sábado, 20 de janeiro de 2024

Contributos para um roteiro dos locais históricos de aviação no Porto [M2457 – 02/2024]


Confesso Tripeiro e entusiasta de aviação militar Portuguesa, meteu-se na minha cabeça a ideia de que haveria de escrever algo acerca dos locais do Porto que tiveram alguma relação com a aviação, o que, por não serem muitos, seria fácil de fazer, ou assim eu o pensei, já me dirão.

Afastado dos centros nevrálgicos da aviação nacional, cujo umbigo fica ali para as bandas do Terreiro o Paço, o Porto e o Norte no seu todo, historicamente, fornecem uma mole humana muito substancial e ímpar para a aviação nacional.Não sendo a região frutífera em eventos históricos de monta desde o advento da aviação nacional, com as honrosas excepções claro está, para o aeroplano “Creche do Commercio do Porto” (1912), e ainda mais a Norte, do voo do Blériot XI do Eng. João Branco e de Norberto Gonçalves (1913), pretendo com este trabalho enumerar cronologicamente os eventos ou feitos, ou apenas sucedidos, registados na cidade do Porto, alguns dos quais ainda podemos encontrar vestígios, embora na sua maioria, apenas poderemos imaginar como foram.

Neste sentido também, fica aqui um embrião de cunho pessoal, plasmado nas páginas do Pássaro de Ferro, daquilo que poderá bem ser uma espécie de percurso turístico pela Invicta, por diversos locais onde há referências à aviação. Tanta oferta há para o turista que visita o Porto, falta na cidade um percurso desta temática tão querida a todos os Pássaro-Ferrosianos, digo eu.


 Cronologia


Rezam as crónicas, que remota ao Século XVIII o relato mais antigo da aviação em Portugal, o do voo do aeróstato do Padre Bartolomeu de Gusmão, que embora não tenha sido no Porto é, por ser o primeiro, digno da competente vénia e registo.

10 de Maio de 1795 – O italiano Vincenzo Lunardi (1759-1806), aeronauta cuja primeira ascensão em balão remonta a 1784, em Londres, fez no Porto a sua primeira ascensão nesta data, aquela que é a primeira de todas as exibições aeronáuticas registadas na Invicta. Esta ascensão realizou-se no Campo de Santo Ovídio (actual Praça da República), teve uma duração de 45 minutos e com descida em Sobreiras. 

Gravura da ascenção de Vincenzo Lunardi

25 de Junho de 1820 – ascensão em balão (hidrogénio), por Eugénio Robertson, a partir da Quinta do Prado, então pertença do Bispo do Porto, actual cemitério do Prado do Repouso. A ascensão decorre durante as festividades do S. João e em honra do Rei D. João IV. O balão elevou-se a uma altura indeterminada durante cerca de meia hora, aterrando a Norte do Porto, na localidade de Ferreiro, em Vila do Conde. 

2 de Agosto de 1857 – antecedidas de diversas ascensões cativas no recinto do Tivoli Portuense, os aeronautas Eugène e Louise Poitvin efectuam uma ascensão livre. O balão desceu cerca de 25 minutos depois junto ao Monte de Lamaçais. Numa segunda ascensão, a 23 de Agosto, o balão desceu uma hora depois dos areais do Areínho.

2 de Dezembro de 1883 – primeira ascensão nos jardins do Palácio de Cristal, do aeronauta Emile Castenet, no balão “Rosita”. O balão tomou grande altura e seguiu na direcção do mar, sendo o aeronauta recolhido a 9 milhas a Sudoeste da barra do Douro, por um salva-vidas, regressando no vapor “Victória”. O balão não foi recolhido e continuou a navegar chegando a ser avistado, no dia seguinte, a 25 milhas do Cabo Mondego.

20 de Janeiro de 1884 – nova ascensão de Emile Castenet, com um novo balão, o “Cidade do Porto”. Que se elevou dos jardins do Palácio de Cristal, dirigindo-se de novo ao mar. Foi resgatado e trazido até ao areal da Cruz, em V.N.Gaia, onde foi esvaziado.

