sábado, 25 de janeiro de 2025

"ONDE ESTÃ OS TEUS MÍSSEIS" [M2581 - 05/2025]

 RAF Leuchars, Escócia, 1960

Um episódio que, dependendo do ponto de vista, pode ser considerado como hilariante, humilhante ou aterrador ocorreu durante uma rotineira missão de treino do Esquadrão 23, a partir da base da RAF em Leuchars, na Escócia.  Numa manhã como todas as outras um Gloster Javelin, equipado com dois mísseis ar-ar Firestreak e dois tanques externos, retornava de uma missão de qualificação quando o piloto decidiu pregar uma partida clássica ao seu inexperiente navegador – ligar o aquecimento ao máximo no compartimento traseiro.  O insuspeito navegador sentiu de imediato os efeitos do calor mas, pior ainda, começou a ver fumo dentro do cockpit, talvez devido a um reflexo do sol ou, simplesmente, a sua mente a imaginar coisas.  Mas o resultado foi inesperado; o piloto ouviu um relato assustado do navegador;

“- Estamos a arder!  Estamos a arder!  Vou ejectar!”

O piloto tentou responder mas ficou a falar sozinho, o navegador…. já ia longe!      

O Gloster Javelin foi um importante defensor do espaço aéreo Inglês durante os anos 50 e 60.  Volumoso (a larga asa em delta fazia-o parecer ainda maior), bimotor e bilugar (piloto e navegador), o Javelin não venceu qualquer concurso de beleza mas cumpriu com distinção o seu papel.  O aparelho desta foto está equipado com quatro mísseis ar-ar Firestreak mas, no incidente em questão no texto, a carga externa consistia de dois mísseis e dois tanques de combustível externos. 


Imediatamente o piloto entrou em contacto com a base em Leuchars, declarou uma emergência e tentou, resumidamente, explicar aos controladores que tinha acabado de “perder” o seu navegador.  Parte do procedimento de emergência envolvia ejectar os tanques de combustível e, para o confirmar, fez uma passagem lenta a baixa altitude em frente á torre de controlo.  A conversa foi, exactamente, assim… 

Torre: “Estou a ver os tanques na asa – mas… onde estão os teus mísseis??”

Piloto: “Fod*-**!”

Neste mapa vemos a localização aproximada dos dois mísseis Firestreak “perdidos”.  O primeiro foi encontrado na praia de West Sands (estrela vermelha) e o segundo no campo de golfe de St Andrews (estrela azul).  Mais acima, á esquerda, a base de Leuchars, uma peça importante na defesa aérea do Reino Unido durante a Guerra Fria.


Um dos helicópteros de busca e salvamento foi lançado imediatamente em busca dos mísseis.  Meia-hora depois o primeiro Firestreak foi encontrado a 100 metros de uma praia – mas do outro míssil, nem sinal.  Só durante a tarde foi, finalmente, localizado num campo de golfe em St Andrews.  Aparentemente, muitas pessoas passaram pelo míssil, brincaram e tiraram fotos, pensando que se tratava de uma brincadeira dos miúdos de uma escola local.  O míssil esteve no local durante…seis horas. 

O navegador não sofreu qualquer ferimento na ejecção ou na descida e quanto ao piloto, desconhece-se se terá sido alvo de algum processo disciplinar.  Sem dúvida um episódio para o piloto recordar e que os seus colegas do Esquadrão dificilmente se esquecerão….de o relembrar. 

Este Javelin (XH881) foi construído como um F(AW).9 e entregue ao Esquadrão 25, baseado em Waterbeach, em Abril de 1960.

Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


terça-feira, 21 de janeiro de 2025

LOBOS RECEBEM TERCEIRO P-3 ATUALIZADO [M2580 - 04/2025]

Elementos da Esquadra 601 em Halifax, Canadá     Foto: @esquadra601

Tal como o Pássaro de Ferro partilhou nas redes sociais nos últimos dias, a Esquadra 601 - Lobos recebeu a terceira aeronave atualizada no Canadá, pela General Dynamics Mission Systems-Canada.

Trata-se do P-3C CUP+ n/c 14810, que foi agora entregue, menos de um ano depois do primeiro (n/c 14808). 

Em publicação na rede social Instagram, a Esquadra 601 da Força Aérea Portuguesa (FAP) dá conta do regresso da tripulação, depois de estarem "uma semana no Canadá empenhados na modernização da (...) frota".

A modernização Bloco I, de que fala a mesma publicação, inclui atualização do sistema IFFT (transponder de identificação amigo-inimigo) para o Modo 5, Link-16 (transmissão de dados) e DMS (Sistema de Gestão de Missões).

