domingo, 7 de abril de 2024

Hughes OH-6 Cayuse (Loach), o melhor helicóptero ligeiro de combate? [M2483 – 28/2024] - Parte V e última

Diminutos mas (muito) bem armados (Episódio 5) (Último)

O tipo de missão dos helicópteros de reconhecimento no Vietname envolvia o voo a (extremamente) baixas altitudes, muitas vezes a baixa velocidade, com o objectivo de encontrar sinais escondidos de actividade inimiga.  Não era uma tarefa para pessoas com um elevado grau de preservação.  É verdade que as forças inimigas geralmente refreavam-se de atacar estes helicópteros porque, ao fazê-lo, sabiam que a retribuição por parte dos helicópteros de escolta armados e/ou ataques aéreos e/ou barragens de artilharia seria rápida e inevitável.  No entanto, contactos violentos entre o inimigo e os ágeis “Loach” eram muito frequentes e por isso, não surpreende que as tripulações carregassem todo o tipo de armas para se defenderem.  Em proporção ao seu tamanho, talvez fiquemos surpreendidos por descobrir que os “Loach” eram os helicópteros mais armados da guerra (ou até da história).  Já abordamos num episódio anterior a opção da “Minigun”, instalada na porta traseira esquerda, mas esta arma não era muito comum.  Era mais habitual o artilheiro (ou apontador) ocupar este local armado com uma M60 e um valiosíssimo par de olhos extra.  A M60 era a metralhadora média padrão das forças americanas nesta época e, num esforço de tornar a arma mais ligeira e compacta, era comum retirar o bipé, a coronha e até as miras.  Às vezes o próprio cano da arma era encurtado e as molas reforçadas para aumentar a cadência de tiro.  O artilheiro transportava os cintos de munição em simples caixas de madeira no chão do compartimento traseiro, junto aos pés.

Nesta foto vemos a omnipresente M60 a bordo de um “Loach”.  Reparem na ausência do bipé, e das coberturas da coronha e do cano (não só para cortar o peso mas também para tornar a arma mais maneável e rápida de apontar).  Neste caso as miras permanecem mas quando eram retiradas o artilheiro apontava a arma por seguir o trajecto e impacto das balas tracejantes.  De notar também a caixa de madeira cheia de munição 7.62x51mm e as várias granadas presas na antepara dos assentos do piloto e observador.

Além das M60 os restantes membros da tripulação também necessitavam de armas, especialmente para se defenderem no solo em caso de avaria ou danos de combate.  A mítica M16 era, compreensivelmente, uma escolha usual, especialmente na versão curta e compacta, conhecida como CAR-15 ou “Commando” – ideal para manobrar nos espaços confinados do “Loach”.  Os pilotos confiavam no revólver Smith & Wesson M10, calibre .38, com seis cartuchos.  Pode parecer uma escolha antiquada mas os pilotos preferiam o revólver em vez da famosa pistola Colt M1911 de calibre .45.  Porquê?  Os pilotos descobriram que era bastante difícil carregar a Colt em caso de ferimento nos braços ou das mãos.  Por outro lado, o revólver, apesar de menos potente, podia ser facilmente manuseado com apenas uma mão.  Muitas outras armas surgiam nos cockpits dos “Loach”; lançadores de granadas M79, submetralhadoras M1A1 Thompson e M3A1 “Grease Gun” e muitas outras adquiridas de fontes não oficiais.  Os tripulantes dos “Loach”, devido á natureza das suas missões, conviviam de perto com elementos das forças especiais (SEALs, “Boinas Verdes”, etc) e era habitual a troca de armas em sinal de respeito e apreço - apesar de proibido as chefias faziam “vista grossa” a este tipo de situações.  Armas confiscadas ao inimigo também acabavam nos cockpits do “Loach”.  A AK-47 era uma arma fiável, robusta e potente mas o som característico do seu disparo tendia a atrair fogo amigo na direcção do “Loach” - sem surpresas o seu uso tornou-se particularmente desaconselhado.

O local de trabalho do artilheiro não deixa dúvidas; a expressão “armado até aos dentes” acaba por ser insuficiente.  Além das várias granadas presas na antepara (pelo formato devem ser de fumo ou gás lacrimogéneo) vemos uma caixa de munição para a M60, outra enorme caixa cheia de granadas de fragmentação e mais uma com explosivos…  Mas a segurança não foi (totalmente) descurada, notem que as caixas estão assentes em placas de protecção balística.  Não vá o Diabo tecê-las…


No cockpit deste “Loach”, na posição do observador (o piloto geralmente ocupava o assento direito), encontramos mais um “cacho” de granadas de gás lacrimogéneo presas por arames e um saco cheio de granadas de fragmentação M26.  Nas missões sem artilheiro (ou quando se optava por transportar a “Minigun” na cabine traseira) cabia ao observador as tarefas de localização e ataque das posições inimigas.

Granadas de todos os tipos (fragmentação, impacto, fumo (de várias cores), gás lacrimogéneo e incendiárias) eram usadas em abundância nestas missões, talvez a arma ofensiva de maior utilidade no Vietname.  Conforme se confirma nas fotos, as granadas eram penduradas pela alavanca de segurança em cabos ou arames colocados nas costas do assentos dianteiros – mesmo “á mão” do artilheiro.  Apesar das precauções das tripulações na acomodação das granadas, muitas vezes ao ponto de as proteger com coletes balísticos, a verdade é que os acidentes eram frequentes e vários helicópteros foram perdidos desta forma.  Outro apetrecho específico eram as chamadas “bombas”.  Alguns tripulantes descobriram que atacar bunkers, túneis ou pequenos barcos com granadas em múltiplas passagens era potencialmente perigoso e, muitas vezes, ineficaz.  Que dizer de executar apenas uma passagem mas lançar um explosivo maior… muito maior?  Os tripulantes dos “Loach” ficaram conhecidos por prepararem cargas explosivas personalizadas; geralmente uma caixa carregada com uma combinação de explosivo plástico C-4, algumas granadas de fragmentação e incendiárias misturados com pregos e/ou parafusos – “cocktails” que chegavam a pesar 15kg!  Transportar quantidades tão grandes de explosivos improvisados a bordo de um helicóptero tão pequeno, e debaixo de fogo inimigo, adicionava mais um pouco de drama ao já perigoso dia-a-dia dos tripulantes dos “Loach”.

Este poster promocional da Hughes demonstra muito bem o “espírito” que envolvia o nome Cayuse, uma raça de cavalos criados pela tribo nativa Americana com o mesmo nome.  Por outro lado, esta imagem artística também invoca a perigosa responsabilidade de reconhecimento aéreo próximo que estas tripulações desempenharam no Vietname, dignos sucessores das missões outrora executadas a cavalo nas planícies do Oeste Americano.


Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


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