 

Cartaz da ascenção de Emile Castenet e Luís Vianna

3 de Fevereiro de 1884 – terceira ascensão de Castenet, desta vez junto com Luís da Terra Pereira Vianna, também dos jardins do Palácio de Cristal. Reconhecidamente já a sua “veia marítima”, foram mais uma vez os aeronautas recolhidos pelo vapor “Victória” a 10 milhas da costa, perdendo-se o balão.

23 de Março de 1884 – depois de um período em que os amigos e a cidade se desdobraram em esforços para não só retirar Castenet da penúria bem como adquirir um novo balão, denominado “O Portuense”, dá-se a sua primeira ascensão, descendo em V.N. Gaia. Dois dias depois, “O Portuense” volta a elevar-se, desta feita com um burro amarrado à barquinha. Nesta ascensão, o aeronauta desceu perto de Vila da Feira, na localidade de Cavadas, freguesia de Pijeiros. O burrito, coitado, é que não ficou lá com muita saúde…  
O aeronauta efectuou mais uma ascensão, a 30 de Março.

8 de Junho de 1884 – nos jardins do Palácio de Cristal, dá-se nesta data a tentativa de ascensão dos aeronautas Henri Beudet e Émille Allier, no balão “Cidade de Lisboa”, sem sucesso. A 15 de Junho, o balão ascende a 3000 metros, descendo entre Grijó e Espinho.

20 de Junho de 1884 – segunda ascensão desde o Palácio de Cristal, com Beudet suspenso num trapézio, fazendo um risco de fumo no ar (através da queima de palha). Desceu pouco depois, de forma desastrada, sobre o telhado da Igreja de S. Francisco, onde ficou suspenso, dependurado, para o lado da Rua Ferreira Borges.

26 de Junho de 1884 – última ascensão destes aeronautas, a partir os jardins do Palácio de Cristal. A descida dá-se no Candal, em V.N.Gaia, num campo de cultivo, tendo-o danificado. O dono, auxiliado pelos criados, arrestaram o balão, exigindo o reparo dos estragos. Beudet fugiu. O balão foi recuperado mais tarde apresentando alguns rasgões.   

Novembro de 1887 – após a ascensão de 12 de Novembro em Penafiel, em que ascendeu pela primeira vez Felix Barreau, um operário das obras de construção do Porto de Leixões, que terá feito várias ascensões no Porto.

13 de Setembro de 1891 – primeira ascensão de Émile Louis Julhès, no balão “Le Tage”, subindo desde os jardins do Palácio de Cristal e vindo a descer no lugar do Cabo, freguesia de Monte Córdova, Santo Tirso. Uma segunda ascensão, a 20 de Setembro, com descida perto de Oliveira de Azeméis.

1 de Novembro de 1901 – actuou no Real Coliseu Portuense a “Companhia Franco-Espanhola”, da A. Imarieta que, incluía no seu espectáculo, entre outros, uma exibição de aerostática. Não se conhecem porém pormenores se se tratava de uma ascensão cativa ou livre.

30 de Agosto de 1903 - o balonista Émile Carton, com o balão “Portugal”, faz a sua primeira ascensão a partir do Palácio de Cristal, levando como passageiros Belchior Fernandes da Fonseca e o repórter do Primeiro de Janeiro, Aníbal Cardoso. A descida dá-se para Norte, no lugar de Esposado, Custóias, num campo agricola.  Ainda que tivesse outras planeadas, tal não aconteceu, por lhe ter sido imposto o pagamento ao agricultor dos danos causados no seu campo de milho.

15 de Novembro de 1903 -  Belchior Fernandes da Fonseca, farmacéutico gaiense, inspirado por Émile Carton, efectua duas ascensões em V.N.Gaia, a 1 e 8 de Novembro, sendo esta a sua terceira, já a partir dos jardins do Palácio de Cristal. Utiliza um balão que mandou vir de França , “O Luzitano”,  e desce em Fiães, Vila da Feira.