Já em outubro de 2024, e depois de ter sido iniciado o processo de modernização Bloco I, foi aprovada pelo Ministério da Defesa (MDN) uma modernização adicional para os sistemas acústicos da frota CUP+, no valor de 6,265M EUR, não havendo contudo informação se esta modernização será incorporada na lista de trabalhos a realizar nas aeronaves induzidas após a aprovação das verbas, ou se pelo contrário todas as aeronaves serão alvo de trabalhos dedicados para esta modernização. A única informação relevante que se pode extrair do Despacho do MDN acerca da calendarização, é de que as verbas correspondentes e provenientes da Lei de Programação Militar, deverão ser executadas até 2026.

Foto de P-3C CUP+ da FAP presumivelmente no Canadá, partilhada na conta da Esquadra 601 na rede Instagram

Ao que tudo indica a próxima aeronave dos "Lobos" será o n/c 14807, que foi captado pela conta LP-ADSB da rede X, no radar virtual ADSB- Exchange, na chegada às instalações da General Dynamics Mission Systems-Canada, em Halifax, no passado dia 8 de janeiro de 2025, apesar da rota e a identificação da aeronave não serem absolutamente claras.


Já da frota de P-3C CUP-II recentemente adquirida à Marinha Alemã, das quais a FAP recebeu quatro, de um total de seis, mas que incluem kits de modernização MLU (com reforços estruturais para as asas), também não há qualquer informação sobre calendarização de trabalhos, ou da operacionalização das aeronaves.

A Esquadra 601 deverá passar a contar com uma frota total de onze P-3 Orion até ao final de 2025, sendo cinco CUP+ e seis CUP-II, com a missão primária  de executar operações de patrulhamento marítimo e de deteção, localização, seguimento e ataque a submarinos e meios de superfície, e como missão secundária, executar operações de busca e salvamento e de minagem.



domingo, 19 de janeiro de 2025

FORÇA AÉREA PORTUGUESA MONITORIZA NAVIO HIDROGRÁFICO RUSSO [M2579 - 03/2025]

Navio hidrográfico russo na ZEE portuguesa     Foto: FAP
Um navio hidrográfico da Federação Russa foi detetado e monitorizado no dia de ontem, 18 de janeiro de 2024, por uma aeronave da Força Aérea Portuguesa (FAP), que realizava uma missão de rotina, com o objetivo de assegurar a integridade e proteção do espaço marítimo português.

O navio em causa, pertencente ao programa russo de pesquisa de infraestruturas críticas submarinas, como cabos submarinos, e com capacidade de operar veículos submersíveis para exploração marinha a grandes profundidades. encontrava-se a atravessar a Zona Económica Exclusiva portuguesa, segundo informou a FAP em nota de imprensa, juntamente com algumas fotos do navio em questão, captadas durante a missão.

Depois de vários incidentes no Mar Báltico com cabos de telecomunicações submarinos, estas infraestruturas são uma preocupação na ordem do dia, nos países ocidentais. No final de 2024, e já em 2025, o número de navios russos ou chineses monitorizados na ZEE portuguesa foi especialmente alto, sendo desta vez especialmente preocupante, por tratar-se de um navio oceanográfico.

A Força Aérea não revelou no entanto, qual o tipo de aeronave que se encontrava a realizar este tipo de missão que "vem reforçar a vigilância do espaço estratégico de interesse nacional, garantindo uma presença constante e atenta às movimentações na área de interesse nacional e contribuindo para a segurança e proteção das águas sob responsabilidade portuguesa". Embora seja provável trata-se de um P-3C Orion, cuja missão primária é o patrulhamento marítimo, as frotas C295M e EH101 Merlin também dispõem dessa capacidade.






quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

SIMULADOR DO KC-390 AVANÇA EM BEJA [M2578 - 02/2025]

Simulador de voo do KC-390       Foto; FAP

Tal como o Pássaro de Ferro ontem partilhou nas redes sociais, a Força Aérea Portuguesa (FAP) já recebeu os últimos componentes que vão permitir a edificação do simulador do avião KC-390 da Força Aérea, a ser instalado na Base Aérea N.º 11, em Beja, nas instalações da Esquadra 506 – “Rinocerontes”.

A notícia avançada em primeira mão pelo Lidador Notícias no passado dia 14 de janeiro, foi hoje confirmada pela FAP em nota de imprensa, que avança ainda que a montagem dos componentes prossegue agora, prevendo-se que os trabalhos estejam concluídos até ao final do primeiro trimestre de 2025. Segue-se depois um período de aceitação, estimando-se que o simulador esteja totalmente pronto a operar em junho.

