F-16AM da Força Aérea Portuguesa, aterrando na BA11 - Beja.
Este ano completam-se 30 anos desde a sua chegada a Portugal. E não está ainda prevista a sua substituição.
A Europa atravessa tempos obscuros cuja análise,
numa perspetiva histórica, revela sinais já visualizados em tempos andados e
cujo desfecho não se recomenda, ou seja, esteve no epicentro de duas guerras
mundiais, com tudo o que de trágico e transformador isso acarretou.
No presente e já com dois anos de rasto, uma guerra
surgiu com a “operação especial” russa em território da Ucrânia, demasiado
perto para ser considerada longe desta (boa) tranquilidade de décadas a que nos
habituámos. Este hábito fez com que o desleixo em matéria de defesa se tenha
transformado numa prática mais ou menos caucionada pelos governos, certos de
que do lado de lá do atlântico, a mão amiga segura e segurará o guarda-chuva e
que a leste, tudo está controlado. Só que as dinâmicas não raras vezes decidem
desviar-se da agenda dos desejos e os apertos seguem-se, com variáveis a mais
para uma equação de crescente complexidade – China/Taiwan, Irão, a situação em
Israel/Gaza, a tensão no Mar Vermelho e o eterno jogo do gato e do rato das Coreias…
Com os fantasmas a decidirem largar das masmorras,
com a União Europeia a ser pouco unida, com preocupantes excessos em matéria de
politicamente correto, sobranceria cultural e falta de visão e atuação de conjunto, tudo temperado com fluxos
permanentes de imigração e respetivas tensões vemo-nos, resumidamente, cara a
cara com tempos perigosos em que assobiar para o lado é a pior das receitas,
por mais que acomode os espíritos.
Agora que o rabo europeu aperta, já se fala em
preparos de guerra, que é preciso armar, que a Europa tem de olhar por si e
para si, já que a mão que segura o tal guarda-chuva poderá deixar de o fazer,
sobretudo se na Casa Branca, o inquilino mudar de natureza, de penteado e de cor de
cabelo.
F-35A dos Países Baixos, em voo no "StarWars Canyon". Estas aeronaves estão já a substituir a frota F-16 neerlandesa.
E as notícias sobre as trombetas preparatórias vão
aparecendo. A República Checa, agora Chéquia, anuncia a compra de 24 caças
F-35; a Croácia recebe caças Rafale; a Bulgária F-16 de última geração (V);
Polónia e Grécia preparam-se também para operar o F-35; os alemães falam em
aumentar a produção de armamento – drones, munições, etc. – e no geral o
despertar de uma nova perspetiva parece assentar praça e as pressões para
cumprir e até aumentar os orçamentos de defesa já se fazem ouvir e a impor a
sua incontornável necessidade.
Em Portugal, para não variar, é matéria
desinteressante, evidentemente porque o atual período de excitação eleitoral
tende a desvirtuar o que já de si é tradicionalmente desvirtuado e porque,
arrumadinhos aqui no canto sudoeste da Europa, achamos que tudo é longe e,
portanto, nada connosco.
A frota F-16 nacional cumpre por estes dias 30 anos
de serviços e por uma vez apenas se falou, com moderada convicção e sem o perigo das datas, na sua (desejada) substituição pelo F-35; não se acautela o mínimo de
cuidados na nossa defesa imediata; não se trata do problema da proverbial sangria de
pilotos e mais recentemente da debandada do pessoal de manutenção; da operacionalidade dos meios navais de defesa avançada; não se repensa o regresso do
SMO para contornar a redução constante de efetivos disponíveis, etc. …
Parecemos esquecer que a dimensão nacional não se
esgota no retângulo continental e que, dependendo da perspetiva, da mesma forma
que estamos no canto sudoeste da Europa, longe dos epicentros, não deixamos,
por outro lado, de ser a porta de entrada sudoeste dessa mesma Europa e, não de
forma despicienda, temos uma proximidade incontornável com África e com o
estratégico estreito de Gibraltar.
Se os contextos históricos, estratégicos e políticos mudam, as ações antes adormecidas têm
de mudar também.
E não se cozinha uma panela de arroz dois minutos antes de ela
ter de ser servida.
Nota: Este texto e a opinião nele expressa vinculam, apenas, o seu autor.
Uma preocupação crescente que partilho e subscrevo, oposta ao assobiar para o lado da deprimente e degradante classe política que temos colocado no poder, que não percebe de assunto nenhum, e quando se alvitra saber ... cheira um bocadinho mal...
ResponderEliminarAssinado: Rui Ferreira (5513)
Tenho alguma dificuldade em perceber como se vai produzir o equipamento necessário no Ocidente.
ResponderEliminarTalvez em plástico...
https://en.m.wikipedia.org/wiki/List_of_steel_producers
Muito bem concordo a 200%.
ResponderEliminarAbraço Amavel Dias Vicente As TIBER33
Se a preocupação é a guerra generalizada, ela não vai acontecer. Não é o equipamento que se está a adquirir ou em vias de o ser por outros países que vai fazer qualquer diferença para uma guerra, a não ser que o inimigo esteja bem pior que o lado opositor. Não é necessário uma tese de doutoramento para se chegar a esta ou outra qualquer conclusão. É só comparar o antes e o depois com data zero em 1991. Há, pelo menos, uma excepção à regra, o caso da Polónia, que investiu pesadamente em equipamento militar. Certamente que terá a ver com razões históricas e espero que não advenha nenhuma surpresa daí, porque senão acontecerá o que se está a passar na Ucrânia.
ResponderEliminarPortugal não deve adquirir em função ao que se passa, mas sim ligado ao contexto de paz mundial existente, apesar das guerras ainda persistentes e algumas delas necessárias. Sendo assim, nada mais que o necessário. Porém, não descarto confrontos futuros, caso o nível de loucura do inimigo exija da nossa parte uma guerra aberta. Obviamente que isso deverá ser levado em conta.