Uma das ascenções de Belchior Fernandes da Fonseca no "Luzitano"
junto à concha acústica, nos jardins do Palácio de Cristal

21 de Novembro de 1903 – nova ascensão de Belchior Fernandes da Fonseca a partir do  Palácio de Cristal, tendo como passageiros César Marques e José António d’Almeida. O balão dirige-se para o mar, logo saindo o salva-vidas e os vapores, e avisada a Marinha na Figueira da Foz e o Almirantado em Lisboa. Sabe-se que o aeronauta ainda tentou descer perto de Espinho, sendo o balão foi visto algumas horas depois sobre as Berlengas, não havendo mais registos de avistamentos.

Após este sucedido, passou a ser obrigatório, no licenceamento de demonstrações de balonismo, que o piloto-aeronauta comprovasse as suas habilitações o que, fez com que muitos fossem a Paris tirar o curso!

Um postal alusivo a uma das últimas ascenções de 
Belchior Fernandes da Fonseca no seu "Luzitano".


3 de Abril de 1904 - Inspirado nas ascensões de Émile Carton, e de Belchior Fonseca, António Costa Bernardes (conhecido por “o Ferramenta”), construiu um balão, “O Português”, que nesse dia fez a sua ascensão nos jardins do Palácio de Cristal, vindo a descer cerca de 4 horas depois, perto do Monte de Santo Izidro, em S. Cosme, Gondomar. Na verdade “o Ferramenta” tinha autorização do Governo Civil apenas para demonstrações de balão cativo, tendo acabado por fazer uma demonstração de voo livre. Por esse motivo, nunca conseguiu fazer mais ascensões no Porto, porque o Governo Civil não lho permitia.

Este balonista, em conjunto com Magalhães Costa, efectuou imensas outras ascensões em Portugal e no Brasil, ganhando grande fama, e construindo outros balões. Regressado a Portugal, compra um balão esférico à fábrica Lachambre que nomeia “Internacional”, e apresenta no Porto.

22 de Junho de 1906 – o “Ferramenta” efectua a sua 24ª ascensão, com o balão “Internacional”, a partir da Praça de Touros da Rua da Alegria, perante uma assistência de 15.000 pessoas!, descendo sem incidentes no lugar de S. Julião, freguesia de Santa Cristina do Couto, em Santo Tirso.

Uma das ascenções do "Ferramenta" a partir 
da Praça de Touros da Rua Alegria.

26 e 27 de Agosto de 1906 – tem lugar o festival aerostático na Praça de Touros da Rua da Alegria, com diversas ascensões por parte de António Costa Bernardes.  Neste balão, no lugar da barquinha, foi instalado um trapézio, em que a 100 metros de elevação, uma ginasta espanhola de seu nome Mercedes, fez uma demonstração arrojada. Neste festival o balão “Internacional” fez diversas ascensões, que se prolongaram até Setembro, sendo a de 8 de Setembro inédita, pois foi a primeira ascensão nocturna no Porto e em Portugal, a 28ª de António Costa Bernardes.

16 de Setembro de 1906 – ascensão de Alfredo Figueiredo no balão “Internacional”, desde a Praça de Touros da Rua da Alegria, descendo, após várias tentativas, nos rochedos no mar, nuns rochedos a 100 metros da Praia de Lavadores.

3 de Maio de 1909 – neste ano António Costa Bernardes adquiriu um dirigível tipo Santos Dumont à fábrica Lachambre, construindo ele próprio a barquinha em alumínio e instalado o motor. Com o objectivo de voar o dirigível a partir do Porto, inicia a 3 de Maio o enchimento e ensaios do “Aeromóvel”, no Palácio de Cristal. Diversas falha foram arrastando os ensaios até Julho, quando se dá uma fuga de gás, que levou à intoxicação e morte dos auxiliares e do próprio “Ferramenta”, este em “horrorosa agonia” -- era então o mais experimentado aeronauta/balonista português, com 31 ascensões.

o "Aeromóvel" durante o enchimento, na 
nave principal do Palácio de Cristal.

