percebe-se, percebe-se uma certa iliteracia, tanto mais aberrante quanto é o facto de essas publicações não serem sequer lidas e, por isso, a aposta crítica e “comentadeira” assenta apenas e só no título e na sua eventual carga que melindra a paz e a construção dos quintais pessoais, incapazes por definição física e atávica, de se situarem noutros planos para uma tentativa – nem que fosse pueril – de perceber e entender as coisas e os factos para além da gravitas do próprio umbigo.
Nota: Este texto e as opiniões neles expressas, apenas vinculam o seu autor.
António Luís
[Fundador do Pássaro de Ferro]
15 de maio de 2023