Últimos componentes para o simulador de voo do KC-390, recebidos NA BA11 no dia 14 de janeiro   Foto: FAP

Este simulador, fabricado pela alemã Rheinmetall, é uma autêntica réplica do cockpit do avião KC-390, o que garante que a quase totalidade dos voos de treino e de qualificação possam ser realizados sem recurso às aeronaves, o que permitirá uma maior racionalização de recursos, nomeadamente com combustível e menor desgaste das aeronaves, bem como uma maior disponibilidade para a concretização de missões operacionais e de treino, para além dos benefícios ambientais. O simulador permitirá treinar as tripulações de KC-390 em todas as circunstâncias, com relevância para as simulações de emergências.

O Estado Português adquiriu em 2019 cinco aeronaves KC-390 e um simulador, tendo o primeiro avião sido entregue à Força Aérea Portuguesa em 19 de outubro de 2023 e o segundo em 28 de junho de 2024. Desde então, já realizou cerca de 1500 horas de voo, com destaque para transportes médicos e logísticos, como foi o caso dos três helicópteros UH-60 Black Hawk. 

O KC-390 n/c 26901 foi o primeiro recebido pela Esquadra 506

O KC-390, produzido pela Embraer, equipa a Esquadra 506 – "Rinocerontes" e é uma aeronave de alcance intercontinental, dotado de capacidades multimissão e capaz de executar operações estratégicas e táticas, civis e militares, desde o transporte de tropas, veículos e carga paletizada, lançamento de paraquedistas e carga, transportes aeromédicos, missões de busca e salvamento, reabastecimento aéreo e combate a incêndios florestais.



sábado, 4 de janeiro de 2025

FORÇA AÉREA MONITORIZA SUBMARINO RUSSO [M2577 - 01/2025]

 
Submarino de ataque da Marinha Russa da classe Novorossiysk em atravessamento da ZEE portuguesa a 3 de janeiro de 2025     Foto: FAP

A Força Aérea Portuguesa identificou e monitorizou um submarino da classe Novorossiysk, da Marinha da Federação Russa, enquanto cruzava a Zona Económica Exclusiva continental em direção ao Cabo Finisterra. 

A missão foi realizada durante o dia de ontem, 3 de janeiro de 2025, apenas um dia depois de realizar missão idêntica com três navios de superfície, igualmente de bandeira russa, no caso o petroleiro General Skobelev e os cargueiros Baltic Leader e Sparta II.

Cargueiro Baltic Leader     Foto: FAP

Cargueiro Sparta II    Foto: FAP

Petroleiro General Skobelev    Foto: FAP  

Já o final de 2024 foi particularmente intenso em missões desta tipologia, com a monitorização de navios provenientes de países não pertencentes à NATO, principalmente de origem russa, mas também chineses, como o graneleiro Yi Peng 3, suspeito de ter danificado dois cabos submarinos no Mar Báltico.

O navio Yi Peng 3 chinês foi suspeito de estar associado ao corte de dois cabos submarinos de telecomunicações no Mar Báltico, poucos dias antes de cruzar a ZEE portuguesa  Foto: FAP

Um dos navios russos monitorizado durante dezembro, o cargueiro Ursa Major, viria mesmo a afundar-se no Mediterrâneo em circunstâncias pouco claras, escassos dias depois de ter cruzado a ZEE portuguesa. 

O cargueiro Ursa Major, monitorizado na região dos Açores a 19 e dezembro, viria a afundar-se no Mediterrâneo a 24 de dezembro após uma explosão na casa das máquinas      Foto: FAP



Ao todo, a Força Aérea Portuguesa (FAP) realizou 29 missões de monitorização de embarcações não-NATO em 2024, envolvendo 44 embarcações russas, três chinesas e uma indiana. Quando estão decorridos apenas quatro dias em 2025, foram já realizadas duas missões, para um total de 4 embarcações russas.

Apesar de normalmente não revelado pela FAP, nas notas de imprensa relativas ao tema, estas missões de patrulhamento e vigilância marítima são realizadas normalmente pelos P-3 Orion da Esquadra 601 - Lobos, embora também possam ser desempenhadas por aeronaves C295M na versão VIMAR ou mesmo os helicópteros EH101 Merlin.

Principais cabos submarinos de telecomunicações na costa portuguesa    Imagem: Telegeography

Entre outras infraestruturas importantes, a segurança dos cabos submarinos de telecomunicações, são uma preocupação constante nos dias de hoje.



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