6 a 15 de Setembro de 1912 – diversas demonstrações de voo do aeroplano “Creche o Commercio do Porto”, tema que já abordamos no Pássaro de Ferro, daquele que foi o primeiro voo de um aeroplano na cidade do Porto, no Campo de Aviação do Castelo do Queijo.

Nesta foto vê-se claramente o nome do aeroplano bem como 
o piloto, Leopold Trèscartes, e o mecânico Felix Bouvier,

Curioso o facto de em 1913 o aeroplano foi oferecido ao governo, sendo integrado em Junho de 1913 na Companhia de Aerosteiros. Com a criação da Escola de Aeronáutica Militar, a 14 de Maio de 1914, foi para Vila Nova da Raínha, onde serviu como aeronave de instrução, até 1917, quando foi retirado de serviço. Curiosamente foi precisamente neste aparelho, à altura baptizado com o nome de “Casta Suzana”, que Gago Coutinho recebeu o seu baptismo de voo, a 23 de Fevereiro de 1917, tendo aos comandos o seu companheiro Sacadura Cabral.  É caso para dizer: e esta, heim?

6 de Outubro de 1912 – ascensão aerostática do balão “República”, pilotado por Francisco de Carvalho. Partiu do campo do Foot-Ball Club da Rua Antero de Quental, aterrando três quartos de hora depois em Santa Marinha (Gaia).

 
No final dos anos 50, foi erigida esta singela homenagem aos 
pioneiros da aeroestação, pelo Aero Clube de Portugal, nos 
Jardins do Palácio de Cristal.

30 de Março a 15 de Junho de 1922 - Gago Coutinho e Sacadura Cabral, empreenderam aquela que foi a maior epopeia da Aviação Nacional, ligando Lisboa ao Rio de Janeiro através do ar, em diversas e difíceis etapas, um feito ímpar para a história da Aviação Mundial. Sem entrar grandes pormenores, foi uma viagem que introduziu alguns feitos técnicos inovadores, como foi o caso do sextante que permitia tirar a posição no mar ao qual foi aplicado um horizonte artificial para calcular essa posição em altitude, e ainda um corrector de rumos, para automatizar o cálculo da direcção e força do vento e ajustar o rumo do voo de acordo com esses importantes vectores, que tiveram como consequência directa, a alteração dos métodos de navegação aérea. No Porto, é no interior da estação do caminho de ferro de S. Bento, que se evoca o feito histórico, reacção das gentes Lusitanas que, por todo o país, assim como no Porto foram recebidos em apoteose, a cidade rendeu-se à Glória dos Aviadores! Por forma a marcarem condignamente o feito, perpectuado em bronze, fica o registo da homenagem e do agradecimento dos ferroviários das Linhas do Douro e Minho.




9 de Abril de 1929 – é inaugurado o Monumento aos Combatentes da Grande Guerra, da Liga dos Combatentes, traço de Henrique Moreira. Não sendo um local directamente ligado à aviação, nem a aviadores nativos do Porto, é um local de memória dos que combateram naquela que foi a última guerra com maior participação de forças Portuguesas, e onde também deram a vida seis aviadores portugueses, integrados em diversas esquadras de voo francesas.  O autor reconhece uma efémera ligação à aviação e ao Porto, mas não poderia deixar de a referir.

Pormenor do monumento aos combatentes.


21 de Março de 1935 – data da fundação do Aero Clube do Porto, surge no seguimento da criação a 6 de Março de 1929, de um movimento associativo denominado “Núcleo do Norte do Aero Club de Portugal”, núcleo esse que ganhou mais visibilidade com a organização, no Campo de Aviação Militar de Espinho, da primeira Escola de Aviação Civil. Este núcleo promoveu entre outros, a tentativa de obter um aeródromo próprio, tendo usado um terreno improvisado na Senhora da Hora, onde chegou em 1934, aí a realizar  um Festival Aéreo. 
Funda-se então o Aero Club do Porto, operou os seus aviões em Pedras Rubras desde 1947, e onde se mantiveram as suas actividades aéreas, até aos anos 90 quando mudaram a sua base de operação para o Aeródromo Municipal da Maia. A sua sede primeva, na Rua de Santa Catarina, actualmente (ab2023) situa-se na Rua da Bainharia, e as suas operações aéreas baseadas no Aeródromo de Vilar de Luz.  

Imagem aérea do aeroporto do Porto no final dos anos 40.

16 de Dezembro de 1937 – data da fundação da Liga da Iniciação e Propaganda da Aeronáutica (LIPA), com sede na Praça de Carlos Alberto nº.63 3ºandar.
São inúmeros os trabalhos desta colectividade, que nos primeiros anos de vida corporizou um movimento denominado “Pró-Aviação Portuguesa”, destacando-se na organização de competições desportivas em diversos locais do país, diversos trabalhos de “aviação em miniatura” como meio de propaganda da Aviação, como actividade de iniciação à aeronáutica. Contando com o apoio do Secretariado da Aeronáutica Civil, constituiu a primeira Escola de Aeromodelismo do Porto.
Passando por alguns altos e baixo na sua história, a sede ainda é no mesmo local, e a sua actividade aérea tem lugar na pista da Seroa, na Trofa.
A já desaparecida placa da LIPA no 
edifício da sua sede social.

 
1939-1945 - Durante o período da 2ª Grande Guerra, na qual Portugal não foi um país beligerante, sucederam-se os sobrevoos e até batalhas aéreas de maior ou menor monta, que resultaram em inúmeras aterragens de emergência, e acidentes aéreos. No Porto, não aconteceu nenhuma história deste género, porém, na cidade jazem 11 aviadores da Royal Air Force e da Royal Canadian Air Force, sepultados no Cemitério Britânico do Porto, e cujos túmulos integram as Commonwealth War Graves. 
O cemitério é visitável, nos dias de serviço religioso (domingos), sendo que nos dias 11 de Novembro, data do Armísticio da 1ª Grande Guerra, se realizam as cerimónias alusivas ao Remembrance Day (a cerimónia nem sempre coincide com o dia).

A entrada da igreja de St. James do Porto à direita, 
à esquerda a Cruz do Sacrifício.

13 de Julho de 1942 – despenha-se um Vickers-Armstrong Wellington Ic, da Royal Air Force, ao largo de Fão, perto de Esposende. Da tripulação de 6 elementos, todos eles perderam a vida, encontrando-se sepultados no Cemitério Britânico do Porto

29 de Maio de 1942 – acidenta-se junto à praia de Vila Chã, a Sul de Vila do Conde, um Vickers Wellington IC, da Royal Air Force, em voo de ferry, entre Portreath e o Egipto, via Gibraltar. Dois dos tripulantes perderam a vida, encontram-se também  sepultados no Porto.

6 de Março de 1944 – acidenta-se um Lockheed Hudson IIIA, do Esquadrão 269 da Royal Air Force, perto de Mira. Três tripulantes perderam a vida e um salvou-se.

Nada disto se passou no Porto, apenas se regista aqui este local de memória. O que se passou sim no Porto, foram duas amaragens e uma aterragem forçadas, 

5 de Março de 1943  - amarou de emergência, frente à Foz do Douro, um Short Sunderland Mk.III, vindo de Pembroke com destino a Gibraltar. O avião foi afundado e a tripulação e passageiros todos salvos, tendo chegado à costa em botes salva-vidas. 

29 de Maio de 1943 - um Bristol Blenheim V (EH459) da Royal Air Force, que tinha sofrido vários bird strikes na costa portuguesa, levaram a tripulação a ter de amarar de emergência, em local indeterminado frente à costa do Porto. Foram resgatados por um navio da Royal Navy.

2 de Maio de 1945  - aterrou em Pedras Rubras um Junkers Ju88 G7A, da Luftwaffe, cuja tripulação tentava fugir da Alemanha. O aparelho foi transferido para o Campo de Aviação de Espinho, da Arma de Aeronáutica do Exército, tendo sido depois desmantelado. (Mais um caso de perda de património aeronáutico…)


17 de Março de 1963 – uma referência que encontrei no Guia de Portugal, da Calouste de Gulbenkian, levou-me a uma busca nos jornais da época e encontrei um registo daquele que foi o primeiro salvamento com recurso a helicóptero no Porto. 27 tripulantes do navio mercante “Silver Valley”, que naufragou no Cabedelo foram salvos por aviadores franceses, pilotos instructores que se encontravam a ministrar formação em Alverca à Força Aérea Portuguesa. 

Imagens dos Alouette II durante o salvamento.

1970 (década) - uma difusa memória pessoal, traiçoeira portanto, referente á década de 70, possivelmente na sua segunda metade (pós 25 de Abril de 1974), altura em que foram activados em diversos locais, helipistas possivelmente improvisadas, para na época balnear assistir o Instituto de Socorros a Náufragos. Tenho presente essa memória de ter visto várias vezes, junto à estação de socorros a náufragos dos Bombeiros Voluntários Portuenses, ao Passeio Alegre, num pedaço mais largo do molhe em frente, um SE.3160 Alouette III, equipado com “pantufas”, o que o permitia aterrar na água e na areia com relativa facilidade.

o "Pantufas"

26 de Março de 1977 – incontornável referência à minha querida Associação de Especialistas da Força Aérea, constituída em V.N.Gaia nesta data. Nasceu nesse mesmo ano na Praia da Aguda, e com sede social e histórica em Gaia, desde os anos 80 possui a sua Sede Nacional no Porto, em espaço cedido pela Força Aérea Portuguesa, onde se localiza o seu Centro de Recrutamento sito à Pr. Dr. Francisco de Sá Carneiro 219 1ºDto.. Trata-se de uma associação de cariz social e cultural, de antigos e actuais Especialistas da FAP. 

1977 – No Palácio de Cristal, então Pavilhão dos Desportos, realizou a Força Aérea Portuguesa, as comemorações do seu 15º aniversário, sendo este o espaço para a sua exposição de divulgação das suas actividades. Neste ano destaca-se a exibição, peça central da exposição, a réplica do Maurice Farman MF4, semelhante ao aeroplano “Creche do Commércio do Porto”.

aspecto da exposição no "Palácio de Cristal"


Maio de 2023 – as comemorações do Dia da Marinha tem lugar no Porto, tendo como ponto alto a cerimónia militar e a exibição de meios navais e aéreos desta arma. Nomeadamente com demonstrações de capacidades do seu braço aéreo, que executou no anfiteatro provisionado pelo Rio Douro, diversas demonstrações de capacidades de voo com os então renovados Westland Super Lynx Mk.95A. A última vez que a Marinha nos tinha brindado com exibições do Lynx foi na edição do Red Bull Air Race de 2008.



Algumas notas sobre pistas e helipistas

Há várias referências a “campos de aviação” no Porto, ou naquilo que são os limites da actual cidade do Porto, sendo que apenas consegui localizar um, por aproximação, não havendo referências actuais sobre onde seriam exactamente. Refiro-me ao Campo de Aviação do Castelo do Queijo, localizado no campo de corridas do Clube Hipico Portuense, entre a estrada da Circunvalação e a estação transformadora da Companhia de Carris do Porto. O outro campo de aviação, com localização mais ou menos precisa, seria o da Senhora da Hora, onde o Aero Clube do Porto realizou dois festivais aéreos. Fora estes, em anos recentes, foi criada uma pista de aviação para a realização da Red Bull Air Race, num dos extremos do Parque da Cidade (Ocidental).

Já o mesmo não se pode dizer das helipistas, sabe-se onde foram e quantas, construídas as primeiras nos finais dos anos 70 e 80, resultam principalmente de necessidades militares.
Das helipistas militares consegui identificar a do antigo Quartel Militar da Região Militar Norte, à Praça da República, do quartel do Centro de Instrucção de Condução Auto do Porto (CICAP) junto ao Palácio de Cristal, do antigo Regimento de Infantaria 6 (ao Monte dos Burgos), e a do Centro de Selecção do Porto (à Constituição). Seriam na verdade áreas da parada destes quarteis que, sempre que necessário recebiam um ou vários helicópteros. Penso que a do CICAP chegou a ser usada ou experimentada pelo INEM mas o downwash provocava muitos problemas naquele espaço fechado e pequeno.

Foto da helipista do antigo Quartel General da Região 
Militar Norte, à Praça da República.

Acrescente-se à laia de curiosidade, a parada do Regimento de Artilharia da Serra do Pilar, em Gaia, tem sido utilizada diversas vezes como helipista, nomeadamente para visitas papais, como foi o caso do Papa João Paulo II (1982 e 1991), do Papa Bento XVI (2010).    

 
A 14 de Maio de 2010, na imagem acima, o EH-101 nº 19605 da Esquadra 751 em 
aproximação à parada do quartel da Serra do Pilar, em V.N.Gaia, o terceiro a aterrar, 
a bordo vinha o Papa Bento XVI. Na imagem de baixo, o SE.3160 Alouette III nº 19401 
da Esquadra 552, um dos aparelhos que fazia o acompanhamento da comitiva tendo a 
bordo pessoal da Unidade Especial de Polícia.

No contexto militar, repito a referência acima, à helipista “provisória” ou improvisada, frente aos socorros a náufragos no Passeio Alegre, onde estava baseado um SE.3160 Alouette III da Força Aérea Portuguesa.
Actualmente as helipistas civis existentes são maioritáriamente de utilização por meios de emergência médica, nomeadamente as do Hospital de S. João e Santo António. 
Ainda que a de Santo António esteja inactiva e com outras utilizações, a do S. João está a ser renovada (ab2023).
  
Fotos do Bell 222 CS-HDX da OMNI na helipista 
improvisada do Hospital de S. João.

Nos anos 90 é activada a helipista de Massarelos, uma helipista privada, e pertença da Douro Azul, para voos turísticos sobre a cidade. A partir de 2010, e dada a inactivação da helipista do Hospital de Santo António, esta helipista passou a ser utilizada também pelo INEM, recebendo uma rampa para acesso de ambulâncias. 
Actualmente (2023) é a helipista mais utilizada na cidade, quer pela utilização para voos turísticos, bem como pela utilização por parte dos helicópteros ao serviço do INEM.
Esta helipista também foi utilizada aquando da realização no Porto das Red Bull Air Races, por helicópteros ao serviço da organização nomeadamente na recolha de imagem (mas sem perder a utilização, em emergência por parte do INEM).


Texto e fotografias: Rui "A-7" Ferreira

Tripeiro e Entusiasta de Aviação


Nota: O autor do texto/reportagem escreve na grafia antiga.


Agradecimentos:
Paulo Soares; Francisco Piqueiro, Pedro Ferreira; Prof. Hélder Pacheco, Carmo Ferreira, Paulo Bandeira, Orlando Tato, Prof. Joel Cleto, 


Notas adicionais:

Há dois museus militares na cidade que, pela sua natureza, e independentemente da ligação à aviação na Cidade merecem a nossa visita.

O Museu Militar do Porto, integrado na estrutura de museus do Exército Português, sito à Rua do Heroísmo, integra um vasto acervo que atravessa diversas épocas da história do Exército. Ainda que, no presente contexto, não faça referências à componente aérea do Exército, apresenta alguns modelos de aviões na sua vasta colecção de miniaturas militares, e inclui um avião alvo.
O edifício é também ele digno de referência pelas suas origens, Sec. XIX, para habitação, sendo muito mais tarde sede da PIDE/DGS no Porto, estando na posse do Estado desde os finais dos anos 40.

O Museu do Núcleo do Norte da Liga dos Combatentes, localizado na Rua Formosa, merece a nossa visita e atenção. O Núcleo Norte da Liga dos Combatentes, fundado em 26 de Fevereiro de 1925, está instalado no Palácio do Visconde de Pereira Machado construído em meados do século XIX, de onde se destaca, entre outros, a escadaria interior, um dos belíssimos exemplos dos palacetes da cidade, de surpreendentes estuques e pinturas (das salas que visitei), sendo que é nelas que está instalada a coleção do museu. Possui nele uma colecção de artefactos militares que  abrange ambas as guerras mundiais sendo que no entanto ali podemos encontrar objectos de outros tempos, desde Aljubarrota à Guerra Colonial.
Visitável apenas nos dias úteis, por razões que ultrapassam as capacidades de discernimento do autor, não é permitido o registo de imagem no espaço do museu, algo que me entristece como fotografo, tripeiro e aerotranstornado. Porém fica o registo em vídeo, de há uns anos atrás, por parte do Carissimo Joel Cleto, num dos seus muitos e incontornáveis programas televisivos.
No que concerne genericamente à aviação, conseguimos encontrar numa das salas um hélice, o único elemento aeronáutico que encontrei, refere-se a uma oferta feita à Liga por parte de um aviador inglês, de uma das famílias inglesas da cidade, que terá ofertado um hélice de um Bristol F.2B que, admito, estivesse na sua colecção pessoal.


Bibliografia/ Fontes

Portugal na Aventura de Voar, de Lourenço Henrique Henriques-Mateus ©2009

Apontamentos para a história … o aeroplano «Creche O Comércio do Porto» (M1997 - 57/2018) - http://www.passarodeferro.com/2018/09/apontamentos-para-historia-o-aeroplano.html

O Eng. João Branco e o voo do Blériot,  - http://portadembarque04.blogspot.com/2014/05/o-eng-joao-banco-e-o-voo-do-bleriot.html

Balonismo - http://portoarc.blogspot.com/search/label/Balonismo

Antecedentes da Busca e Salvamento com helicópteros; A barra do Douro - o 1º salvamento http://walkarounds-ccadf.blogspot.com/2014/05/antecedentes-da-busca-e-salvamento-com.html

http://portoarc.blogspot.com/2014/01/divertimentos-dos-portuenses-xxxviii.html

https://aecporto.com/clube/historia.html

https://portocanal.sapo.pt/um_video/x8j31ct

https://portocanal.sapo.pt/um_video/yowKSPww0qTIv530QATs

http://portodeantanho.blogspot.com/search/label/aer%C3%B3dromo%20da%20Senhora%20da%20Hora

http://portodeantanho.blogspot.com/search/label/aer%C3%B3dromo%20de%20Oliveira%20Monteiro

http://portodeantanho.blogspot.com/search/label/aer%C3%B3dromo%20do%20Castelo%20do%20Queijo

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/visita-de-sua-santidade-o-papa-joao-paulo-ii-a-portugal/


5 comentários:

  1. Excelente artigo.
    Um abraço Rui,
    João Carlos Silva

    ResponderEliminar
  2. A placa colocada em 1959 nos jardins do palácio de cristal não foi colocada pelo Aero Club do Porto mas sim pelo Aero Club de Portugal aquando do seu cinquentenário.

    ResponderEliminar
  3. Caros Anónimos em geral e carapaus de corrida em especial.
    Agradeço todos os comentários reparos e achegas, bem como puxões de orelhas. Ajudam-me a melhorar. Mas o anonimato é algo que me mexe um bocadinho com a caixa dos pirulitos...
    O meu nome é Rui Ferreira e o meu e-mail: a7pcorsair@yahoo.com
    Obrigado a todos

    ResponderEliminar
  4. Caríssimo Anónimo,
    Muito obrigado pelas palavras.
    Este tipo de artigos que tenho feito são, de algum modo, moldavéis, facilmente se corrigem erro e se acrescentam assuntos.
    O Red Bull Air Race não foi abordado pois ainda me faltam limar algumas arestas, não está esquecido.
    Como outros trabalhos que a Gerência do Pássaro de Ferro me tem permitido publicar, há sempre coisas a a acrescentar, o que é bom, acho.
    Assinado: Rui Ferreira
    a7pcorsair@yahoo.com

    ResponderEliminar